SE ME DEIXARES

Data 29/07/2010 19:03:26 | Tópico: Poemas -> Amor

Se me deixares
Nem por isso eu morro!

Levarias no teu olhar
A luz dos meus…
Esse olhar de céu
Que me prende no fascínio
De uma ilusão possível
A ilusão que vivo
Agarrado à fímbria de uma nuvem
De sonhos feita
Que me transporta para dentro de ti!
Oiço o teu coração bater
E os meus olhos ficam transparentes…

Se me deixares
Nem por isso eu morro!

Levarias nas mãos
O vento quente das minhas…
Essas mãos de veludo
Que dançam na minha pele
Agitam nervos e vontade
Transportam-me para o delírio
Duma emoção de sóis
Quando nadamos nos mares de nós
Descobrimos na baía do corpo
O prazer alucinado de uma pertença
Que é somente nossa
Como o mundo que nos rodeia
Preenche de risos o suor.
Essas mãos de astros
Desenham no peito o amor!

Se me deixares
Nem por isso eu morro…

Levarias no coração
O bater do meu…
Pelo chão a mortalha da carne
Feita desejo
Que foi tua
Que foi possuída
Até ao limite de um beijo!
Quando nas horas de tédio
A tua pele trigueira flamejava
A minha pele alva te reclamava
Um extenso delírio de ave
Chamava a mil vozes por ti
No cimo de todas as catedrais
Um sino imenso tocava
Todas as canções de amor já cantadas
O teu nome era bradado por todas as ondas
No estonteante marear na praia!
Se alguma estrela
Ainda vier dormir no meu travesseiro
É porque a misericórdia do meu ser
Se lançou pelo ar feito apelo
Feito garrafa de mensagem no oceano
Se agarrou ao desespero de uma luz trémula e insegura
Se propôs adormecer no teu lugar
Ao lado do passado que inventámos
Onde o meu corpo se deleitou num caixão de suspiros
E ficou feliz por nunca estar só
Nem ter a solidão por companhia!

Se me deixares
Nem por isso eu morro!

Levarias na tua alma
A luz da minha…
Essa luz sublime que existe
Em todas as crenças
Que nos fazem acreditar que a morte
É apenas um estágio
Uma passagem
E que outra vida nos espera
No fundo de algum lugar
No antro de algum paraíso
Criado com o intuito de minimizar a dor
Ou nos fazer crer na continuidade da vida
Quando acreditamos que é difícil existir
Sem a luz que brilha no âmago do desejo
E que todos os sentidos fazem parte de alguma coisa
Transcendente e obscena
Algo maior que o desejo fútil de nos pertencermos
Quando os nossos corpos reclamam o luar
E todas as emoções se condensam
Num oásis translúcido de paixão.

Agora é possível crer que o mundo pára!
Agora é possível ver-se a fusão da luz!
Numa palavra rasgada
Num gesto subtil
Num animo que grita
A tua partida de todos os cais
Eu
Atento à tua presença
Deixo-me levar pelo volume da solidão
Que se arrasta como chumbo a meus pés
E sem que saiba como seria esquecer-te
Sei apenas o quanto é bom respirar-te…

Para Marco Gomes

28 JUNHO 2010

antoniocasado



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