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 SONETOS FEITOS EM 26/07/2010Data 26/07/2010 20:36:46 | Tópico: Sonetos
 
 |  | 1 Por que não sei falar dessa maneira,
 Do jeito que tu falas ou até
 Ousando no caminho por ter fé
 No amor sem ser a sorte corriqueira,
 O tanto que ser ou mais não queira,
 O rumo se desvia e sei quem é
 Traçando outra vertente sigo a pé
 Minha alma se cansando, esta estradeira.
 Procuro algum alento ou mesmo um
 rumo,
 E quando sem segredo desaprumo
 Meu passo em discordância gera o fim,
 Escapo vez por outra da armadilha,
 Mas quando a sorte ausente ou
 maltrapilha
 O sonho faz estragos dentro em mim.
 2
 Usando os verbos vagos, virulentos,
 Ou mesmo alguns princípios discordantes
 Enquanto qualquer brilho me garantes
 Meus dias não seriam mais atentos,
 Esqueço da verdade seus proventos
 E bebo tais sutis e alucinantes
 Caminhos entre tantos, por instantes
 Exposto aos mais terríveis, toscos ventos.
 Encontro esta verdade quando busco
 E tanto poderia em lusco fusco
 Apenas discernir um verso a mais,
 Mas tramo inconseqüente outra desdita
 E quando qualquer sonho necessita
 Os dias são deveras mais banais.
 3
 Ao Poeta do Amor
 Estava folheando algumas páginas
 Leituras tantas de ofertas variadas
 Poemas, crônicas, contos, diversos
 Estacionei encantada nos teus versos
 Dezenas entrando como enxurrada
 Dum repentista de arte aprimorada
 Amor, emoção enviando na palavra
 Talento nato, herança do pai, a lavra
 Peguei papel e tinta no teclado
 Rabiscos enviei simples sem rima
 Aos poucos lendo tudo ritmado
 Aprimorei os versos e fiz-me sina
 No mestre do soneto do amor e canto
 Mais de quinhentos duetos de encanto
 sogueira
 Feliz dia do escritor Marcos Loures
 Obrigada pela parceria
 O quanto de um amor gera em ternura
 O sonho mais audaz, ou mesmo quando
 A vida noutra face se mostrando
 Tramando o que decerto se procura,
 Encontro dos dilemas minha cura
 E tento vez por outra me enganando,
 Um caminhar em paz suavizando
 O que esta vida traz em amargura.
 O verso permitindo refazer
 Em meio ao mais terrível desprazer
 O encanto em madrigais de antanho e
 agora.
 Diversas serenatas dentro da alma,
 A poesia sim, tanto me acalma,
 Até quando a verdade vil devora.
 4
 Fui embora, mas voltei
 Meu lugar é do teu lado
 Sem você nada mais sei
 Coração fica amuado.
 Esse gosto de pecado
 Essa gostosa euforia
 Só junto a ti, meu amado.
 Certo era, eu voltaria!
 Ana Maria Gazzaneo
 Um sonho se completa noutro sonho
 Perpetuando a mágica da vida,
 E quando se percebe a despedia,
 O dia se mostrar mais enfadonho,
 Um novo amanhecer; quero e proponho
 Ousando na palavra assim urdida,
 E tendo esta certeza concebida
 Num ato mais feliz, em céu risonho.
 Prenunciando o gozo mais gentil,
 Além do que deveras se previu,
 A vida renascendo em cor sublime,
 Um ermo caminhar por certo tempo
 Embora gere muito contratempo,
 Na bela poesia se redime.
 5
 Sim,
 é apenas minha lágrima
 escorrendo pelo rosto,
 a limpar esta mágoa ...
 (Olhos de Boneca)
 Deságua em cristalina e dolorida
 A fonte em farto brilho, dor e pranto,
 Enquanto novo tempo eu te garanto
 Renasce esta esperança em nossa vida,
 A mágoa tantas vezes pressentida,
 E nela se transforma em vão quebranto,
 Mas quando esta quimera enfim espanto,
 A sorte se presume ressurgida.
 Qual fosse um diamante, o lacrimejo
 Traduz a plenitude quando o vejo
 Do amor imaculado e mais perfeito,
 Superna realidade após o medo,
 A ti no mesmo tom eu me concedo
 E neste raro amor, em paz me deito.
 6
 No caminho colhemos frutos
 Suculentos e doces
 A saciar nossa fome e sede,
 Sou tua fruta saborosa
 Suga-me...Devora-me...
 Regina Costa
 Desfrutando do imenso e raro gozo
 Ascendo a mais sublime perfeição,
 Meu corpo no teu corpo em provisão
 Momento sem igual e majestoso,
 Exprimo com ternura o caprichoso
 Caminho pelo qual dias virão
 Traçando a mais perfeita direção
 Mesmo quando se vê tão tortuoso.
 Podendo então sorver cada momento
 E nele com fartura me alimento,
 Cerzindo o bem supremo que extasia
 Hedônicos delírios percorridos,
 E neles exaltamos os sentidos
 Orgástico delírio em fantasia.
 7
 Flauta Doce...
 Olhei com fascínio...
 Pupila dilatada,
 Pele úmida e eriçada,
 Completamente hipnotizada,
 Extasiada...
 Grandiosa Obra de Arte,
 Presente da natureza!
 Diante dos olhos
 Ereta, gotejando e ávida;
 Enquanto contemplava,
 Desejava...
 Desejava...
 Desejava...
 Pude sentir
 A intensidade, o volume e a amplitude;
 Senti...
 A boca se aproximar, lentamente,
 Os lábios encostar, ternamente,
 Emudecida fiquei...
 A provar o sabor,
 Deliciando-me!
 Intermitentemente...
 Traduzi tua partitura integralmente,
 Entoando o mais belo ato,
 Melodia e harmonia,
 Espaço intermediário,
 Entre
 O real e o simbólico,
 O possível e o imaginado,
 Constelado no céu da boca,
 Ressonando uma música
 Tão santa quanto profana,
 Sinfonia inspirada em tua
 Flauta Mágica,
 Arte dos sons,
 Lirismo derramado...
 REGINA COSTA
 Desvendo com suave mansidão,
 Entranhas delicadas, belas locas,
 E quando assim desnuda me provocas
 Sabendo do final em erupção,
 Ao mesmo tempo bebo esta amplidão
 Enquanto o barco adentra em meio às
 rocas
 E ancora no delírio destas tocas
 Nesta úmida loucura a sensação.
