
SONETOS FEITOS EM 28/07/2010
Data 28/07/2010 07:46:58 | Tópico: Sonetos
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Eu não te quero, apenas te desejo, E sei quanto isto custa para nós Na divergência vejo ausente foz Um estuário aquém do belo ensejo, Ao desvendar apenas o lampejo Aonde imaginara em firmes nós, O amor ao mesmo tempo tão atroz Esquece do que fora algum verdejo, Esmeraldino sonho? Vã figura E nela a realidade se mistura Tornando mais sombrio o fato em si. E quando te desejo aqui comigo, O corpo em tal delírio que procuro, Eu sei quanto decerto então perdi.
002
Na minha solidão, guardo este afeto Qual fosse algum troféu, ou mesmo um sonho E quando um novo dia eu me proponho, O velho se mostrasse mais completo, Resumo neste fato o predileto Caminho aonde às vezes eu me ponho, E resolutamente sou bisonho Somente num fantasma eu me repleto. Ascendo ao mais perfeito paraíso E sei que na verdade eu me matizo Em cores tão diversas da verdade, Olhando para os lados vejo apenas Os trágicos ditames de tais cenas, E nelas solidão maior invade.
003
Um retrato deixado na gaveta Já tanto amarelado pela vida, Presumo desde então a desvalida História deste amor, tosco cometa E quando no passado eu me arremeta Não vejo para tal qualquer saída Senão a mesma velha renascida Das trevas onde a dita me acometa. Apostas degradadas pelo tempo, O risco de sonhar diz contratempo, Angustiadamente este retrato Demonstra resumindo o que fui eu, Um rumo que deveras se perdeu Apenas num instante isto eu constato.
004
Tantas vezes sonhei, mas nem recordo Dos vários e terríveis medos quando O tempo noutra face se mostrando Deixando a solidão subir a bordo. E quando cada engodo ledo; abordo O peso desta forma destroçando O resto de mim mesmo desolando E sei que na verdade não acordo. Presumo um novo sonho. Tolamente. A vida a cada dia mais desmente O resto que ficara dentro em mim, Represas tão dispersas e medonhas, Enquanto a minha sorte tu reponhas Aproximando vejo então meu fim.
005
Apenas navegar, contigo em sonhos E ter esta incerteza de algum cais, Os dias se refletem, são iguais E os métodos que trago; são bisonhos, Aonde se mostrassem mais tristonhos Delírios entre fartos roseirais Espinhos dominando são bem mais Que as cores em momentos mais risonhos; Cercando com as ervas tão daninhas As alamedas morrem, não são minhas Assim como estas vinhas que abortaste, Do todo imaginário, quem me dera, Resumo no vazio a primavera E o tempo se perdendo em tal desgaste.
006
A garrafa demonstra esta mensagem Do náufrago isolado dentro em mim, Partilho neste instante o mero fim, Da curta e sem prazer, torpe viagem, Buscara noutro fato nova aragem, A discrepância chega e toma assim Cenário nesta peça tão ruim Rompendo o que pudesse ser barragem, A carcomida face do abandono, Aonde a cada dia desabono Edênico caminho? Nem por perto. Satânica expressão ditando a norma, O dia a dia aos poucos me deforma, Esperança decerto enfim deserto.
007
Eu já não mais anseio, nem por ter Uma impressão qualquer de alguma sorte, No fundo talvez isto me conforte, O fato de somente poder crer Na morte anunciando o anoitecer Da vida sem sequer caminho e aporte, Não tendo mais quem queira e me suporte, Restando pouco a pouco apodrecer. Tecesse em esperança um céu tranqüilo, Mas quando imprevidência; assim destilo Restauro o mesmo aborto incipiente E desta vil carcaça nada resta Senão esta expressa mera e funesta Aonde algum alento; ao menos, tente.
008
Tanto me faz ganhar ou simplesmente Seguir a correnteza, nada eu tenho Senão a mesma tez em mau empenho De quem sabe que a vida agora mente. Remeto-me ao furor e penitente Vasculho o quanto resta mais ferrenho E bebo enquanto farto e não provenho Alheio ao desejar iridescente. Ao menos uma vez bem poderia Alçar além do cais uma alegria, Porém os meus demônios alimento Com toda esta excrescência dita sonho E quando algum cenário; em vão, proponho, Recebo tão somente o desalento.
009
Quem sabe, poderei me libertar Nem mesmo que somente após a queda E nesta solução já se envereda A vida sem saber sequer lutar, O tanto poderia desvendar E ver a face escusa da moeda, Mas quando este delírio, o tempo seda Concedo-me aos demônios deste mar. Exacerbando em mim a fúria quando O manto noutro tanto deformando Gerando este caráter mais venal, Aprendo enquanto o fim eu prenuncio, E tanto quis apenas um rocio Qualquer onde a manhã é sempre igual.
010
Cada momento segue sem o após E o vandalismo impera aonde eu quis Ao menos poder ser bem mais feliz, Ausência dominando em tom feroz, A vida por si mesma, meu algoz, Regendo com terror a cicatriz Aonde uma esperança em chamariz Não teve e nem teria qualquer voz; Arrasto-me na vida, e das galés Sabendo tão somente por quem és Sou resto e como tal, mal sobrevivo, Repasto para as tantas rapineiras, Minha alma entre as serpentes sorrateiras Traduz o quanto agora sou cativo.
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Não quero mais teus beijos nem carinhos, A vida não seria desta forma, O quanto a realidade já deforma E deixa tão somente estes daninhos. Vencesse a insensatez de tais caminhos Bebendo qualquer sonho, uma reforma Aonde o velho morto se transforma, Mas nada vejo além destes espinhos. Eu quis acreditar mesmo que ainda A sorte se desnuda e não deslinda Sequer a menor face deste fato Se nele me inserindo não retrato Sequer a menor sombra desta infinda Loucura e seco em mina algum regato.
