
Insônia: no país de mil e uma noites de espertezas (AjAraujo)
Data 30/07/2010 17:43:19 | Tópico: Poemas -> Sociais
|  Noites de tormento, Nenhum alento...
Deitar no silêncio do outono Em uma terra de rei sem trono...
Ver as folhas que voam E distantes caem e se amontoam...
Como os rebentos que nascem E que ofegantes perecem...
Noites de cefaléias Sem o perfume de bromélias...
Rolar a cabeça insisto Ao sono desafiar o visto...
Das árvores que se imolam Na correnteza do Amazonas rolam...
Como os sobreviventes no país Da gente que insiste ser raiz...
E ter na fome e na miséria Sua sina, de José a Quitéria...
E corar ante a corrupção deslavada Não ver a cor da grana em paraísos fiscais lavada...
E diante da contumaz exploração Indiferentes marcharem trôpegos sem ração...
Mas dos troncos ceifados das matas e ventres, surgem arados...
Que vêm despertar a ira, inda que feito bando Contra o império da desordem, dos desmandos...
E dizer chega desta mixórdia De tanta insensatez e luxúria...
Estar no limite, de não mais suportar Este constante estado de guerra silenciosa, abortar...
Deste consentido genocídio, Deste infinito e indevassável latifúndio...
Acumular de um lado dores, rancores, bolores, De outro desprezo, cobres, dólares...
Afinal, vivemos em um país cuja presteza É se orgulhar de pagar a conta a sua alteza...
Insone, ter medo de dormir, ter pesadelos Insônia, cegueira, surdez, sonhos, melhor não tê-los...
Pois, ao acordar, diante da realidade, com certezas de viver no país das mil e uma noites de incertezas (e espertezas)...
AjAraújo, poema protesto sobre a crônica corrupção em nosso país, escrito em 2001.
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