 Espasmos pós espasmos, contraindo
 Num êxtase sobejo, doce e lindo,
 Arfante caminhada rumo ao Éden
 E os gozos quando gozos mais concedem
 Perpetuando assim neste sacrário
 Além de qualquer tom imaginário.
 8
 É que perdi meu tempo, uma bandeira,
 Nos ermos mais profundos e sombrios,
 E quando aceito assim os desafios
 A vida noutra face já se esgueira,
 E quanto mais eu sonhe ou mesmo queira
 Os olhos percorrendo tais vazios,
 Esboçam reações, adentram rios,
 E tentam cada queda ou corredeira,
 A sorte na verdade contradiz
 E gera ao mesmo tempo a cicatriz
 Que trago tatuada no meu peito,
 Meu verso em discordância vez em
 quando
 Noutro caminhar se demonstrando,
 Gestando este vazio quando eu deito.
 9
 Desfraldada por sobre os excrementos
 A sorte desmembrando passos duros
 E quanto mais entranho em tais apuros,
 Os dias ditam velhos sofrimentos,
 E neles outros tantos negam ventos
 Os sonhos não serão sequer maduros,
 Meus passos noutro escasso tentam
 muros,
 Porém enfrentam dores, desalentos.
 Erguer o meu olhar e ver além
 Do quanto muito pouco se retém
 Na vida deste mero sonhador,
 Presumo cada traço do que outrora
 Pudesse e na verdade me apavora
 Herdando dos meus sonhos, desamor.
 10
 De quem tentou ferir sem dar sequer
 A menor chance mesmo de defesa,
 Da vida sendo assim, a mera presa,
 O corpo em desalento se aprouver
 E venha com firmeza o que vier,
 Já não mais gerará qualquer surpresa,
 Porquanto minha vida, dura e tesa,
 Não sabe do destino o que se quer.
 Ressalto em descaminho um passo
 quando
 O mundo em terremotos desabando
 Desabonando o sonho de quem tenta
 Singrar mesmo oceanos mais pacíficos,
 E os dias não serão mais tão magníficos
 Restando para mim dor e tormenta.
 11
 A quem amara, em todos os momentos
 Independentemente do que tanto
 A vida se mostrara e não garanto
 Sequer menores sonhos, provimentos
 Assim ao erigir mais pavimentos
 Aonde com certeza o desencanto
 Penetra e deixa à vista em todo canto
 Somente os meus terríveis sofrimentos,
 Amar e ter talvez alguma chance,
 Enquanto em teimosia já me lance
 Sem ter sequer aporte ou nada enfim;
 O manto mais escuro da saudade
 Gerando este temor que desagrade
 O que inda resta vivo dentro em mim.
 12
 A vida me ensinando a cada dia
 O quanto posso ou não tentar ainda
 Depois da fantasia agora finda,
 O sonho sem defesas não recria
 Um mundo feito em paz e em harmonia
 Ao qual a própria sorte em paz já brinda,
 No tanto que desejo e sei ainda
 Maior esta vontade em alegria.
 Utópicas montanhas, cordilheiras
 Demonstram na verdade o que mais
 queiras,
 Porém a vida dita em precipícios
 As quedas mais temidas e ferozes,
 E somos com certeza tais algozes
 Na imensa podridão de nossos vícios.
 13
 Eu vou correndo sempre, mas por quê?
 Já não consigo mais sentir a sorte
 Que vez em quando vem e até conforte
 Enquanto a realidade nada vê,
 Quem tanto se procura e já não crê
 Apenas se expressando em dor e morte,
 Desconhecendo algum- se existe- norte
 Olhando para o nada se revê.
 Especular caminho em ostracismo,
 Ainda sobre rocas, medos; cismo
 Tentando ter ao menos um destino,
 Esbarro nas arestas pontiagudas
 E quando necessito; não ajudas,
 Neste vazio; opaco, eu me azucrino.
 14
 Quis tragar melodias e senzalas,
 Levando para frente esta promessa,
 Ao quanto posso ser e se endereça
 Ainda quando aquém tu já te calas,
 Os ócios mais tenazes; avassalas
 E nisto a vida mostra a mesma pressa,
 No resto que inda tenho recomeça
 Tentando perceber supernas galas;
 E graciosamente num sorriso,
 No sonho mais tranqüilo eu me matizo
 E vejo algum sinal de vida enquanto
 O passo cambaleia e se enreda
 Causando da esperança a dura queda;
 Mas quando caio em mim; eu desencanto.
 15
 Não pude mais conter esse chicote
 Que ainda vergastando as minhas costas
 Apresentaste assim como respostas,
 Atocaiada fera, vil coiote,
 Aonde quer que o sonho teime e bote
 Já não aceitas mais velhas propostas
 E as cicatrizes tantas; vejo expostas
 Mesmo que ninguém sinta e sequer note.
 Aprendo com a farpa e com a adaga
 E quando esta mortalha ora me afaga
 A frialdade invade o meu outono,
 Enquanto em tais arestas teimo e piso,
 Minha alma se inundando em tal granizo,
 Um gélido delírio em abandono.
 16
 Mas as costas lanhadas onde sinto
 As tantas dores toscas de quem vendo
 A vida como fosse algum remendo,
 Um passo sem destino cego instinto
 Cumprindo o meu caminho, quase extinto
 No quanto quis um dia me perdendo,
 O manto se destroça e não desvendo
 Sequer algum traçado e ousado eu minto.
 Presumo o fim da história em tal sangria,
 O corte me estraçalha dia a dia
 A pútrida verdade não sonega
 Excêntrico e tão pálido delírio
 Transcende ao próprio dolo e em tal
 martírio
 Minha alma se expressando muda e cega.
 17
 Não me deixam sinais ou cicatrizes
 Os tantos e diversos vis caminhos
 Imerso entre meus ermos mais daninhos
 E neles tantas vezes contradizes
 Os sonhos que pudessem ser felizes,
 Mas sei quando se fazem tão
 mesquinhos,
 Já não comporta em mim senão espinhos
 Agrisalhando a sorte em seus matizes.
 Esboço reações, um ledo engano,
 E cada vez que tento mais me dano,
 Espúria criatura ora se afasta,
 Nos íntimos momentos solitários
 Apenas os demônios solidários
 Desta alma tão cansada quão nefasta.
 18
 Traduzindo seara tão diversa
 Daquela que pensara ser só minha,
 O quanto deste nada me convinha,
 Deixando a vida amarga e mais perversa
 Uma esperança tosca se dispersa
 Enquanto no vazio; alma se alinha
 E tendo esta certeza má, daninha
 Quem vê cena tão torpe; desconversa.