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Talvez Deus permitisse, enfim sonhar O quanto inda me resta nesta vida, E nela nova sorte presumida Jamais ocuparia algum lugar, Cansado de teimar e de lutar, Sem ver sequer se existe uma saída A história se repete e dividida A senda não permite caminhar, Errático e medonho nada leve O sonho que decerto muito em breve Apenas um espectro e nada mais, Demônios se alimentam nos meus dias E bebo tanto quanto me darias Em troca de momentos triunfais.
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Se eu falar de saudade, diga nada, Que a própria persistência da loucura Na qual o traste amor dita a amargura Presume o fim da noite em vaga estrada, Resumo em dor o passo e, desolada A vida na verdade me tortura, E bebo desta tola e vã fartura Da senda há tanto tempo envenenada. A serpe que se arrasta no meu ser, O frio do abandono a se tecer No herético jazigo em provisão, Alheio aos meus caminhos; tento mais E sei da etérea ausência de algum cais, Nos dias em tormenta que virão.
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É simplesmente verso sem sentido Meu canto em tez dorida enquanto é rude E mostra a vida e quando ela me ilude, Espelha um vago olhar, já desvalido, O tempo adivinhado ou presumido, Refém da minha tosca magnitude Transcende muito além do que mais pude O velho coração envilecido. Antrazes e demônios que cultivo, Masmorra na verdade, eu sou cativo Dos tétricos e heréticos miasmas Amores do passado me rondando, O tempo mais atroz duro e nefando Bebendo novamente estes fantasmas.
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Amando vou levando, de empreitada, Embora no final já não consiga Sentir a mão suave e até amiga Deixando minha noite amargurada, Enquanto no final não sobre nada O vento que me alenta desabriga E o passo sem futuro desobriga Quem tenta acreditar noutra alvorada, Apresentando ao fim a mesma escara Aonde a minha dita se escancara Fortuna tão cruel quanto venal; Amando e sem ser sequer amado, O tempo noutro tom já decifrado Prepara dos meus sonhos, funeral.
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O tempo que jamais achei em mim Desvendo quando vejo no horizonte O todo quanto quero e ora se aponte Traçando outro cenário. Calmo, enfim. Navego sem saber sequer do sim, Mas tento novamente ver a fonte E crio em fantasias esta ponte Traçada a cada passo quando vim Esgoto última chance, a derradeira E mesmo se a vontade ainda queira Na prática o final já se emoldura A vida tão bisonha quanto gris, Impede o passo e tudo contradiz, O quanto tento ainda em tal brandura.
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Das horas nem por ora faço caso, Apenas disfarçando o passo enquanto O mundo não se traz e não me espanto, Percebo o quanto quero e mesmo aprazo, Vagando pelas sendas deste ocaso, O risco de um delírio e de um quebranto A cada amanhecer transborda em manto Venal o que se fez não por acaso. Brumosa a vida teima em ser dispersa Enquanto para a morte o passo versa Em frenesi meu sonho se alimenta. Restauro a mocidade há tanto morta, E sei que atrás de fina e frágil porta Encontrarei a senda mais sangrenta.
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Em meio a tantas farsas me embaraço E perco a direção se ainda tento, No fundo a solidão em sofrimento Domina com certeza cada espaço, E sinto tanto opaco quanto baço O risco de viver no alheamento E quando novo porto além invento Repete-se deveras o compasso. Esparsos dias tenho pela frente E nada do meu rumo se apresente Senão a incompetência de quem busca Vencer as mais sutis vicissitudes E mesmo quando queres ou se mudes A sorte continua amarga e brusca.
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Sem fleugma, sem vergonha, mentiroso, Opaco caminhante do vazio, Devasto cada passo aonde eu crio Teimando noutro tanto caprichoso, Revelo a condição deste andrajoso E mero pária quando eu desafio A longa caminhada deste rio Num tom quase sarcástico ou jocoso. Apresso-me a tentar delimitar As ânsias onde escondo algum lugar Escuso dentro da alma, mas não posso, E quanto mais reluto mais me exponho, E sei do caricato e até medonho Fantoche onde alimento este destroço.
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Invento dores, falsas cãs até E tento navegar por meus audazes Caminhos onde anda mesmo trazes Tentando desatar fina galé, O rústico demônio sabe que é Exposto à solidão em várias fases E beija tais feridas meus antrazes Provoca num momento a própria fé; Adentro os meus difíceis e intragáveis Por vezes mais sutis ou insondáveis Âmagos onde eu pus a caricata Figura transcendente ao meu destino, E quando este fomento eu determino A vida noutra vida não resgata.
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Meu mundo tanta vez em pedregulho Aonde quis diverso diamante, No fundo a cada engodo me adiante A morte e nela em paz quero e mergulho, Vagando em tom sombrio este marulho Agora noutra face, noutro instante, Porquanto a própria queda é fascinante Os tantos dissabores, pois vasculho. Escarpas entre tantas que vislumbro, E quando em tez mordaz eu me deslumbro Quimérica loucura se anuncia, E o vândalo fantoche deambula E mostra a face exposta em dor e gula Num mar em pedregulhos, a agonia.
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Não tive nem rainhas nem plebéias, Ausentes dos meus sonhos, realistas. E quanto mais encontro velhas pistas, A sorte não mudando mais de idéia, Amor eu nunca vira em panacéia E sei também que assim tão logo assistas Os fins das minhas preces noutras listas Gerando esta satânica assembléia. Cascalhos costumeiros dentro da alma, O fundo deste poço, enfim me acalma E resto com segura mão aonde O nada se produz e reproduz Não tendo ou discernindo qualquer luz E a própria fantasia não responde.
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Sou resto, rimo sempre por rimar, Embora em consonância com a vida A história preconize a despedida Ainda busco apenas um lugar, Diverso do que tento imaginar Na senda muitas vezes distraída Figura pelo tempo apodrecida Aonde cismo mesmo em embrenhar. Estéticas diversas, mas comuns Aos que sabendo logo quais nenhuns No máximo talvez uma escassez, Presuma o que se faz em tom constante E mesmo quando a vida se adiante Apenas este espectro ainda vês.
