
SONETOS FEITOS EM 12/08/2010
Data 12/08/2010 15:42:03 | Tópico: Sonetos
| 1 A sorte se dourando desde quando Buscara sem tropeço algum sinal Aonde poderia bem ou mal Tramar outro caminho, o desenhando Após a tempestade se formando Enfrento a cada instante o vendaval Sabendo desde já do meu final Há tanto noutro enredo se moldando. Erguendo o meu olhar, busco o horizonte E nele cada brilho aonde aponte Um sol imaginário e mais audaz. Mas quando me percebo solitário Meu mundo noutro rumo imaginário Quem sabe outro traçado feito em paz? 2 O tempo desvendando o que já fui E sei jamais teria outro momento Enquanto bebo a sorte e me alimento Do sonho aonde o nada inda reflui. Vestindo a solidão, meu mundo pui E o bêbado delírio exposto ao vento Dizendo tão somente em sofrimento Do quanto cada engano invade e flui. Esbarro nos cenários mesmo aonde O manto na verdade corresponde Ao gesto tanto audaz quanto vulgar. Depois de me perder em turbulências Agora ao perceber tais inclemências Encontro o mar e nele navegar... 3 Apenas sou quem sabe um convidado Neste banquete feito em heresias E nele tanta coisa; moldarias Deixando o meu destino no passado. E quando solitário enfim me enfado E bebo as tuas tolas fantasias Ousando nestas vãs alegorias O risco noutro engano desenhando. Vestindo as mesmas peças vejo o quadro E nele com certeza não me enquadro Bastando para tanto acreditar Nos ermos caminhantes do meu sonho E quando um porto além; busco e componho; Que faço se eu sequei em mim meu mar? 4 A vida se perdendo entrando pela Vala comum por onde cada sonho Que tenho na verdade decomponho Reinando sobre mim o quanto vê-la Depois de procurar em toda estrela O verso mais feliz; nada eu componho Vestindo o meu traçado que enfadonho Resulta nesta sorte sem contê-la. Preparo uma armadilha a cada passo E sei o quanto aquém eu me desfaço Erguendo o meu olhar sem ter aonde E quando se percebe um ledo brilho, Apenas no vazio ora palmilho E o nada após o nada me responde. 5 A vida sendo sempre esta editora De riscos, risos, prantos, medo e tédio Enquanto do passado sente o assédio Procura qualquer forma que inda fora. E sei da minha senda sonhadora E neste caminhar busco o remédio, Vasculho cada canto deste prédio Minha alma noutra face sofredora. Exposta ao temporal tão costumeiro, Esgarça sem colheita um vão canteiro E bebe deste amargo fel somente. E quando se pensara nalgum grão, Este árido caminho dita o chão E nada; nem meu sonho se apresente... 6 No quanto a vida traz esta objetiva Visão de um mundo claro ou mesmo vago, Das tantas impressões eu não me alago Morrendo sem qualquer luz, perspectiva Ainda que deveras sobreviva Ao temporal no qual bebendo afago O risco de sonhar embora mago Permite uma palavra mais ativa. Resumos de outros dias onde a sorte Talvez já nem conheça nem comporte O tanto e nisto o pouco se resume. O coração vagando em noite escura Deveras sem juízo e em vão procura Além de qualquer sonho, mero lume. 7 O mundo se prepara e sei que para Lutar é necessário ter em mente O quanto desta força se apresente E nisto meu caminho se antepara. Resumo meu martírio nesta amara E dura sensação de vã torrente E nada do que outrora quis semente Espalha vida nova na seara. Das sendas e dos prados de minha alma Apenas o vazio não acalma E traz a imensidade deste não. Depois de tanta luta e persistência O quanto do meu mundo em decadência Traduz os poucos olhos que o verão. 8 Buscara tão somente realizar O sonho mais feliz que um dia tive, E quando a realidade sobrevive Traçando noutra senda o seu lugar, Cansado de talvez imaginar O marco mais audaz e não contive O passo aonde a sorte já se esquive E a queda não se impeça de notar. Esbarro nos meus erros e prossigo Sabendo no final, do desabrigo Ao agregar valores mais diversos, E sei do passo inútil rumo ao nada E nesta noite embora enluarada Eflúvios que eu recebo são perversos. 