 Escracho pária eu sigo em noite escusa,
 Somente este fantoche agora cruza
 Com vermes tão iguais no mesmo esgoto,
 E o pântano que habita dentro em mim,
 Tramando cada passo até o fim,
 Demonstra o caminhar esparso e roto.
 19
 Em busca da saída; nada vejo
 Somente os meus demônios corriqueiros,
 E tanto são leais e companheiros
 Cobrindo com as garras meu desejo,
 A cada passo eu sinto o mesmo ensejo,
 E os dias são diversos espinheiros,
 Os passos não prosseguem mais ligeiros
 Nem mesmo num vão verso inda verdejo.
 Esparsas fantasias já são mortas,
 Fechando para mim últimas portas,
 O fim se aproximando em puro tédio,
 A morte talvez seja um bom remédio,
 E embora por estradas vagas, tortas
 Eu finalmente sinto o seu assédio.
 20
 Talvez queiras viver felicidades;
 Lacaio desta turva negritude,
 Minha alma na verdade não se ilude.
 Ainda que esperanças (tola); brades
 Viver as mais cruéis fatalidades
 Morrendo a cada passo onde transmude
 Horrenda e caricata juventude
 Aguarda atrás das finas, frias grades.
 Nublada tarde diz de um ego tolo,
 Meu sonho sem local aonde pô-lo
 Esbarra nos heréticos esgarces,
 Esgares por resposta? Não aceito.
 Eternamente eu sigo insatisfeito,
 Ainda quando o tédio em vão disfarces.
 21
 Vitais nocivas fraquezas
 Onde vejo se espelhando
 O retrato outrora brando,
 Mas imerso em tuas presas,
 Qual repasto sobre as mesas,
 O meu tempo se esgotando
 Pouco vou me devotando
 Tento contra as correntezas
 Impossível caminhar
 E tentar qualquer lugar
 E viver em paz, somente.
 Neste olhar indiferente
 De quem tanto quis amar,
 Vejo a fúria francamente.
 22
 Fosse este ato de furor
 Numa atroz sinceridade,
 Outra vez mais me degrade
 Esta imagem furta-cor
 Se eu pudesse sonhador
 Conhecer a liberdade
 Reviver a claridade
 Onde existe o dissabor,
 Sem algemas nem correntes,
 E talvez quando pressentes
 O final, a derrocada,
 O meu passo sem valia
 Traduzindo o dia a dia,
 Trague sempre o mesmo nada.
 23
 Na mistura mais sagaz
 Entre tantas que pudesse,
 Não conheço uma benesse
 Que este desamor nos traz,
 Ao viver e crer na paz,
 O meu mundo agora tece
 Outro rumo e já se esquece
 Do passado tão mordaz,
 Passo novo em nova vida,
 Num olhar sem despedida,
 Urdo o tempo que vier,
 E bendigo a minha sorte,
 Pois em ti a luz conforte,
 Já não temor sequer.
 24
 Tantas sombras eu andei
 Procurando algum afeto,
 O meu rumo se completo
 Negaria qualquer lei,
 E se um dia quis ser rei,
 Hoje apenas me deleto
 E talvez um novo feto
 Noutro tempo nascerei.
 Redimindo cada engano,
 Se deveras eu me dano
 Quem me dera se talvez
 Noutra face, noutra vida,
 Encontrasse uma saída
 Que decerto se desfez.
 25
 Adentrando o pensamento
 Qual falena busca a luz
 A verdade reproduz
 No meu passo outro momento
 Onde ainda teimo e tento,
 Mas o farto não conduz
 E se tanto eu já me opus
 Hoje resto, um excremento.
 Navegasse em mar tranqüilo,
 Mas decerto hoje desfilo
 Entre as águas turbulentas,
 Ao gerar em mim a ponte,
 Novamente desaponte
 Quando as ondas; mais aumentas.
 26
 Às avessas renascendo
 O que outrora fora paz
 Navegando em mar mordaz
 A esperança é mero adendo,
 E tão pouco recolhendo
 Deste tanto que ora traz
 O caminho mais audaz
 Entre tantos, revivendo
 Representas o futuro
 Quanto mais em tempo escuro,
 Teu olhar farto irradia,
 Num prelúdio em melodia,
 Entoando o que procuro
 Vejo em ti; sabedoria.
 27
 Nesta vida já sem-nexo
 O meu canto se esvaindo
 Onde quis, outrora lindo
 Um caminho mais complexo,
 E reparo, tão perplexo
 O desejo se extraindo
 De tão pouco resumindo
 Um banal, torpe reflexo.
 Na expressão tão mais comum
 Na verdade sou nenhum
 Onde quis ser talvez algo,
 O meu canto lacrimeja
 E deveras malfazeja
 A minha alma agora salgo.
 28
 Nestas lâmpadas eu tento
 O meu guia onde não sigo,
 E carrego o desabrigo
 Onde encontro o desalento,
 O meu manto em tal perigo,
 Noutro passo mais sangrento,
 Quando muito virulento
 Farsas; visto. Fato antigo.
 Vasculhando estas gavetas
 Onde agora tu prometas,
 Olhos fixos no passado,
 Mas encontro algum sinal
 Do que fora bem ou mal
 Vejo tudo embolorado.
 29
 Num cambaleante passo
 Tento às vezes prosseguir
 E não tendo mais porvir
 Em vazios me desgraço,
 Onde outrora quis ou faço
 O meu verso a conduzir
 A verdade sem sentir
 O destroço a cada espaço.
 Laços rotos, abandono,
 No final me desabono
 E me perco totalmente,
 Poderia num instante,
 Mas se o nada me garante,
 Nem o todo ora desmente.
 30
 Quando a vida volve a ser
 Tão diversa do que um dia
 Muitas vezes bem queria
 Quem se fez em padecer,
 Resumindo o apodrecer
 Em tão torpe vilania,
 Procurando uma harmonia,
 A mortalha eu sei tecer,
 Vagamente lembro quando
 O meu mundo transmudando
 Noutra face tão nefasta,
 O meu passo sem destino,
 Onde quis ser um menino,
 A rapina hoje repasta.
 31
 Um deserto que percorro
 Quando vejo em meu olhar
 Outro igual a reparar
 Sem saber sequer socorro,
 Como fosse já sem forro
 Numa chuva a se mostrar
 Quanto é frágil desvendar
 Dos delírios; cada jorro.
 Numa farta hipocrisia,
 Teu olhar me mostraria
 A face real da vida,
 Onde o início precipita
 Senda outrora mais bonita
 Hoje apenas vã; perdida.