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Nem tenho céu, quiçá terei profundas E vejo em tais plutônicas veredas O quanto dos meus dias me concedas E nelas tuas mãos seguem imundas,
As sortes dos demônios oriundas Vestindo ou revestindo com tais sedas Ainda mesmo quanto assim procedas Escassas ilusões enfim inundas.
Ardentes dias negam lavas quando Vulcânica expressa já me tomando Ecoa dentro em mim apenas isto.
E quando sou audaz porquanto insisto Mesquinharias ditam o tropeço De quem se fez apenas. Reconheço.
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No jogo da permuta sonho/vida Não tento mais sequer algum relance E quando a sorte dita e mesmo avance Na face destroçada e desmedida, Encontro algum sinal em despedida E tendo da esperança algum nuance Não vejo na verdade qualquer chance O jogo se perdendo de saída. Recalco qualquer medo quando alheio Meu passo junto ao tosco devaneio E bebo tais cicutas que me dás, Acasos entre ocasos, quedas tantas, E logo num sorriso já levantas E tentas transformar a guerra em paz.
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Troquei não ser feliz por fantasia, No fundo não mereço nem sequer O quanto ainda mesmo se aprouver Do fato aonde a vida me agonia Ridículo fantoche em zombaria, O vândalo deveras tenta e quer Nesta altivez soberba o que puder Gerando dentro em mim tal confraria. Apresso-me ao apreço de quem tenta Singrar com aridez qualquer tormenta E bebo junto às súcias mais mordazes, Enveredando as pútridas quimeras No quanto em desvario me aceleras Também outros momentos; vis, me trazes.
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Confesso então que ao ser ledo e vadio O mergulhar nos sonhos, falso brilho; E quanto mais audaz e em vão palmilho O tanto que inda resta eu desafio. O passo se prendendo por um fio, O parto se negando onde eu partilho Funéreo caminhar deste andarilho Tomado por insânia e desvario. Um desabafo apenas, simplesmente A vida na verdade teima e mente, Resume noutro esgar, embora seja Mesmice transformada em tom sutil, Ousando com terror do mesmo ardil A dita se demonstra mais sobeja.
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Nem esperei sequer raiar um sol Imerso em minhas brumas costumeiras E quando novo rumo ainda queiras Vazio se percebe este arrebol, A solidão transforma em vão farol As tantas ilusões, velhas bandeiras Jogando para aquém destas ladeiras Meu sonho em duro infausto, um girassol. Presenciando a morte desta esfinge A vida na verdade teima e finge Realizar alhures a promessa De antanho vejo assim e não reflito Embora sempre esteja mesmo aflito, A velha mesquinhez se recomeça.
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Montei no meu cavalo e fui embora, Tentando observar bem mais de perto O quanto do meu mundo em vão deserto E beijo nova face onde se aflora A sorte desdenhosa e tão senhora Dos dias que procuro e não desperto, Vencendo o meu domínio a descoberto Enquanto em palidez se revigora. Estreitos passos ditam o que tento Singrar mesmo defronte ao forte vento E nele resumir a minha história Jogado entre as marés, apenas isto, E quando tento a luz enfim desisto Moldando num segundo a luta inglória
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Não soube nem talvez nem mais quisesse Se ainda fosse viva esta esperança Que agora ao cadafalso já me lança Qual fosse; no final, uma benesse. O quanto desta vida se escurece E o manto no vazio agora avança Precede no terror tal aliança Aonde se desdenha e a luz esquece Houvesse qualquer chance, mas sei bem Que nada simplesmente me convém Senão a prepotência de quem guia Rebanho para o abate em tom tenaz E a sorte na verdade pouco faz, Apenas testemunha esta agonia.
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Quem sabe, na manhã que vai nascer Eu possa reviver o quanto quis E nada se fizera em chamariz Gerando tão somente o entorpecer, Alçando alguma estrela sem poder Tocar ou mesmo até a falsa atriz Num tétrico momento me desdiz E gesta dentro em si tosco prazer. Extraio cada raio desta lua E bebo desta deusa prata e nua Seara tão diversa, alucinógena E a deusa na verdade quase andrógena Espraia ao longe o brilho sem igual, Resíduos de momento divinal…
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Eu posso procurar e nada ter Senão as mesmas velhas evidências E nelas as diversas eloqüências Tomando o meu cenário em desprazer, Restauro com temor qualquer poder E nele bebo as sortes em clemências E gero noutro ermos as decências Tentando cada vez mais merecer, A porta se cerrara há tantos anos, Ainda vejo em mim atrozes danos De dias mais terríveis onde eu pude Singrar a insanidade e mesmo até Rondando a minha estrela sem ter fé Perder sem ter remédio; a juventude.
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Procuro em toda face; a que eu perdi E nada mais se faz senão a troça Ainda se percebe e nada endossa O passo sem destino lá e aqui, Resumo o meu caminho sempre a ti, E nada do que eu tente ainda possa Vestir a fantasia não adoça O quanto me amarguei e já sofri… A sórdida presença da saudade, A face caricata que me invade Degrada cada espaço dentro em mim, Procuro a tua face em cada rosto Tentando me ocultar, mas sempre exposto Ao tanto quanto posso até o fim.
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Então por não saber dessa Maria, Que dentre tantas outras se escondeu, O mundo quando outrora fora meu Apenas desnudada a fantasia E toda a sorte nega a serventia Do manto em dura face, mundo em breu, Restando muito pouco se aprendeu Somente a desvendar o quanto havia. E cada passo dita esta masmorra Aonde nada mais tente ou socorra Quem sabe ser tão pálido o destino, Açoda-me a vontade de poder Gerar dentro de ti um novo ser, O filho de um completo desatino.
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Desconto na cachaça – poesia A farsa que se trama em luz dispersa A vida na verdade desconversa Enquanto novo tempo não recria, Restauro o que inda trago em utopia E nada da vontade se universa O ranço do passado, a dor submersa Nesta torrente amarga tênue e fria. Num abandono apenas, tão somente A vida noutra face não desmente E brota novamente o podre grão Semente de um passado sem guarida Numa explosão terrível, leda vida, Traduz os dias torpes que virão.