9 O quanto deste sonho está presente No passo mais atroz ou mesmo audaz, E neste caminhar o pertinaz Desenho noutra forma se apresente. Vencer os meus temores, plenamente E crer quando o delírio satisfaz Marcando com o riso mais tenaz O que deveras toca a minha mente. Resulto deste engodo, mas sei bem O quanto em poesia me convém Trilhando cada passo rumo ao farto. E quando num equânime desejo Em ti o meu futuro ora antevejo Sem medo nem pudor algum, eu parto. 10 Enquanto sobre ti eu me projeto Ousando transformar em poesia O quanto deste sonho se veria E amor já não seria tão abjeto. Espero cada passo e sem dejeto Minha alma bebe à farta esta ironia Sabendo do futuro onde teria O risco que não vindo logo ejeto. Escassos riscos tendo quem delira, Sabendo a imperfeição da tosca mira De um míope cantar em tons dispersos Erguendo cada sonho ao infinito Ainda num futuro; se acredito Desvendo com ternura em poucos versos. 11 Por tantas vezes sei que aquém fiquei Do quanto poderia acreditar Depois de muito tempo relutar Adentro esta esperança em nova grei Hermético desenho eu desvendei E mesmo quando pude imaginar Expresso a solidão a me cercar Tornando num instante amargo, a lei. Esboço reações, mas no final Erguendo o meu olhar encontro o Mau E sorvo dos demônios que alimento; Pensando ter somente alguma luz Aonde o meu deliro em conduz Encontro em tais searas; sofrimento. 12 Quando entusiasmado eu procurara Apenas alegria e nada mais, Depois de certos dias, vendavais Tomando sem perguntas tal seara O corte noutra face se escancara E os erros tão comuns e sempre iguais Em providenciais ritos venais Tornando a minha vida mais amara. Esbarro nos meus erros, sortilégio E sei do quanto pude outrora em régio Desenho desvendar alguma messe. Mas quando os ermos; vejo à minha frente Apenas o vazio já se sente E a solidão decerto, o sonho tece. 13 Aonde imaginara uma proposta Que tanto satisfaça quando mude A vida num instante e em atitude Deixando para trás o que desgosta A face inusitada sendo exposta Num ato que decerto desilude Quem busca ainda viva a juventude E tem a sua imagem decomposta. Resumos de outros dias; vejo e tento Fingindo algum sinal de alheamento Vencer os discordantes dentro em mim. Mas quando se aproxima este espetáculo. A sorte me apertando em vil tentáculo Escondo-me num ermo camarim... 14 Pudesse tão somente ao escolher Momento onde pudesse ter no olhar Além de céu e sol, ternura e mar Um dia feito em glória e bem querer. Viceja dentro em mim o amanhecer E dele posso a paz já desenhar Depois de tanto tempo a divagar Sem ter defesa e entregue ao bel prazer. Não pude e nem quero ter nas mãos Aquém do quanto cevo duros grãos Em artesãos delírios e os componho Gerando a todo instante outro cenário E nele cada passo é necessário Vagando pela noite e imerso em sonho. 15 De todos os momentos, mais de cem, Aonde a tempestade se propunha Traçando com terror onde me opunha E neste caminhar o nada vem, A vida se moldando com desdém A sorte mata cada testemunha E o medo de sonhar aonde eu punha O ritmo desenhado e nada tem, Somente este detalhe em pedra e caos O cais já não comporta minhas naus Da frota desejada nada vejo. Antanho tive a messe de sentir Delírios que matassem meu porvir Num ato tão bisonho quão sobejo. 16 Os dias que buscara entre os melhores Da leda vida feita em abandono Ao perceber no fim já não me abono Enquanto estes terrores; comemores Restando dentro da alma e se demores O marco mais cruel, e nele eu clono O anseio pelo qual perdera o sono, Sem mesmo que esta estrada em paz; decores. Arguta noite imersa em armadilhas E quando num instante vem e pilhas Meus medos noutro traço mais atroz. O quanto pude até acreditar E nada muda mesmo de lugar Numa afluência espúria, leda foz. 17 A vida se apresenta em tolos contos Novelas entremeiam realidades E quando a cada passo mais degrades Os olhos seguem ermos, mesmo tontos Os dias que eu tentara; não mais prontos Marcando com terror serenidades Depois de certo tempo logo invades Sem dar sequer alentos por descontos. Resumo a minha sina em tal barganha E o nada neste passo ainda entranha Uma alma abandonada pelo tempo, Depois de lutas restam meus entalhes E neles cada passo; desencalhes Gerando tão somente um contratempo. 