 32
 Meu olhar quando tateia
 E procura cada espaço,
 Deste todo ainda baço,
 Pelo menos devaneia,
 Lua nova, antiga ou cheia
 Descansando em seu regaço
 Refazendo cada passo,
 Onde o nada inda permeia,
 Pirilampos dentro em mim,
 Percorrendo até o fim
 O cenário em trevas feito,
 Quando sinto a tua pele,
 Ao delírio me compele,
 Mas, sozinho hoje eu me deito.
 33
 Onde quis seda e veludo,
 Pedregulhos simplesmente,
 O caminho não desmente
 Mesmo quando em vão me iludo,
 Neste fátuo vejo tudo
 E se tento estar contente,
 O delírio impertinente
 Deixa o coração mais mudo.
 Arremedos de ilusão
 Onde outrora quis paixão
 Tão somente este vazio,
 Meu olhar se perde quando
 Outro rumo desenhando
 Muda a foz do antigo rio.
 34
 Minha vista tão cansada,
 Um presbíope ancião
 Procurando a direção
 Encontrando o mesmo nada,
 A saudade desfraldada
 Quando viva sensação
 De momentos que virão,
 Mas ao fim, a debandada.
 Resumindo este universo
 Onde à toa cismo e verso,
 Esperando algum alento,
 Num cenário agora baço,
 Sem noção de tempo/espaço,
 Caminhar; ainda tento.
 35
 Um oásis poderia
 Transformar este cenário
 Do deserto imaginário
 Uma nova fantasia,
 Mas a vida negaria,
 Vendo em mim um adversário
 Tão sutil, desnecessário,
 Resumindo em ironia,
 Este vândalo caminho
 Onde sândalo quisera
 Presumindo a dura fera,
 Do não ser eu me avizinho,
 E mergulho sem defesas,
 Entre as garras, frias presas.
 36
 A minha alma não suspeita
 Desta queda inevitável
 Onde quis um solo arável
 O vazio vira seita,
 Quando o fim não mais se aceita
 Outro tétrico e intragável,
 Mesmo até já descartável
 Toma a cena e se deleita.
 Restaurar o que está morto,
 Renascer após o aborto,
 Mero feto em desafeto,
 No que tange ao ser poeta,
 O meu verso se repleta
 Onde em paz eu me deleto.
 37
 O caminho sendo incerto
 E deveras mais sofrido
 Já não faz qualquer sentido
 Quando o rumo, enfim, deserto,
 Mas se tanto inda desperto
 Neste sonho feito olvido,
 Outro fato consumido,
 Não concebo e nem me alerto,
 Ao quitar o que persiste,
 Num delírio tosco e triste
 Eu deveras me esvaíra,
 Todo o sonho fora em vão,
 Outros dias mostrarão
 Cada verso foi mentira.
 38
 Uma luz já bastaria
 A quem tanto quis promessas
 E sem ela tu tropeças
 Mesmo no clarão do dia,
 Onde há sorte a ventania
 Expressando em medos, pressas,
 Caminhar ora às avessas
 Nova dita não traria.
 Esgotando cada chance
 Ao vazio já se lance,
 O meu passo mais sutil,
 Num errático delírio,
 Comungando em tal martírio
 O que outrora enfim se viu.
 39
 Concebia a caravana
 Em tropel, corcéis diversos,
 E vagando em universos
 Onde a sorte não profana,
 A minha alma já se engana,
 E também errôneos versos,
 Quando espúrios e submersos
 A matilha faz campana.
 Campanários da ilusão
 Dobram sinos por quem ama,
 Derradeira, ultima chama
 E mais nada resta após.
 Sendo assim, mergulho e ledo
 Noutra forma não procedo,
 Só vislumbro falsos nós.
 40
 Quando em súbita visão
 Expressaras com temor,
 O que tanto em desamor
 Aprouvera desde então,
 Resolvendo este senão
 Tento apenas recompor,
 O meu mundo em clara cor,
 Quando bebo escuridão,
 Aversões aos meus engodos,
 Adentrar por vários lodos,
 Revelando este ar sombrio,
 Um errático e medonho,
 Quando às vezes teimo e sonho,
 Meramente desafio.
 41
 Neste tempo sem espaço
 Outro tempo poderia
 Revelando à luz do dia
 O que à noite já desfaço,
 Temporal que em eu traço,
 Tempestade em euforia
 Nesta atemporal teria
 Contratempo passo a passo,
 Num espaço tão diverso
 No compasso aonde verso
 Faço errático poema,
 Mas num traço discordante
 Lassos dias, num instante
 Rompo laços, tiro a algema.
 42
 No vértice deste sonho
 Um momento mais cruel,
 Ao alçar longínquo céu,
 Outro véu; em mim componho
 Um corcel claro e medonho,
 Ouço a voz e sorvo em fel,
 O meu passo mais fiel
 Calabouço eu não reponho.
 Extraindo cada ponto
 Pouco a pouco enfim me apronto
 E penetro esta amplidão,
 Vago sem saber se há rumo,
 E deveras se me esfumo,
 Outros mundos surgirão.
 43
 Ao descer nem sei escada
 Nem por onde nem se quando
 Outro sonho deformando,
 Num momento sem parada
 A minha alma alvoroçada
 Ou no tétrico e nefando
 Quanto mais se estou nevando
 Preparando outra geada.
 Esboçando em variáveis
 Os meus ermos intragáveis,
 Explosões em vendavais,
 Não se vendo mais estorvo,
 Alimento em mim o corvo
 Neste etéreo: nunca mais.
 44
 Já não mais me encontrarei
 Nem procuro algum detalhe
 Onde a sorte me retalhe
 Mude logo a senda e grei,
 Tanto tempo eu esperei
 Na verdade cada entalhe
 Permitindo o que se espalhe
 Dominando fosse lei,
 O resumo em fumo e luz
 Ao vazio me conduz
 E não deixa sequer rastro,
 Vagamente sou poeta,
 Noutra cena se completa
 O cenário onde me alastro.
 45
 O que fora e não se faz
 Ascendendo ao mais sobejo,
 Ao final nada mais vejo,
 Queda dura e tão mordaz,
 O cenário se sagaz
 Impedindo algum desejo
 Resumindo em tal negrejo
 Este passo outrora em paz.
 Reparando a cada ausência
 O senão em anuência
 Afluências no estuário
 Onde a sorte se transporta
 Ao abrir do mar a porta,
 Imagino-me um corsário.