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Dos amores que tive, e foram tantos Apenas meras sombras no presente Os ritos costumeiros, tudo mente E sobram tão somente novos prantos, Resumo os meus destinos entre os cantos E tento a cada passo, impertinente. Razão para sonhar, deveras tente Ainda que se mostrem tais quebrantos. Preparo a queda enquanto ainda sonho, Um Ícaro sem rumo impróprio e cego, O quanto do vazio eu já navego E bebo novamente este medonho Delírio e nele perco cada cor, Iridescente ou pálido este amor?
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Das mulheres que em sonhos concebi, Nenhuma se aproxima da real Que tantas vezes dita o bem e o mal, E neste mais temido frenesi Vagando no silêncio chego a ti E bebo o quanto sou residual, E neste fardo risco sensual Esqueço o que deveras prometi, E tento realçar este caminho No qual a cada instante me avizinho Do herético desfecho em dor e sombra, Mas quando mergulhando no passado O amor que imaginara destroçado Ao reviver decerto sempre assombra.
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Meus dedos, nas carícias se perdendo Sem ter sequer mais tréguas tento ainda A doce fantasia clara e linda Embora eu me conceba algum remendo, O fim da minha história em dividendo Transcorre no que tento e já se finda Orgástica loucura não deslinda O olhar de quem mentira se prendendo. Resgato cada farsa aonde um dia Talvez mais insolente; tentaria Gerando nova mente após a queda Expresso esta ilusão agora em ti, E sei que do passado me embebi No caos ocasional que ainda seda.
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Tantos planos, enganos, falsidades; O parto não se faz e a morte ronda, Quem tenta na verdade enfrentar onda Em meio às tenebrosas tempestades Porquanto a própria vida não se faz Nem traz a lua imensa que eu busquei Nublando sem defesas toda a grei Gerando um clima atroz, mesmo mordaz, Respaldos que procuro e não adentro, O marco discordante a cada verso, Resíduos de talvez velho universo Aonde me imagino em pleno centro. Restando disto tudo esta atitude Deveras discordante e mesmo rude.
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Foram peças cruéis do meu destino As mesmas que rompeste num rompante, E o todo se apresenta doravante Qual fosse o fardo aonde me extermino E teimo contra a fronde em desatino Restauro o meu delírio e me adiante Gerando nova farsa e provocante Adentro o que buscara diamantino E sinto cada ausência em tons diversos Expresso a solidão nestes meus versos Arcando com a impávida promessa De quem a cada noite mais se esvai E o passo no vazio só contrai E todo o meu fastio recomeça.
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Matando aos poucos, sonhos do passado A vida contradiz o realejo E cada vez que a cena; em mim revejo Percebo este ar dorido e desolado, O peso do viver em sombreado Vergando com terror cada desejo E a morte se aproxima e sei que almejo O fim que talvez deixe algum legado Espúrio, mas decerto uma lição Ousando nesta vida desde então Cerzida em sonho e farsa, tão somente, Do todo que queria e nada tendo, Apenas o vazio em dividendo, Espalho pelo céu torpe semente.
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Nas mais diversas camas; chama e brasa Atento cada olhar repara bem O amor quando deveras amor tem No fundo não se mente nem defasa, O passo noutro canto não se atrasa E tento resistir mesmo ao desdém Na furiosa noite que inda vem A sorte noutra face não se embasa; Pesando em minhas costas este amor Que pude noutro tempo sonhador E agora em atitude mais diversa Resume cada parto em mero aborto, E o tempo se mostrando alheio porto, Num mar sem direção, meu barco versa.
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Nas mais divinas bocas; naufraguei Os sonhos de menino e nada além, O mundo sem trazer sequer alguém Esvaziando assim a doce grei, Resulta nisto tudo o que passei E morto sem olhar sequer a quem E tendo este caminho sempre aquém Do quanto mais se quer e não terei. Estuários diversos dita a vida E nada de encontra nem a saída Do imenso e tão temido labirinto, O corte se aproxima e nada vindo O Minotauro em mim logo eu deslindo E o tempo de existir em sonho, extinto.
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Embora tanta glória eu possa ver No olhar de quem se fez além do cais, Os dias na verdade são iguais E neles ausentando este prazer De quem se dera mesmo a conhecer Vencendo os dias turvos, rituais E neles desenhando sensuais Caminhos que jamais vou percorrer. Esgoto a minha força e a cada queda O dia vai cobrando e o tempo veda Passagens para aonde ainda existe O canto mais audaz de quem sabia A noite na verdade é mais sombria E o coração audaz, persiste triste.
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Julgava, tolamente, fosse rei De um reino imaginário feito em paz, Do quanto poderia e nada traz Somente este vazio eu desenhei E quantas vezes mesmo até sonhei Um dia com ternura e sinto audaz, Mas quando se percebe a contumaz Loucura e nela apenas mergulhei; Espuriamente o tempo se renega E a vida noutra face quase cega Espalha sem sentido e direção O todo que ajuntara no meu ego E assim em mar sombrio já navego Perdendo com o tempo meu timão.
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Percebo, na tardinha dessa vida, A noite mais nublada que eu pensara Apenas o vazio na seara Expressa a caminhada em despedida, A morte a cada ausência sendo urdida O corte sem defesas desprepara E toma sem pudor e se escancara Mordaz figura agora decidida. Expondo em verso assim realidade Ainda que deveras tente e brade A voz já se calando sem resposta A imagem que inda tenho de esperança Jogada no vazio enfim alcança A tétrica figura decomposta.
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Que em cada encontro, havia novo após O sonho não perdera qualquer chance, Mas quando no vazio já me lance Apenas se tornando um mero algoz. Aonde imaginara ainda em nós A sombra de algo mais, algum romance O tempo se demonstra e num nuance Derrama a sutileza noutra foz. Expresso solidão a cada dia E tento vasculhar a fantasia Na busca por detalhes mais sutis, Porém o que inda resta por viver Traçando em dor e mágoa o desprazer Sonega o quanto em vida eu sempre quis.
