in par.

Data 31/07/2010 23:48:38 | Tópico: Textos






quando o chamei tinha arrancado os braços do corpo, queria dar-lhos, num abraço que durasse trezentas e sessenta e cinco noites. dois braços a um pescoço dados, abrir a boca, tocar-lhe na parte mais escura, onde dói mais o frio e as horas não faltam. talvez depois me ouvisse dizer espera. quando o chamei trazia o mundo às costas do corpo, morto. depois do mundo podia ver-se um horizonte imóvel. ao fundo, lá estava ele, na melhor memória que dele tinha. delgado e fino, a roupa chegada ao corpo, a boca aberta, o riso em espanto, o ar sereno. um palmo de terra nos olhos secos. dentro, uma varanda com vista para o mar. tenho a certeza que o habitam os peixes, como no céu os pássaros voam. e são de corais feitos os seus gestos, as suas mãos pedaços de algas, o seu amor uma medusa. quando o chamei de cego não me ouviu e o coração doeu-me até aos pés.







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