O louco antiantológico

Data 26/07/2010 18:07:25 | Tópico: Poemas

Eu tenho certeza que nunca vou fazer um verso famoso.

Desses que entram para a História
e para o coração das pessoas.

Desses que tantos poetas
fizeram aos montes e são tantos
e são lembrados nas situações em que lhes cabe ser lembrados.

Desses que dizem respeito a algo
que é preciso ser dito com urgência.

Desses que têm a urgência
das “coisas abençoadas por Deus” reveladas
pelo lirismo de Carlos Drummond de Andrade.

Desses que têm o impacto
das coisas que não encontram
o caminho do desdizer.

À guisa dos versos de Camões
sobre o amor ou de Neruda
sobre a mesma dor.

Eu tenho certeza que nunca
vou fazer
e nem quero.

O dia que, no Céu ou no Inferno,
puder eu sentar e conversar
com um desses anjos
que são os poetas dos versos de antologia
vou falar, com verdade infundada,
o que eu tenho pra dizer
não sem antes agradecer
a beleza que deles nos foi emprestada.

Mas vou dizer o que penso
e que é demasiado duro
acerca do orgulho tolo
que deve ter este ou aquele ou todo
autor imenso.

Vou falar
sem me arrepender
tudo o que penso e valorizo
de forma mordaz, com um sorriso
cínico e sem rimar, mas confiante
e clínico...

Vou falar de tudo um pouco:
Que nunca escrevi um belo verso
mas que mais vale ser um louco
e talvez, quem sabe, também perverso
do que viver a angústia e a inocência
do reconhecimento.



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