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Silenciar feroz dessa existência, Na marca da pantera na garganta A faca adentra fundo e se garanta O fim de qualquer passo em prepotência, O tanto desta sorte sem cadência O tempo na verdade se adianta E a morte em tal sangria, traz a manta Marcada pela fúria e inconseqüência. Gestara qualquer forma de sonhar, Galgando cada estrela e este luar Ainda que em fantástica ilusão, Depois de certo tempo percebi O quanto no caminho desde aqui Traçara em tal mortalha a vida em vão.
49
A noite s’aproxima, vem inteira A lua que eu buscara desde quando O tempo noutra face se nublando Gestando a dor temida e costumeira E o riso se anuncia por bandeira De quem outrora fora quase infando, E tudo em minha volta transbordando O sonho que em verdade tanto eu queira. A sorte em nova face agora eu vejo E sinto este momento em azulejo Traçado pela paz do amor sincero, E nele se percebe claramente O quanto de mim mesmo se apresente Trazendo o quanto sonho e sempre quero.
50
Procuro noutros braços por talvez O sonho que gerara no passado E agora noutro tempo, em tolo enfado, Deveras com certeza já não vês, Cenário quando a vida se desfez Outro momento eu sinto degradado, E quando mergulhando eu desagrado A vida modifica rumo e tez. Na sórdida presença de uma tensa Realidade aonde não se pensa Senão na fúria atroz e realista A dita sonegando qualquer rumo, Aos poucos sem ninguém eu já me esfumo E nada no final que a sorte avista.
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Encontro a solidão por companheira, E tento discernir qualquer alento Aonde na verdade o pensamento Não traz sequer a luz como bandeira E tanto ser feliz quanto se queira E bebo o mais temido sofrimento Na face deste torpe alheamento Ainda tendo à frente esta ladeira. Acode-me somente a poesia E nela novo tempo fantasia Esta alma sem respaldo de um amargo E tosco caminheiro sem legado, O peso do viver tem maltratado E a voz a cada não bem mais embargo.
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Não quero mais sentir esse bafio Da vida se esgotando em podridão, Apenas outros dias mostrarão O quanto disto tudo eu desafio, Mas vejo o sortilégio em fino fio E o vento sonegando a direção Esbarra na semente em solidão E gera novamente um vago estio. Descrente deste encanto aonde há tanto O mundo que eu buscara e não garanto Trouxera pelo menos qualquer paz, O risco de sonhar e ser talvez O quanto em esperança nada vês Tornando o dia a dia mais mordaz.
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Nem quero mais lutar inutilmente A sobra do que eu fora; se perdeu. E o passo neste mundo outrora meu Agora novamente se desmente E gera a cada curva outra serpente Marcando com o bote o que se deu No sonho mais audaz e pereceu O tanto que eu buscara, num repente. Renasço destas cinzas? Sei que não. O passo se mostrando em direção Contrária à que se mostra mais plausível O sonho transformado em impossível Esbarra no vazio onde se dera Gerando a cada espaço nova fera.
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Pudesse simplesmente me encontrar Resíduos que espalhara como rastros Gerando novos dias destes lastros Aonde nada tenho nem o mar, E quando poderia enfim amar Ainda mergulhar além dos astros E tanto se fizessem de alabastros O encanto mor da vida, meu altar. Romântico talvez, um sonhador, Mas quando a vida rouba algum frescor Tornado a primavera mais distante Neste outonal caminho verso só, O sonho se desfaz e nem o pó Do quanto imaginei já se adiante.
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Ao ritmo de boleros, tangos, tanto Momento do passado e agora apenas Revejo como um morto velhas cenas E tento disfarçar meu desencanto. Ainda qualquer sonho eu me garanto Nas noites mais suaves e serenas, E quando em realidade me condenas O todo se transforma em tosco manto; Senilidade invés de luz aonde O tempo na verdade não se esconde Nem mesmo diz do olhar queimando breve Ardências de um verão que não verei A morte desenhando a minha grei A cada novo dia mais se atreve.
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Esboço algum sorriso mesmo quando A neve agrisalhando meus cabelos, Difícil revelar ou mesmo vê-los No templo a cada dia desabando, O mundo noutra espreita se tomando Enveredando em mim torpes novelos Porquanto inda tentasse em novos zelos Cenário noutra forma se traçando. O fim em dor somente e nada além Da mera penitência me contém E resto em desalento e desafeto, O tanto que sonhei e nada tinha A sorte quando eu quis nunca foi minha Apenas no não ser eu me completo.
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Espreito o meu olhar de antigamente Na face desdentada de hoje em dia E o corte a cada passo mais urdia A fúria sem igual, tosca e inclemente A própria realidade já não mente E todo este sabor não saberia Quem vive tão somente esta utopia, Inverno me tomando plenamente. Espalho cada parte do que fora Uma alma muitas vezes sonhadora Perdida entre os enredos mais cruéis E cirzo com temor o quanto resta Não vejo na verdade qualquer fresta E bebo dos meus dias fartos féis.
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Quantas vezes vi além Do que tanto quis somente Quando a vida não desmente E em verdade nada tem Resumindo este desdém No vazio impertinente Onde quer que ainda tente A receita não cai bem. Meu sentir aflora enquanto Desnudando o velho manto Resumira o verso em não, Restaurar meu universo, Num momento tão disperso? Dias novos não virão.
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Tanta coisa por fazer Nesta vida e nada tenho A não ser o mais ferrenho Desmedido desprazer, Ao tomar inteiro o ser O que busco com engenho Na verdade de onde eu venho Já não soube amanhecer. Violeiro e repentista O que tanto já se insista Nada faz e somente isto Tanto basta quando ajuda, Numa vida tão miúda Teimo sempre e não desisto.