18 O amor ultrapassando qualquer século Traduz o sentimento mais audaz, E nele cada passo satisfaz Gerando como fosse algum espéculo. Adentrando deveras corpo e na alma Arcando com os sonhos, fantasias E nele novos fatos tu verias Aonde a sensação em paz acalma, E resolutamente bebo enfim O todo imaginário e me sacio Erguendo cada olhar em desafio Ainda que se aguarde; camarim, Milênios e milênios; segue o passo E nele enquanto teimo, eu me desfaço. 19 O mundo que me deste segue neste Momento para além do que pudera, Cerzindo em esperança a primavera Além do quanto um dia concebeste E sinto se talvez o que perdeste Mostrara novo fato ou mesma outra era E quando a vida aquém se degenera Aos poucos mansamente revolveste. Eu vejo a cada instante um novo sol, E sei da maravilha em arrebol Gestando dentro em mim tal helianto Seguindo cada brilho a vida inteira E neste caminhar quer ou não queira Cenário deslumbrante eu me garanto. 20 O quanto poderia num momento Traçar em novos rumos, mas sei bem Do todo quando o pouco me detém E um novo caminhar além invento. Resulto deste verso em sofrimento Enquanto da esperança sou refém, Galgando ao paraíso nada vem Somente o meu desejo em provimento. Restauro cada passo rumo ao tanto E quando em novo dia eu me levanto Lavando o coração em liberdade. Depois de certo tempo, sempre assim Erguendo o meu olhar, enquanto vim Sabendo do calor que agora invade. 21 A sorte prenuncia uma virada Depois de tanto tempo em sofrimento Um dia mais feliz ainda tento Embora muitas vezes dando em nada, A messe noutro rumo desenhada E nisto vou seguindo contra o vento Bebendo cada gole em tal tormento Minha alma bem mais forte agora brada. E sei que depois disto virá a lua Deitando seu luar exposta e nua Raiando sobre todos no horizonte, E sinto transbordando esta argentina Beleza que deveras determina Um rumo cristalino que ao sonho aponte. 22 O quando do mundo ali eu vi Depois de tantas quedas vida afora E o brilho aonde o mundo em paz aflora Traçando o quanto quero e sei em ti Descanso o meu olhar e sinto ali Beleza sem igual que nos decora, Enquanto todo passo desde agora Moldando o mais sublime onde o embebi. Especular caminho traça a vida E neste raro lume eu me entranhara Sorvendo a messe em noite bela e clara Além da imaginada e concebida Tramando novo cais dentro de mim E nele ancoradouro de onde eu vim... 23 Preparando desde logo O que tanto mais eu quis Se deveras sou feliz O meu canto eu desafogo E na paz onde me jogo Traço os ritos de aprendiz Deixo aquém a cicatriz Quando eu ti amor afogo. Nada posso nem queria Transformar em agonia Cada verso que me ilude Sem saber do meu futuro Novo canto eu asseguro Com firmeza em atitude. 24 Tanto sonho até teria Se eu pudesse acreditar Neste raio em tom solar Ao fartar-me na alegria, Cada passo traz um dia Onde tento imaginar E quem sabe desenhar Com sobeja alegoria. Nada resta do que há tanto Creio e mesmo em paz garanto Sem saber do quanto invade Todo passo rumo à sorte Quando canto me conforte Aplacando a tempestade. 25 Tanto sonho à minha frente Tanta luz que ainda posso Sendo apenas um destroço Mesmo até impertinente Se o que quero diz presente Ou decerto ainda endosso Contumaz caminho; aposso Neste tanto quanto o tente Venço o medo do abandono Do meu sonho já me adono Sem temor sequer algum Dos meus medos mais mordazes Outros cantos tu me trazes Vou sorvendo em paz mais um. 26 Poderia num trabalho Com ternura e alegria Gerar quando poderia Noutro campo se batalho, Mas sabendo quanto eu falho E deveras fantasia A minha alma todo dia Procurando algum atalho. Resumindo o meu destino Onde em paz eu determino O que quero e mesmo busco. Porém quando não alcanço Nesta senda algum remanso Sigo até num lusco fusco. 27 Quando a quis não foi bastante Cada lágrima traçada No final não resta nada Nem o quanto se garante E se tento doravante Procurar em nova estrada A verdade demonstrada Noutra face, num instante. Resoluto caminheiro Pelos vãos quando me esgueiro Encontrando algum alento; Mas decerto desolado Revolvendo o meu passado Sem futuro sigo ao vento... 