Matas-me quando estamos juntos

Data 06/08/2010 21:05:10 | Tópico: Poemas -> Desilusão




Se adicionas mel aos braços que envolvem o despertar
dos teus olhos amedrontados pela dor,
e subtrais viagens ao íntimo respirar das tuas mãos trémulas
no degrau mais baixo do segredo...
Não multipliques as palavras de sal púrpura
corrompidas na brisa falsa de sonhos que não virão.
Nem tão pouco dividas a génese dos teus lábios
sem soltar as velas do teu barco quase sempre ausente.
.
Em cada gesto crava o som na madeira doce que a pele desenha,
globaliza os teus gritos, aplica-os ao fundo que se repete.
Há tantas coisas que gostavas de fazer antes de eu partir
e eu apenas quero que saibas que há uma razão para as noites escuras.
A tempestade que se fixa tende a derrubar-me do centro das galáxias
em que pacientemente espero que a loucura desfaça a glória do fim.
.
O fumo sobe os degraus de uma época que passou;
a música que está a tocar na rádio não sabe argumentar
sobre as memórias que ficaram da rebelde transparência.
.
No meu céu as estrelas teimam em sucumbir
indiferentes à minha busca por um brilho mais intenso.
Os planetas desorientaram-se e as galáxias choram
a solidão que teima em permanecer com a tua ausência.
.
Um avião plana sobre a cidade frágil construída em mim
e aterra na pista onde os alvéolos são mais turbulentos.
Rodopio neste ritmo de ansiedade dançando na água de um copo
que cai ao chão sempre que me desloco sobre o soalho.
.
Já não me olhas nem tão pouco dizes aquelas palavras
que antigamente me preenchiam a alma com o azul límpido do céu.
Esqueceste tudo. Até o medo e a dor de qualquer coisa.
.
Hoje és como a sombra da noite escura: matas-me quando estamos juntos.



rainbowsky


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