 46
 Em diversas sensações
 Outras tantas; imagino
 E se tento um cristalino
 Caminhar onde me expões
 As temidas ilusões,
 Ou meu verso em desatino,
 Rebrilhando, perco o tino
 E não tenho outras opções,
 Sigo espástico e me calo,
 Quando deste tom vassalo
 Expressões dispersas; bebo,
 Do remédio em amor próprio,
 Um caminho vago e impróprio,
 Meramente algum placebo.
 47
 Já não posso me incluir
 Nesta cena aonde outrora,
 O caminho desancora
 Degenera algum porvir,
 E se tento presumir
 O que possa ou já devora,
 O saber sem ter nem hora
 Se assenhora do existir.
 Esboçando um passo além
 Do que tange ou me convém,
 Tinjo em rubros os meus dias,
 Viperina sensação
 De uma espreita em precisão,
 Com furores me trarias.
 48
 Se já não bastasse o fato
 De não ter e não saber
 O que possa acontecer
 Quando a morte; em mim resgato,
 Ao sentir farto maltrato
 De quem tanto quis prazer,
 Passo mesmo a perceber
 Mundo atroz temido ingrato;
 Cinzelando novo sonho,
 Mergulhando desde antanho
 Nesta insânia, nada resta,
 Perecíveis ermos vãos
 Os meus passos tecem nãos
 Do futuro? Sequer fresta.
 49
 Sem haver qualquer traçado
 Dentro ou mesmo fora em mim,
 Desafeto trago ao fim
 Do caminho mal tramado,
 Ermo passo, desolado,
 Chego ao trágico que enfim
 Acendendo este estopim,
 Restaurando o meu legado.
 Esgarçando cada fato,
 No puído me retrato
 Sem resgates, sou retalho,
 Quando busco algum instante
 Tão diverso doravante,
 No vazio então me espalho.
 50
 Sem noção sequer do que
 Poderia se diverso,
 O meu canto ora disperso
 E deveras não se vê
 Nem tampouco o que se crê
 Transformando o mais diverso
 Ou gestando este universo
 Onde a morte se prevê.
 Caos em mim, mera constância
 Outro tanto em vaga estância
 Estancando esta sangria,
 Mas no fundo, problemático,
 O meu canto tão errático
 Não conhece a poesia.
 51
 De ponta-cabeça o mundo
 Onde a voz já não se escuta
 A verdade sendo astuta
 No passado onde me inundo
 Ou no quanto me aprofundo
 Gera a força atroz e bruta,
 E se tanto inda reluta,
 Ermo sonho, um vagabundo.
 Represando o que pudesse
 Na certeza da benesse,
 Outra luz se entornaria,
 Mas resumo cada instância
 No vazio da inconstância
 Deixo ao canto uma agonia.
 52
 Se eu pudesse me mover
 Ou talvez até pensar
 No caminho a desvendar
 Noutro passo esmorecer,
 E quem sabe recolher
 Cada traço do luar
 E bebendo inteiro o mar,
 Salgando meu bem querer.
 Lastimando cada queda
 Onde o nada ora envereda
 E domina por inteiro,
 Ouso até buscar quem trace
 No meu mundo nova face,
 Num cenário costumeiro.
 53
 Já não sei sequer meu nome
 E quem sabe não faria
 Nem tampouco em ironia,
 Furioso mar consome
 Quem deveras tenta e some
 O mergulho na agonia
 Produzindo a alegoria,
 Mas não mata a minha fome.
 Presunçoso? Não, somente
 Do caminho que se ausente
 Feito um pária sem destino,
 Desenganos que acumulo
 O meu passo não é chulo
 Nem ao vago eu me destino.
 54
 Tal qual fosse um pendular
 Desengano em tons diversos
 Vou ousando nestes versos
 Tento até qualquer lugar,
 Onde eu possa desvendar
 O que trazem universos
 Se complexos e perversos
 Tons submersos ao luar.
 Sem respaldo nada faço,
 Erros tantos, cada passo
 Desviado sem ter nexo,
 E medonha garatuja
 Face torpe, tosca e suja
 Do meu ego algum reflexo.
 55
 Morto o corpo jaz na sala
 E não vejo algum velório
 Onde tanto fui simplório
 Quando a voz, em paz se cala.
 Alma tosca e até vassala
 Num caminho merencório,
 Percorrendo o mar inglório
 Mergulhando em rasa vala,
 Escorraço corriqueiro,
 Num terrível, vil canteiro
 O meu passo se acostuma,
 Se a minha alma pensou tanta,
 A verdade desencanta,
 No final vaga ou nenhuma.
 56
 Esqueço-me no horizonte
 Mirando o que nunca vem,
 O Passado diz tão bem
 Do que desde o além se aponte
 Ao morrer na própria fonte
 O riacho não contém
 Sem as águas vou também,
 Sendo inútil qualquer ponte,
 E cansado de cismar
 Mesmo tom, igual lugar
 Espreitando o que jamais
 Poderia haver enfim,
 Pois se até dentro de mim
 Morto mar. Ausente cais.
 57
 Devaneio vez em quando
 Na procura por talvez
 O que há tanto se desfez
 Noutro rumo navegando,
 O vazio me tomando,
 Onde agora já não vês
 E o que vendo não mais crês
 Um fantoche se entregando
 Ao não venha, ao deus-dará
 E percebo não virá
 Qualquer luz além do nada,
 Precedendo ao passo em vão,
 Como sempre o mesmo não
 Desenhando a falsa estrada.
 58
 O que posso percorrer
 Se jamais houvera um barco
 Com naufrágios tantos, arco
 Neste mar ao perceber
 Outra ausência a me tolher,
 A vontade em tom tão parco,
 Desamor gerando um marco
 Destroçando enfim o ser.
 Resplandece além o sol,
 Mas sem nada no arrebol
 Tão somente o vago em mim,
 Cego eu sigo sem sentir
 Se deveras há de vir
 Ou em paz descanse, enfim.
 59
 Desde quando o ser ou não
 Poderia ser diverso
 Do ditame de algum verso,
 Sem destino ou provisão?
 Risco espaços, bebo o chão
 E prossigo tão submerso
 Nos instantes que disperso
 Desconverso e volto ao vão.
 Cãs somente o quanto trago,
 Cão em busca de um afago,
 Mas no fim eu me acostumo.
 O cenário é sim, reflexo
 E se tento estar perplexo
 Do cevado sou resumo.
 60
 Este vácuo aonde aflora
 O daninho costumeiro,
 Erro farto no canteiro,
 Qualquer cor já foi embora,
 A certeza sem demora
 A incerteza e o jardineiro
 O fatal e corriqueiro
 Derradeiro desarvora.
