Custa-me o sono que não chega (Versão YouTube)

Data 31/07/2010 21:57:57 | Tópico: Poemas



Custa-me o sono que não chega

Tinha perguntado aos oráculos pelas novas, profetizadas há muito,
diziam-me ser o escolhido nefasto mal que purificaria o mundo.
Dei-me por inteiro, abrasei as roupas quentes, despi a mortalha,
lancei um véu, em lamentos dormentes, custa-me adormecer,
passo pelas noites antigas, recheadas de aves e sons estranhos,
custa-me o sono intenso que não chega, que me consome os olhos,
canso-me da nascente estagnada, de águas lentas e vorazes,
que teimam em passar sob as pontes, que teimam em fluir no sangue.
Sou selvagem por natureza e guerreiro por escolha infame,
uma ave de rapina de tez negra e asas petrificadas, no alado esvoaçar,
um predador inocente, ávido da noite oculta, transformada em prazer.
Ando pelas areias molhadas que me queimam a pele na ilusão,
percorro os trilhos da maré, cavalgo as rochas isoladas,
vem-me ao rosto o nevoeiro, frio, calmo e morto,
no oceano deposito meu tesouro,
estagno com as fontes no topo das montanhas e deleito-me com a inércia,
canto-lhe uma canção torpe e parda, cinza e esquecida.
Faço um pacto com o vento, dou-lhe todo o meu saber,
faço um pacto com a brisa, dou-lhe toda a minha dor.


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