Tinha perguntado aos oráculos pelas novas, profetizadas há muito, diziam-me ser o escolhido nefasto mal que purificaria o mundo. Dei-me por inteiro, abrasei as roupas quentes, despi a mortalha, lancei um véu, em lamentos dormentes, custa-me adormecer, passo pelas noites antigas, recheadas de aves e sons estranhos, custa-me o sono intenso que não chega, que me consome os olhos, canso-me da nascente estagnada, de águas lentas e vorazes, que teimam em passar sob as pontes, que teimam em fluir no sangue. Sou selvagem por natureza e guerreiro por escolha infame, uma ave de rapina de tez negra e asas petrificadas, no alado esvoaçar, um predador inocente, ávido da noite oculta, transformada em prazer. Ando pelas areias molhadas que me queimam a pele na ilusão, percorro os trilhos da maré, cavalgo as rochas isoladas, vem-me ao rosto o nevoeiro, frio, calmo e morto, no oceano deposito meu tesouro, estagno com as fontes no topo das montanhas e deleito-me com a inércia, canto-lhe uma canção torpe e parda, cinza e esquecida. Faço um pacto com o vento, dou-lhe todo o meu saber, faço um pacto com a brisa, dou-lhe toda a minha dor.