 Chego tarde, reconheço,
 E no fim sem adereço
 A mortalha é simples qual
 Vida leda em terra alheia,
 Nem saudade me rodeia.
 Facilita o funeral.
 61
 Coração, a velha esfinge
 Já cansada de dilemas,
 Entre curas ou algemas
 Muitas vezes teima ou finge,
 E se tanto já se tinge
 Quanto mais deveras temas,
 Noutros dias, outros temas,
 Mas decerto não me atinge,
 Sou deveras tão volúvel
 E se tentos ser solúvel
 Nada trago em minhas mãos,
 Nem passado nem futuro,
 Sobre o imenso e tosco muro,
 Entre os sins, erijo os nãos.
 62
 Qual se fosse transparência
 A alma nua segue enquanto
 Procurando em qualquer canto
 Reproduzo esta aparência,
 No que diz conveniência
 No final, nada garanto,
 Nem sorriso e nem quebranto,
 Talvez trague a incoerência.
 Vasto mundo dentro em mim,
 E no fundo nada enfim
 A não ser o que reflito,
 Amor talha na mortalha
 E no fim quando se espalha
 Este incerto é ledo mito.
 63
 Das pirâmides ao caos,
 Dos abismos aos solares,
 Entre tantos ao buscares
 Já não vês velhos degraus,
 Ouso até vagar em naus
 Por dispersos, vis lugares
 E se tento noutros bares,
 Dias toscos, rudes, maus
 Enfrentando o meu espelho,
 Neste nada me aconselho
 E atropelo o meu caminho,
 Se deveras fui errático,
 Jorro em gêiser, mas sou prático
 Se eu prossigo, estou sozinho.
 64
 Tão diverso este perfil
 Do avatar que trago além
 Sei somente se convém
 Se deveras já nunca viu
 Ou no quanto sei ser vil,
 Mas disfarço e muito bem,
 Nada em mim, tento e contém
 Finjo até ser mais servil.
 Passo a passo sigo ao vento,
 E deserto quando tento
 Algo mais que a própria queda,
 Por vagar em desencantos,
 Vasculhando tantos cantos,
 O caminho ao fim se veda.
 65
 Um abismo imensurável
 Nada além do costumeiro,
 Ergo o olhar e sei do inteiro
 Mar deveras navegável
 Quantas vezes, mais saudável
 Das palavras, garimpeiro,
 Lapidando o verdadeiro
 Ou traçando imaginável
 Perco o tempo, ganho a vida,
 Mas decerto vai perdida
 A palavra lavra em mim,
 Dos cinzéis e dos buris
 Tantas vezes nada fiz
 A não ser teimar jardim.
 66
 Paro quando eu perceber
 O que nada mais resiste,
 Se em verdade o sonho insiste,
 Volto mesmo a descrever,
 Sou metáfora do ser
 E permito ser mais triste,
 No que tange e não existe
 Sou mortalha e me tecer.
 Esquecendo do que um dia
 Fosse apenas fantasia
 Eu me sorvo em cada verso,
 Bebo em cálice venal,
 Mas no fim sou desigual
 Do que sou e ora disperso.
 67
 Se eu pudesse soterrado
 Entre as pedras do caminho
 Quando fiz aquém o ninho,
 No final, ledo passado,
 Vento quando desvairado
 Muitas vezes sou daninho,
 Noutra mero e tolo espinho,
 Tantos dias, sempre errado.
 Nestes trâmites percebe
 A verdade noutra sebe
 E recebe o que não veio,
 Cada frase solta ao vento,
 Se eu pudesse, quando eu tento,
 Ser além de devaneio.
 68
 Sob a luz da lua cheia
 O meu tanto quase nada,
 Atropela a velha estada
 Mariposa, a luz rodeia,
 Esquecendo a dor alheia
 Vago em noite constelada,
 Na certeza garimpada
 Onde a morte não anseia,
 Esgotar o mar em mim,
 Tantas águas e no fim
 O desértico poema,
 O meu carma eu sobreponho
 Num prismático e medonho
 Caminhar que nada tema.
 69
 Uma enorme fantasia
 Marca o dia onde pudera
 Ao beber em mim a fera
 Outra fera se recria,
 Na mutante alegoria
 O que jaz em primavera
 Noutro rumo destempera
 E me espera dia a dia,
 Ecos tantos semeando,
 Num arquétipo nefando
 Roseirais já não florescem,
 Os meus passos entre fartos
 Representam velhos partos,
 Torpes ecos obedecem.
 70
 Varro em mim o que inda sobra
 Da tangência ou queda plena,
 Na verdade não se acena
 Nem espreita fera ou cobra,
 O passado se recobra
 Na vontade se serena
 Ou se tanto me envenena
 Noutra face se desdobra,
 Abro em mim os vãos umbrais
 E se tento ou nunca mais
 A colheita diz semente,
 No final de cada fase,
 O que tanto vague e atrase
 Noutro rumo se consente.
 71
 O cadáver me procura
 Em noites frias, turbulentas
 Quando além do que apresentas
 Bebo em goles a loucura,
 O meu tempo não tem cura
 E deveras são sangrentas
 As palavras virulentas
 Quando busco a vã ternura.
 Esgotando o que talvez
 Inda alheia tu não vês
 E jamais tu sentirias,
 Percebendo o que reflito,
 Meu cadáver vai aflito,
 Faz das noites, todas, frias.
 72
 Barcos, naus em rio imenso,
 Ou quem sabe noutra foz
 Estuário em mesma voz,
 Quando em ti querida eu penso,
 Na verdade me compenso
 Ao não ser o teu algoz,
 E repito em velhos nós
 O que outrora fora tenso.
 Num jazigo ou neste leito,
 Minha herança eu sempre aceito
 Decomponho a cada morte,
 Esgueirando de mim mesmo,
 Quando tolo me ensimesmo,
 Qualquer cais, pois me conforte.
 73
 Numa vaga e tão difusa
 Expressão coloquial,
 O diverso vendaval
 Onde a sorte se entrecruza
 Com a vida mais confusa,
 E deveras bem ou mal,
 Vago espaço sideral
 Quando o charco em mim abusa
 Disfarçasse qualquer ato
 E se tento ou já desato
 No final restando alheio,
 O meu fado em qualquer nota
 Pouco a pouco se denota
 O que alhures, devaneio.
 74
 Fosse um barco abandonado
 Neste cais sem previsão
 Nem sequer se inda virão
 Outros dias, mesmo enfado,
 O caminho deste gado
 Entranhado em divisão
 Esquecendo algum senão
 Mesmo quando anunciado.