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O meu verso bebe a lua Sertaneja dama exposta No caminho onde composta A beleza continua Mesmo após a farsa crua Deste não como resposta O carinho não desgosta Quem no amor teima e cultua; Restaurar meu passo aonde O sertão em mim se esconde E talvez respire fundo, Mascarar a minha sorte, Ao tentar novo suporte, Vasculhar inteiro o mundo.
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Um poeta busca as rimas Onde quer que o sonho esconda Deste mar reflete uma onda Onde apenas me redimas, E mudando velhos climas A saudade faz a ronda E talvez já não responda Ao que tento em vãs estimas, Não suprimas o meu sonho E se tenho ou me proponho Nele vejo este resgate De uma vida atroz e dura, Onde nada mais perdura A não ser o que maltrate.
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O tesouro em verso feito Pelas mãos de um grande artista No que tange ou mais insista Deixa o olhar mais satisfeito E deveras me deleito Quando o canto já se avista E o luar não mais despista Toma todo em prata este eito. Argentina maravilha Que deveras se polvilha Em estrelas, pirilampos, Sou falena simplesmente E decerto ainda tente Reviver em mim os campos.
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Ao cantar em tantas luzes Farto brilho produzindo Um cenário claro e lindo Onde logo me seduzes E decerto ao mor conduzes Neste altar prata luzindo Lua cheia discernindo Entre os cânticos reluzes; Ver-te nua, lua bela Nisto a sorte se revela E permite em rara teia O futuro iridescente Quanto mais amor se sente Mais a noite se incendeia.
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Consagrando a ti um verso Onde eu possa declamar A beleza do sonhar E rondar todo o universo, E se tento ou mesmo imerso Neste raio de luar Novamente irei cantar O meu sonho a ti disperso Claramente a deusa toma E deveras traz a soma Do maior ao mais profano, No caminho em tom sublime Toda a glória quando rime Coração, deus soberano.
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Nos cristais que derramaste Pelas ruas quando passas, Ao sentir noites escassas No caminho em vão desgaste Logo em ti tudo contraste E o silêncio quando traças Pelas ruas, pelas praças A beleza que entranhaste Ao vestir em ti a lua Tanta sorte sempre atua E flutua quem te vê A clemência desta vida Noutra face sendo urdida, Tem agora o seu por que.
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Não mais quero ouvir o brado De quem tanto se fez vil, O meu canto presumiu Novo tempo em doce fado, Ergo olhar ao prateado Caminhar em manso ardil, E deveras já se viu Meu olhar enamorado, Enluaro o coração E semeio desde então Nova sorte nesta trilha Onde a vida se traduz Num lampejo em rara luz E decerto também brilha.
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Com vital rusticidade O meu passo se interessa E deveras se confessa Com ternura que me agrade, O temor já na verdade Noutro rumo se endereça Quando a sorte vem sem pressa Dominando em claridade Liberdade sobre nós Bela dama clama em voz Mais sublime fantasia, Tento além de meramente O caminho onde apresente Tanto amor no dia a dia.
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Da viola que ponteio Acordando o coração Acordes, diapasão Num luar enorme e cheio, Outra sorte em devaneio Novo rumo em precisão, Tantos sonhos tomarão O caminho onde rodeio, Vago em ti enluarado E decerto algum recado Neste brilho mandas quando, O meu peito sem defesa Deste amor é mera presa, Também vai se enluarando.
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A linguagem deste olhar Dita mais que qualquer voz, Quando o sonho vive em nós Eu entendo o quanto amar, Desenhando em lua e mar A beleza traça os nós E deveras ao feroz Aprendendo a acalentar. No resumo desta vida Tantas vezes a saída Foi deveras tão sutil, Mas ao ver na imensidão Teu amor, raro clarão, Paraíso então se viu.
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Ao reinar a natureza Sobre as fúrias desumanas Onde a sorte; não profanas Traz o raro com certeza, E se vendo tal nobreza Na verdade não te enganas Bebes também quando emanas A gentil, rara clareza, Endeusando a cada verso A rainha do universo A deidade onde me entrego Pelos mares dos teus braços Entre dias turvos baços, Nobres sonhos eu navego.
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O buril de quem deseja Tão somente ser feliz E a verdade contradiz Mesmo em noite tão sobeja Ao traçar onde verdeja Esperança que eu bem quis, Na incerteza ou por um triz Outra face já dardeja, Latejando esta saudade Quando toma e me degrade Vasculhando tudo em mim, Da emoção imensurável Ao caminho lamentável Do princípio dita o fim.
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Águas claras, cachoeiras Entre luzes e esplendores Onde quer e mesmo fores Noutro tom; já não mais queiras As dolosas, traiçoeiras Invernais grisalhas cores E se bebes redentores Tuas pernas são ligeiras, Transparece a cada olhar A beleza a nos tomar De uma senda em elegância, Na regência deste sonho Cada verso que proponho Bebe a paz em abundância.
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Vento açoita teus cabelos E transcende à própria luz Quando em ti já reproduz Meus delírios. Posso vê-los E deveras nestes zelos Farto brilho me conduz E se tanto outrora opus Hoje sonho até contê-los Verso sobre cada ponto Deste encanto onde me apronto E mergulho sem defesa, Leda cena do passado Noutro esmero o desenhado Caminhar em tal beleza.
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Lira entoa em cantos nobres O que a vida poderia Transformar da fantasia Que deveras já descobres E se em paz agora cobres O cenário moldaria Nova face, alegoria Outonais tons destes cobres. E na cúpida certeza De outro tempo em tal beleza A verdade é conseqüência Do caminho aonde a sorte Com pureza nos conforte, Mas também viva eloqüência.
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Noutros tons, sobejas vozes Entoando estas canções Onde o mundo tu me expões Escorraçando os algozes, Mesmo em ares mais atrozes Novos ritos e emoções Geram raros turbilhões Maviosos e ferozes, Seduzido em tal loucura Meu amor teima e perdura Envolvido pelo passo Captando esta imensa luz Nela a face reproduz Deste sonho que ora traço.
