
O Poeta e a Morte
Data 05/08/2010 15:20:21 | Tópico: Poemas -> Góticos
| O POETA: Ó cavaleiro que se aproxima! De onde vens?!...O que trazes no alforje?! Trazes por acaso a vindima, Que tanto tu ceifaste pelo norte?!
Ó, macilento cavaleiro! Apeia teu cavalo!...Por que ficas reservado?! Aproxima-te, execrável companheiro! Senta aqui a meu lado!
Diga-me!...O que nesses campos ceifaste! Conta-me!...Quero saber! O que por estes lugares encontraste?! Acaso foi esta sombra, o sofrer?!
E ficas calado!...E não falas, meu amigo?! És bem assim, temeroso com as palavras?! Fala-me!...O que tens comigo?! Vês?!...Tudo me é na vida é sem aldravas!
Não precisas ter receio! Diz-me!...O que te diz meu peito ofegante?! O que te diz meu rosto cheio Da dor que me perpassa o semblante?!
E me olhas todo enfastiado... E murmuras um sonido lacrimoso de pena?! E o que me é o tempo passado?! Se a vida nesse momento é tão pequena!
Vês?!...O meu olhar vai cabisbaixo! Olha o que trago dentro da alma, o fadário! A dor que me fere o peito, como o aço Fere o mármore, nas mãos do estatuário!
Fale-me!...Por acaso és também moleiro?! Sinto em ti, os grãos sovados nos moinhos! Responde, ó infausto cavaleiro! O que bem trituraste no caminho?!
E vão os moinhos, e tanto, cansados... E vão girando as pás, na paz do momento! E o que são esses pobres coitados?! Senão escravos mortiços do mal tempo!
Como D. Quixote queria ter lutado! Sim!...Lutado a teu lado, ó funéreo amigo! Pelo menos, assim, não teria sonhado, Encarar-te como se encara um inimigo!
A MORTE: Pelejei por esse mundo tão bem! Guerreei contra príncipes, reis, imperadores! Carreguei tantas almas para o além, E nunca lhes concedi nenhuns favores! Então - se me tens por inimigo -, lute! Como bem lutaram em Cartéia, os mouros! Como lutaram esses cristãos ilustres, Que ora descansam serenos com seus louros!
E estás como que, aparvalhado! Vês!...Vou-me todo impetuoso nas batalhas! Vou-me sem receios, tresloucado! Minha foice corta tudo, e nunca falha!
Hammurabi criou austera lei! Mas fui eu quem a aplicou com severidade! Vês as cabeças desses reis?! Muito eu as sopesei em mortandades!
Não temo a autoridade de Deus! Sou eu - em tudo -, um audacioso cavaleiro! O último alento da vida!...O adeus Que muito há de tocar a fronte por inteiro!
Shelley recostou-se nessas sombras! E adormeceu sossegado nos meus braços! Dele, são esses campos, as alfombras! Que tanto pisoteio com meus passos...
Vês?!...As Valquírias são minhas amantes! E nos amamos pelos campos!...Nos vales! E em regozijo, vamos todos, delirantes! Sopesando os que morreram nos combates!
O sangue se esvai rubro, nas escarpas! Tão azul!...E plebeu!...Vermelho timoneiro! Sorvo em cálices, a dor dessas fragas! Que tanto trago nos alforjes, todos cheios!
Montado!...Bucéfalo pisoteia com as patas! Em passo a passo, o sevo pasto... E as aves vão bicando as carnes putrefatas! Que tanto lhes são nos campos, o repasto...
E nas falésias - uma triste sombra -, chora! És tu, que padeces tanto nessa dor?! Sei que as pessoas choram nessa hora! E ter contigo neste instante eu vou!
O POETA: Neste caso, deixemos de tanto palavrório! “- O que bem queres?!... Se tudo tu bem sabes?!”
A MORTE: O que quero e o que te digo, é peremptório: “- Já é hora que tua vida neste mundo se acabe!”
(® tanatus - 17/06/2009)
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