
NAS MINHAS MÃOS
Data 06/08/2010 16:05:29 | Tópico: Poemas -> Sociais
| Das minhas mãos abertas Solta-se o mel da fé Em catedrais de luz e movimento Bocas que juram Junto das sóbrias raízes dos pinheiros Estandartes de estrelas Bandeiras galácticas Acórdãos de felicidade e luar Reflectidos nos lábios dos peixes Como sinónimo de alguma futilidade Arrancada a ferros à mentira Num porto de alucinadas visões…
Das minhas mãos… Das mãos abertas Qual cratera aberta no peito Solta-se o mal O pungente ácido da verdade Rasgada a garganta com foices e enxadas Enxurradas de pleitos e duelos Dardos que ferem o silêncio Das bocas que não falam porque as palavras Definem cantigas de escárnio E os tempos modernos apenas copulam Metáforas sem sentido nas artérias do tempo Onde as vidas comuns não correm Paradas que estão sobre os batelões dos rios Vazios Envolvidas num casulo de lã e linho A ruminarem nos átrios das escolas Onde as crianças se esforçam por nada aprender Depois de conhecidas as lições De quem nada tem a ensinar!
Para que quero as mãos abertas Se quem passa na luxúria das ruas Ata-se aos maus tratos da carne Com o sorriso cúmplice de quem Pontapeia cães abandonados Esbofeteia crianças impacientes Escuta os berros descomunais dos machos Que querem impor às fêmeas vontades pessoais Incapazes de impor à sociedade qualquer coisa de valor!
Para que quero as mãos abertas Se o suplicio de uma sociedade cega Se cola às costas das minhas mãos E não permite que sinta nenhum calor? Só o vazio de todas as certezas reescreve No poço sem fundo das sabedorias O tudo saber da grandeza do nada Quando oxida nos olhos lacrimejantes O espectro de uma fé incontida e imprudente Que apenas se manifesta no peito Como um raio de futuro por acontecer…
Para que quero as mãos abertas Se ao invés do rastreio hipocondríaco da vida Uma multidão de mutilados Lança roquetes e granadas Convicto de fazer a guerra dos outros E exibe no peito manchado A insígnia de uma verdade De uma super nova Morta de ignorância!
É isso! Esse raio de futuro que nunca chega Que quero ter nas minhas mãos abertas! É essa raiz de futuro que exijo Nos olhos secos e ávidos de sorrisos De tanto crerem que o mundo seja melhor E acordarem pela manhã Cientes de que não o é! É isso…
Sobra apenas na minha mão A marca de um desejo de ser feliz Num futuro que ainda não começou…
Nas minhas mãos abertas…
António Casado 4 Agosto 2010
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