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Lapidando com cinzel Soberana natureza Deslindando tal beleza Reina nua neste céu, Quando vejo a mão cruel De quem tanto se faz presa Da vontade e da grandeza Envolvido em fátuo fel, Resumindo a vida nisto, Noutro tom eu teimo e insisto E procuro a salvação Entronada em lua cheia A saudade me rodeia E me mostra a direção.
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Quando o coração se prima Pela lúcida beldade Que o olhar inteiro invade E deveras muda o clima Novamente nos redima Da fatal dura inverdade No caminho onde degrade Natureza esta obra-prima. Restaurar cada pedaço Renovando quando traço Meu sonhar além do engodo, Bebo a sorte em serenata E adentrando esta cascata Olvidando além o lodo.
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O meu canto em tom suave Descortina a maravilha De quem tanto amor palmilha E em verdade nada agrave, Reparando assim uma ave Que deveras estribilha No cantar e compartilha A beleza e em cantos crave Cada verso latejando Na garganta desde quando Percebera a sutileza Desta cena em ouro puro Neste sol onde emolduro O sonhar, vital beleza.
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Um canoro sabiá Sabe mais em poesia Quando além canta e assobia E o meu rumo domará Na beleza desde já Envolvida em fantasia O mergulho me traria O que o sol revelará. Seduzido em canto e glória Revelando a merencória, Mas suave voz a entranho E percebo tanto alento Nestes tons soltos ao vento Nem de longe os acompanho.
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Ter na voz este improviso Feito em canto a cada instante E se tange e me garante Esta lira em tom preciso, Pressentindo o Paraíso Nele bebo doravante O meu mundo alucinante Sem saber sequer juízo, Vasculhando cada ponto, Onde tento e já desponto O luar que existe em mim, Como fosse flórea estrada A manhã ensolarada Reaviva o meu jardim.
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Quem tenta discernir sem ter firmeza Jamais poderá ver o próprio rosto No quanto pela vida; decomposto, Transcende ao pudesse uma certeza, Resvala na fatal tola impureza Pagando com a sorte, vago imposto Jorrando mesmo quando a contragosto O agosto faz de ti a mera presa. Ecléticos caminhos são vorazes E neles com certeza te desfazes Tentando a mansidão aonde há fera. Evade-se a verdade quando miras E teimas em sofríveis vãs mentiras Enquanto a própria história o degenera.
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Ao pouco ou ao demais que a vida obriga Quem teima em ser apenas o retrato Mal feito do passado onde resgato A cena mais terrível, leda viga. Decompor minha senda e até prossiga Seguindo cada curva do regato Aonde em sortilégio não contacto O rastro de quem fora a não me abriga. Determinando o rumo em tom mais grave, Apenas outro tanto que o entrave Estanca no estuário da saudade, Revelo meus heréticos fascínios E perco a sanidade em tais domínios Senilidade assim domando invade.
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Quisesse nas ternuras mais sutis Gestar outro caminho aonde esconde A vida noutra face ou noutra fronde De todo o meu caminho, a geratriz, Respaldos onde outrora me desfiz, A saga noutra voz já não responde Irônico fantoche sabe aonde O tempo noutro tempo o contradiz. Arrenegando assim a própria dita O tântrico desejo necessita Da paz sobeja a cada passo além, Telúrica beleza desta sebe Olhar enamorado se apercebe E toda a sutileza em paz contém.
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O quanto sem saber nos acometa A vida em aço e brasa, fogo e fúria Espalha a cada passo outra lamúria E gera a sorte fosse algum cometa, No tanto quando posso e não prometa Fartura se bem bebo da penúria A sorte se transforma em mera incúria Jorrando desconexa em tal falseta, Falácia não responde ao que procuro, E quantas vezes tento em solo o apuro Que possa permitir semeadura A carta desenhada em aridez Mapeia com angústia o que tu vês Fortuna nesta face se amargura.
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Aonde mais ditosa vira a vida Num antro aonde bebo com fartura Sangrenta e virulenta esta armadura E nela se percebe a voz sofrida No quanto a própria insânia nos agrida E tento com firmeza o quanto dura A sorte noutra escusa e se emoldura À sombra do sonhar adaga urdida. Não sei senões e sim somente o fato Se eu tento algum provento e já resgato Prenunciando enfim um novo dia, Aonde com certezas e talvez Ainda da maneira que se fez O rumo noutra face mostraria.
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Chegado o ledo instante e nele apenas As hordas mais danosas logo eu vejo, Escasso caminhar dita o sobejo Delírio e nele sei de velhas cenas, Porquanto se tingissem mais amenas As sombras dos meus ditos; não prevejo Sequer alguma messe em azulejo Enquanto a cada verso me condenas, Escarras sobre o túmulo onde escondo O mundo e na verdade não respondo Iníqua criatura em tons sublimes, O quanto me maltratas, não percebes, Destroças o que resta nestas sebes, E ao mesmo tempo assim tu me redimes.
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Tentacular anseio me coíbe De crer noutro desejo mesmo quando A face se transforma e demonstrando O quanto do passado não se exibe, O farto desenhar tanto proíbe E gera na verdade este ar nefando, O rumo noutro tanto desmembrando Meu passo com certeza este erro inibe, Esta enganosa mão que assim se trama Desenvolvendo a fúria em tosca chama Restaura os meus ermos mais sombrios, E tanto me abandona quanto sorve O canto noutro tom já não se absorve E perco a direção, escassos fios.
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O quanto a própria vida nos apronta E gesta a solução herdada quando O manto se desnuda demonstrando Continuidade após nova vergonta E sei que a solução assim desponta E traça em mutações ou noutro infando Desejo o meu cenário se formando À parte do momento nada conta. Represo em tal barragem o meu sonho E quando novamente recomponho No filho ou mesmo até no neto ou mais, Esboço a própria vida em tom etéreo, E quando se presume sem critério, Mistério se transcorre em divinais.
