a morte, estranha.

Data 29/07/2010 12:53:18 | Tópico: Textos







tinha um nome clandestino, um código de guerra fria, um grito de paz podre. chegava com o corpo ao colo e todos os dias procurava um pedaço de terra capaz de suportar todos os seus ossos. um dia conheceu uma árvore num terreno fértil, tinha o seu nome e dava frutos, frutos sem nome ou com um nome difícil de pronunciar. falava-lhe de homens mortos de frio quando adormeceu. a árvore deu meia volta sobre si mesma para lhe dar sombra, aconchegou-lhe as raízes ao corpo, baixou os ramos até as folhas o cobrirem. quando ele acordou o tempo estava parado no pescoço da árvore e todos os lugares desciam numa encosta que começava na árvore e acabava no olhar. feliz desatou a correr encosta abaixo, pelo caminho tropeçou num rosto de mulher e chorou. chorou tão alto que as nuvens se juntaram no espaço de céu acima da sua cabeça. soube então que a morte corre nos lugares onde se é feliz. o corpo dele foge agora com o rosto ao peito.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=143933