 Restaurando o meu engodo,
 Resumindo em dor e lodo
 Cedo quando passo em branco
 Dia a dia sorte tenta
 Ou deveras segue lenta,
 Quando em queda me desanco.
 75
 Infiel ao meu caminho
 Num estio costumeiro,
 Onde quis qualquer canteiro
 Já não posso, sou mesquinho,
 E se tanto vou me aninho
 Neste céu em vão tinteiro,
 Agrisalho o tempo inteiro
 E revolvo rosa e espinho.
 Na incerteza de ouro ou nada,
 A verdade garimpada,
 Não lapido e já me aquieto
 O cascalho em pó e lama,
 Não importa quem me chama,
 Sou o mesmo, torpe inseto.
 76
 Se eu seguisse sempre a pino
 O meu passo em consonância,
 Quem percebe a militância
 Onde tanto me alucino,
 Já não sabe do menino
 Que a mortalha em discrepância
 Mata aos poucos na inconstância
 Deste tosco e vão destino.
 Expressões diversas; tento
 E se tanto sigo atento
 Não reparo queda e corte,
 Anuncio o fim do jogo
 E se tenho ainda em rogo
 Morto apenas, me comporte.
 77
 No descaso caso venha
 Veja o fim quando se expõe
 No passado decompõe
 E teimando em pouca lenha,
 A verdade não se emprenha
 E o futuro não compõe
 O que agora ao medo opõe
 Se não sabe chave ou senha.
 Lacra o passo, nega o rumo,
 Mas no fim eu me acostumo
 E presumo qualquer dita,
 Sou meu ermo e não me engano,
 Quando olhando o velho dano,
 Nem reparo necessita.
 78
 Quando lanço ao velho mar
 Estas prendas, morte e riso,
 Projetando o mais preciso
 Ou disperso navegar,
 Timoneiro a procurar
 Outro tempo ou Paraíso,
 Mas no fundo o prejuízo
 Toma tudo a divagar,
 Esgueirar em meio às ondas
 Onde agora tu me escondas
 Sem respostas o que tento.
 Mar imenso em tez sombria,
 Mas procela desafia
 Este olhar jamais atento.
 79
 Entre velas ondas proas,
 Olhos vagos no horizonte,
 Presumindo quem aponte
 Onde a sorte; ainda arpoas
 Noites claras, belas, boas
 E o meu passo em vaga fonte,
 Cada engano desaponte
 A versão que agora entoas.
 Gestos fartos ermos ledos,
 E se tento outros degredos
 Dos segredos, procissão,
 Um marujo acostumado,
 Neste tanto mareado
 Descobrindo a diversão.
 80
 Num frescor sem paralelo,
 A manhã renasce após
 O desando feito em nós
 Ou no caos que em mim revelo,
 Outra vez, novo castelo,
 A incerteza dita voz
 Semeando a sombra atroz
 Onde outrora quis mais belo,
 Afastando alguma sombra
 Busco além qualquer alfombra,
 Mas no fim o quanto resta
 Traduzindo em pedra e espinho,
 Pouco a pouco eu me definho,
 Este sol, já não diz fresta.
 81
 Sorvendo a eternidade desta noite
 Aonde cada passo poderia
 Trazer quem sabe a vida em alegria
 Ainda quando o sonho nos açoite.
 Espaço o tempo alheio ao sentimento
 E sei o quanto eu sou, por vezes mórbido,
 Mas não seria ausente, ou até sórdido
 Apenas o caminho; ainda eu tento.
 Contemporaneidade dita normas
 E nela se percebe ou mesmo não,
 Os ermos onde os dias traçarão,
 Enquanto, mais sutil; nada transformas.
 Bebendo do passado em lua nova,
 O mundo é tão igual. Mas se renova?
 82
 Vejo a morte desde cedo
 Num ditame e não escapo,
 Na verdade este farrapo
 Noutro vago eu me concedo,
 E cerzindo o meu enredo
 Onde apenas vejo o trapo,
 Principesco e tosco sapo
 Nada resta no que tange,
 Mesmo quando o tempo esbanje
 Na procura por respostas
 Sendo as marcas destas presas
 Nestas costas mais obesas,
 O que enfim desejas, gostas.
 83
 Na brevidade do instante
 Feito em vida, ou quase tanto,
 O que posso e não garanto
 Noutro modo se adiante,
 O meu sonho, um ruminante,
 Versa quando em vão quebranto
 A passada eu adianto
 Num cenário atordoante.
 Investindo neste nada,
 A minha alma destinada
 A não ter senão infaustos,
 Já não quero um novo grão,
 Mesmo quando se farão
 Tais escusos holocaustos.
 84
 Outra vez em solidão
 Tento ao menos qualquer face
 Onde a vida ainda trace
 Mero alento ou mansidão,
 Caminhando sempre em não,
 Se em meus sonhos inda grasse
 No que tanto já desgrace
 Este torpe turbilhão,
 Sou errático e; portanto
 Cada passo onde adianto
 Nova queda prenuncia,
 Sendo assim e mesmo até
 O destino diz quem é
 E o que trama a fantasia.
 85
 Vez por outra tento em risco
 As veredas mais estranhas
 Onde mesmo as que ora entranhas
 Noutro tempo não arrisco,
 E o que tento em paz; confisco
 Mergulhando em novas sanhas
 Ou teimando nas montanhas
 Face idêntica do disco,
 Esgueirar pelo passado
 E tentar outro recado
 Mesquinhez? Talvez ou não.
 Sinto o verso quando o nego,
 E o vagar traz em nó cego
 Desviando a direção.
 86
 Adentrar cada alameda
 Onde pude ou nada disto,
 Mesmo esgar e não resisto
 Quando o nada se proceda,
 Ou quem sabe esta vereda
 Trame o quanto em vão insisto,
 Respirando e assim, existo
 Novo rumo eu me conceda.
 Estuário mais diverso
 Ainda quando em mim eu verso
 Procurando por talvez
 Outra sebe onde descanse,
 Mas sequer mero nuance
 Do que em mim ainda vês.
 87
 Sedas entre rendas; vejo
 E se tento algum disfarce
 Condenado ao quanto esgarce
 Mergulhando em vão negrejo,
 Sou deveras malfazejo
 Onde tento e não disfarce
 E gerando novo esgarce
 Bebo o fim que não prevejo,
 Ascendendo ao quanto eu pude
 Nada trago aonde pude
 Ilusões são costumeiras,
 Sem saber se eu posso ou não,
 Vibro a cada sensação,
 Mesmo quando outra tu queiras.
