...nada mais sei e sei apenas

Data 10/08/2007 18:17:38 | Tópico: Poemas

Imagens esmagadas estas as que guardo
em bolsos esburacados de jornadas.
Retalhos coevos, andrajosos,
recortes angulosos, de rostos aniquilados
ao mistério líquido dos fossos.

Reúno uma a uma, lágrimas ressequidas,
em ânforas depositadas em planícies abnegadas.
Na salmoura de mágoas, na flor pálida do sal,
desenho ladeadas,
em jeito de formaturas, mil cantos,
milenares epopeias de ternuras.

São partituras de espuma sobre a areia
e nelas, as formas ciclópicas do teu sorriso doce,
do teu sorriso aberto em taça de lua cheia.

Abolida, gaivota pávida,
não sei de mim nem do sentido das palavras,
nada mais sei e sei apenas, amar-te assim,
amar-te sem começo e sem ter fim
e, em cada molécula ausente,
exaltar-te perpetuamente em melodias serenas,
no embuço da sorte que nos trouxe o frio vento do norte.

Abolida de mim, desintegrada, insulada aqui
deixo que o desejo te viaje velas por dentro,
na sede eterna de espelhar a tua imagem.



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