DEIXA EU IR NO TREM DAS ONZE

Data 06/08/2010 20:19:09 | Tópico: Poemas

Não se assustem com o título desta crônica. É assim mesmo: Deixa eu ir no trem das onze. Mais importante do que o meu aniversário,o dia de hoje celebra o dia de alguém muito maior do que eu.Se estivesse vivo, hoje, o poeta Adoniran Barbosa, codinome de João Rubinato, completaria cem anos.
É justo que os mais novos e os não brasileiros me perguntem quem foi Adoniran Barbosa.
Aos brasileiros é impossível que o não conheçam. Poeta dos subúrbios e das malocas, ator, humorista, ninguém como ele retratou a vida dos desvalidos desta minha São Paulo. Criou uma linguagem própria, tirada do bolso do seu paletó surrado, de uma caixa de fósforos, de um copo de pinga, até encantar os olhos da exigente Elis Regina:
"Se o sinhô num tá alembrado dá licença de eu contá..."
Rubinato era muito mais do que isso. Parece que o vejo agora na redação do velho Diário da Noite,na rua 7 de Abril, entrando no departamento fotográfico, para cochilar um pouco.
O terno cinza, o cachecol, não importava o tempo, a gravata borboleta, o chapéu. A voz muito rouca.
"Nós viemos aqui pra beber ou pra conversar?" - era o que ele dizia numa propaganda de cerveja, que fez pra levantar alguns trocados.
Um dia fez o Rio de Janeiro, que eu tanto amo, curvar-se a São Paulo. Seu samba O Trem das Onze foi o mais cantado no carnaval carioca, depois de uma frase infeliz do poeta, que eu sempre amei, Vinícius de Morais: "São Paulo é o túmulo do samba."
Deixou de ser. Com esse trem de Rubinato, que nunca foi das onze. O trenzinho da Cantareira, hoje não existe mais, era das sete da manhã. Mas fica sendo das onze, tá?! Seu Rubinato, um beijo pelo centenário.

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júlio


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