 88
 Apresento a tão sonhada
 Noite aonde nada vira
 Senão ermos da mentira
 Tantas vezes dando em nada,
 Onde quis mais orvalhada
 A verdade se retira
 E negando brasa ou pira
 Farsa feita e bem tramada
 Ouso até pensar no alheio
 Quando o meu passo não veio
 Expressando a morte em mim,
 Vasculhando esta gaveta
 Outro fato me arremeta
 Ao cenário de onde eu vim.
 89
 Azulejo o passo em rumo
 Aos meus tantos e diversos
 Expressares quando em versos
 Tolamente eu me resumo,
 Procurando essência e sumo
 Dos meus erros mais dispersos
 Noutros tantos já submersos,
 No final acerto prumo.
 Esgueirar queira ou não queira,
 Estopins; acendo quando
 O meu canto derramando
 Traz em si; a verdadeira
 Face escusa, mas voraz,
 Que o passado vivo traz.
 90
 Tantas quantas eu pudesse
 Ansiedades simplesmente
 No talvez quando se mente
 Omitindo qualquer prece,
 No vazio a vida esquece
 E traduz mera semente
 Onde fora plenamente
 Qual demente se enlouquece,
 Nesta insânia contumaz,
 Quanto mais constante a cena
 Outra idêntica condena
 Ao caminho que não traz
 Quem deveras fora tanto,
 Hoje apenas desencanto.
 91
 Pela escada rumo à queda
 Um degrau em discordância
 Vida passa e sem instância
 O meu passo o tempo veda,
 No vazio se envereda
 E buscando uma constância
 Onde houvera mera estância
 E bem sei; apenas seda.
 Sedas entre teus cetins
 Sonhos traçam ledos fins
 E os enganos refletindo,
 O que tanto quis, disperso,
 Busco o prumo quando verso,
 Mas sei quanto o tempo é findo.
 92
 Nestes rios, sangue, veias
 Outros tantos, confluência,
 Vendo já sem ingerência
 O que ainda em vão rodeias,
 Luas claras e permeias
 Com fatal incongruência
 Ao transtorno e penitência
 Providências são alheias,
 Cedo enquanto no horizonte
 O futuro nada aponte,
 Tão igual ao que vivemos,
 Neste fátuo caminhar,
 Ir e vir céu e luar,
 São deveras frágeis remos.
 93
 Cordilheiras dentro da alma
 Em condores, lhamas, Andes
 E diverso se desandes
 Noutra trama diz do trauma,
 Onde nada mais acalma
 Nem torturas e desmandes
 Hoje sigo em sonhos grandes,
 Mas conheço a mera palma,
 Resta apenas o retrato
 Tantas vezes tolo e ingrato,
 Resgatando o já não sido,
 O mergulho em tais montanhas
 Traduzindo estas entranhas
 Noutro fátuo, vago olvido.
 94
 Das nevascas e geleiras,
 Onde outrora vira a cena
 Que jamais pensei serena
 E desfaz velhas bandeiras,
 Nestas horas corriqueiras,
 A verdade leda e plena,
 Muda quando a minha pena
 Em teclado tu mais queiras,
 Caminhar em cardo e farpa,
 Mergulhar de cada escarpa
 Escapar quase que imune
 Aos que tange ou me interessa,
 Tanto tempo em vã promessa,
 E o futuro o velho pune.
 95
 Destas tantas umidades
 Fantasia em aridez,
 O que tanto já não vês
 Noutro espaço ainda invades,
 Rompo em mim algemas grades
 E tentando em lucidez
 Caminhar a insensatez
 Mesquinhez, realidades.
 Expressões diversas; sinto
 Quando tento novo aprumo,
 Mas da América eu resumo
 O vulcão agora extinto,
 Que no fundo em lavas lava
 A sua alma sempre escrava.
 96
 Por planetas meros rastros
 Dos medonhos antes quando
 Tal formato se moldando
 Não deixara sequer lastros,
 Onde quis em alabastros
 O meu ermo cinzelando
 No final se desolando
 Os destinos sem seus astros.
 Na vidência de um cigano
 Turbilhão em que me dano
 Novo fato, mesma cena,
 Na incerteza do que tenho,
 Outro mundo, mesmo empenho,
 À guerrilha se condena.
 97
 Varre a terra onde passara
 Esboçando risos, medos
 E se tanto sei de enredos
 Navegando em vã seara,
 O meu canto se prepara
 Onde cismo sem segredos
 Dias fátuos, tempos ledos,
 Outra voz se desancara,
 Carpideira de plantão,
 A mentira em previsão
 Nega a queda do que é morto,
 Olho e vejo este reflexo
 E mirando mais perplexo
 Presumindo cada aborto.
 98
 Uma arma que se empunha a cada cena
 Outra desnuda enquanto o carrossel
 Vestígios desta pólvora no céu
 Apenas à verdade se condena,
 Ardente caminhar, tola sirena
 Bebendo em goles fartos o cruel
 Desenho feito em sonhos de papel,
 Ousando nesta mesma tosca arena.
 Escaravelhos dizem do que resta
 Nesta iguaria tanto desonesta
 Servida em funerais, minha alma cede,
 E o verde se esgotando a cada passo
 Cenário aonde o ledo e mero traço
 Ainda que a verdade morra ou vede.
 99
 Ninguém pode sequer colher o farto
 Desejo em vã colheita quando tento
 Vencer o caminhar contrário ao vento
 E deste desenhar eu já me aparto,
 Tomado pela essência deste parto
 Aonde vejo o tênue, mas sangrento
 Delírio desejado em provimento
 E o todo noutro errático eu reparto,
 Esboço bem mal feito do que assumo
 E sigo contumaz, ledo resumo
 Do frágil suicida em tantos nãos,
 Expresso ou mais confesso um erro quando
 O todo noutro par compartilhando
 Restaura a invalidez de torpes chãos.
 100
 Pastoreando a sorte em dissabores,
 Aonde pude outrora crer num fato
 Resgate do que em nada já retrato
 Seguindo sem prenúncios onde fores,
 Anunciando a queda em fátuas flores
 Bebendo este insalubre e vil regato,
 Escasso caminhar; sei e constato
 Os cernes mais medonhos, grises cores.
 Errante bandoleiro vago à toa,
 E sinto quanto mais em mim ecoa
 A voz em discordância tão sutil,
 Esparsos dias sinto quando ateio
 O manto desnudando o passo alheio
 Ao quanto de mim mesmo não se viu.
 MARCOS LOURES FILHO
 
 
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