
Todos os dias descubro... (Octávio Paz)
Data 27/07/2010 14:52:17 | Tópico: Poemas -> Reflexão
|  Todos os dias descubro A espantosa realidade das coisas: Cada coisa é o que é. Que difícil é dizer isto e dizer Quanto me alegra e como me basta Para ser completo, existir é suficiente.
Tenho escrito muitos poemas. Claro, hei de escrever outros mais. Cada poema meu diz o mesmo, Cada poema meu é diferente, Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo.
Às vezes olho uma pedra. Não penso que ela sente Não me empenho em chamá-la irmã. Gosto porque não sente,
Gosto porque não tem parentesco comigo. Outras vezes ouço passar o vento: Vale a pena haver nascido Só por ouvir passar o vento.
Não sei que pensarão os outros ao lerem isto Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço; O penso sem pensar que outros me ouvem pensar, O penso sem pensamento, O digo como o dizem minhas palavras.
Uma vez me chamaram poeta materialista. E eu me surpreendi: nunca havia pensado Que pudessem me dar este ou aquele nome. Nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo, não é valor meu. O valor está aí, em meus versos. Tudo isto é absolutamente independente de minha vontade.
Octavio Paz, poeta espanhol, "Todos los días descubro..., Según un poema de Fernando Pessoa." (Tradução de Maria Teresa Almeida Pina).
Arte: Fernando Botero, Colômbia.
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