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O manto mais excelso onde desnudo À sombra de frondosas alamedas E nesta cena então tanto concedas Enquanto o passo dado é tão miúdo Resumo o meu delírio e sei; contudo, Que tanto quanto posso me enveredas Ousando condenar ou logo cedas Vestindo a fantasia onde me iludo, Idólatra; talvez, mas sou sincero E quando a solução teimando espero Arcando com enganos condizentes Expresso em tom suave ou mesmo atroz Hedônico e mortiço tento em nós Viver o que jamais tu ousas; sentes.
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Sepultas dentro em ti o meu demônio E bebes da satânica figura Herdada como tal caricatura Gerando às vezes torpe pandemônio, E tanto quanto aumenta o patrimônio A sorte desta vaga criatura Deveras a riqueza que assegura A quem destes milagres é campônio. Mecônio desta herética mortalha Enquadra a realidade e logo espalha Arcando com engodos tanto após Empalideço enquanto tento o mote Diverso deste quando se denote Arcaico delirar em tosca voz.
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Ao dar vazão às tantas aflições Em tons diversos bebo do abandono E quanto mais audaz me desabono Maiores os terrores onde expões A face caricata de aldeões Reduzem meu caminho e nada adono Senão os meus delírios e ressono Ouvindo ao longe os berros dos leões Aspirjo dentro em mim os ledos ermos E sei da divergência destes termos Historiando a vida em tons cobardes, Assim ao menos sei que enfim retardes O passo muitas vezes mais cruel Tomando em vil negrejo o vasto véu.
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A sorte a cada espaço; vigiá-la Permite esta permuta aonde um dia O amor em nova luz transformaria O quanto desta voz se faz vassala, Aonde o meu delírio me avassala Respaldo noutro tom já não teria, E bebo da sobeja fantasia Enquanto o meu caminho é feito à bala; Nas valas, nos esgotos, roedores Destinos onde tanto quer e fores Gestando o mais terrível desalento, E quase se percebe este sarcasmo, Tangenciando a vida e num espasmo Futuro mais suave até que tento.
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Desta ordem natural já não mais teço Eclética vergôntea onde pudesse Manter quem sabe mesmo esta benesse Tentando preservar este endereço, O verso não seria um adereço É como uma oração, sobeja prece E quando este caminho a vida esquece Inevitavelmente um vão tropeço; Espalho no arrebol a voz de quem Resvala no tão pouco que inda tem E tenta nova face em mutação, Herdando este semblante sonhador, Tateio na procura de um louvor Ao refletir após; à geração.
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Se o canto muitas vezes faço hermético Expresso com a voz de quem procura A solução fugaz e se afigura O mesmo desenhar que é tão eclético, O tom aonde o mundo é mais poético Gestando em si a própria criatura Eclode noutro canto e se assegura Caminho tantas vezes quase cético. Amor grande cetáceo soberano, Entre as diversas luzes gera além O todo quanto pode e mais convém Traçando a maravilha em torpe pano, Da gênese da vida ao sentimento Ditame mais sublime onde me atento.
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Ao tanto quanto posso e desfaleço Ousando ser fiel aos meus caminhos Por vezes tantas dores são espinhos E deles cada tom eu reconheço, Não quero ser apenas o adereço Expondo os meus cenários mais daninhos, Mas bebo deste encanto, raros vinhos E neles faço a sorte em que me esqueço. À mesquinhez exposto quando quero Um tom harmonioso ou menos fero Enorme contra-senso se apresenta O mundo desvendando um novo código E tento ainda assim manter-me pródigo Embora ao meu redor, face sangrenta.
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Um númen tão somente, um raro totem Aonde mergulhara a fantasia O amor noutro cinzel não bastaria Não tendo mais palavras que o denotem, E quando os sentimentos tantos notem Percebas quão sutil se tornaria A vida em tom mais claro e não sombria, São cores que no gládio não derrotem. E teimo contra a fúria das marés Até por ser amor quem sei e se és Deidade sem igual sílfide rara Edênica figura transformante Afrodisíaca luz já se escancara E toma tudo agora e doravante.
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Enastro-me nos sonhos quando os tem E bebo cada gole e sem fastio, O infausto desta vida eu desafio Embora de ti siga muito aquém O todo tantas vezes diz desdém E traz somente a dor em duro estio E quando em fantasias me inebrio Extasiado sonho isto contém, Enlaço os meus caminhos junto aos teus E sei quanto é difícil um ledo adeus Por isto é que jamais de ti me afasto, À cântaros minha alma se derrama E torna mais audaz a forte chama Do sonho mais sutil profano e casto.
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Na cúpida beleza em majestade A lua se desnuda argêntea e imensa No amor que tantas vezes nos compensa A voz gera diversa claridade E quando este cenário, o canto invade A vida não e faz decerto tensa, E toda a sutileza em recompensa Impede a queda enquanto nos agrade. Deixando no passado o tão somente Delírio aonde a vida impertinente Expõe a garatuja mais cruel, Desnudo-te soberba deusa quando Viola sertaneja ponteando Deslinda alabastrino e raro véu.
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Aonde não se faz a sorte inusitada Meu verso te procura e nada mais desvenda O amor quando é demais além da própria lenda Expressa em tom suave a imensa e bela estrada Pudesse adivinhar a cada caminhada Cenário aonde a lua expressa e sem contenda Além do próprio céu numa alma já se estenda Reinando soberana além da madrugada, Explodem dentro em mim supernas maravilhas E nelas tento ver o quanto em sonhos trilhas Simbolizando a vida o amor sem paralelo, Assim ao me entregar sem ter qualquer vergonha No fato e pelo tanto enquanto o canto exponha Desnudo esta beleza enquanto paz; revelo.
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Num ar sutil aonde já não temo Sequer a desventura mais profana A sorte na verdade não me engana E tento quando em ti amor; algemo. Reflito esta emoção e tento o remo Atravessando o pântano não dana Minha alma em lamaçal que desengana E visto a fantasia e afasto o demo, Cerzindo em paz o quanto ainda gesta A vida na alegria e não funesta Erguendo sobre bases mais fecundas, E quando mais além do próprio encanto O sonho junto a ti eu agiganto De amores e de messes tu me inundas.
MARCOS LOURES FILHO
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