28 Quem me dera se pudera Navegar contra as marés E vencer minhas galés Revivendo a primavera Onde o tempo destempera E não deixa ser quem és Vou seguindo e de viés Percebendo cada fera. No final deste caminho Mesmo até se sou mesquinho Noutro rumo me aprofundo. Coração sem mais juízo Quantas vezes; impreciso Ou deveras vagabundo. 29 Tantas vezes procurara Pelo menos um descanso Aonde agora nada alcanço Nem sequer uma seara Onde o sonho escancarara E se tanto me esperanço No final enquanto avanço Novo bote se prepara. Mas a vida é sempre assim Tem começo e diz do fim Da metade para frente, E por isto vendo nisto O caminho; aonde insisto Mesmo quando estou descrente. 30 Sendo assim este cenário Tantas vezes mais diverso E se eu tento outro universo Mesmo em sonho eu sou corsário, Navegar é necessário E deveras sigo imerso Até quando me disperso Neste canto imaginário, Tantas vezes quis apenas Estas horas que serenas Coração em rebeldia. Nada tendo além do fato Onde busco e me retrato Muito mais que eu poderia... 31 O quanto deste sonho o quis imenso Gerando após a queda o enorme abismo E quando em tantos pélagos eu cismo Vagando aonde em riscos me compenso. Espúria fantasia e neste tenso Delírio; desmedido cataclismo Qual fora dentro da alma um grande sismo E neste desenhar um mar extenso Marcado por diversas vis procelas E nelas sem sentido algum revelas Meus erros costumeiros e vulgares Desdéns emaranhando passos quando O tempo se transforma e assim nublando Aonde tanto amor tu desejares. 32 Aonde desenhei em mim um mar E neste delirar, busco o profundo Desejo enquanto em gozos eu me inundo Buscando noutro instante mergulhar, Alçando o quanto tento procurar Sabendo ser o sonho vagabundo Guardando num momento todo o mundo Bebendo sem destino a se traçar E assim entre os delírios de um poeta A vida noutra face se completa Regida pelas ânsias deste amor. Redimo cada passo dado em falso Enquanto o Paraíso em ti eu alço Num sonho iridescente, multicor. 33 Encontro o meu caminho ainda sobre As ondas mais atrozes e prossigo Vencendo a qualquer preço o desabrigo Enquanto novo canto se desdobre Num átimo mergulho e bebo o nobre Desenho desde quando em ti persigo O manto consagrado e sei, contigo O tanto quanto posso e amor descobre. Vacantes sensações, outrora em mim Do encanto resguardado, um camarim Do qual ao perpetrar novo espetáculo Desenho sobre o palco esta emoção E sei dos atos todos que virão Tocando o pensamento qual tentáculo. 34 Meu mundo se repete e como as ondas Voltando ao mesmo início desde quando O tempo noutro instante transformando Ainda que deveras não respondas, Mas sei quanto também já correspondas E neste desenhar arrebatando Um passo em consonância demonstrando Sem que deveras fujas nem te escondas. Resumos destas vidas: entrelaces E quanto mais além também tu grasses Deveras num caminho deslumbrante A vida se permite e me agigante Deixando para trás no mesmo instante O quanto outrora fora; em vãos impasses. 35 As cenas muitas vezes turbulentas Num vórtice nefasto e tão sublime, O amor a cada instante nos redime E nele novos dias buscas, tentas. Após as horas frágeis virulentas Na torpe sensação de medo e crime Somente novo amor, a dor suprime E quando estás comigo me apascentas. Não quero perceber outro cenário Senão tanto desejo imaginário Num único concerto em harmonia Viceja dentro em mim tal alegria Enquanto nosso amor cedo floria Num campo tão sutil e necessário. 36 Por onde tocam nossos pensamentos Viceja a primavera em multicores E sei que sem querer sequer te opores Bebemos destes raros, bons alentos. Amar e perceber raros proventos E neles presumir claros albores, Seguindo tão somente aonde fores Jamais tecendo em vão meus passos lentos. Restauro neste instante o quanto pude Viver etereamente a juventude Depois de tanto tempo em tom grisalho. Abrindo estes umbrais entra a esperança Meu canto num segundo em paz se lança E o sonho entre mil sonhos ora espalho. 37 Enquanto a cada instante vão libertos Os olhos sobre a linha do horizonte E a cada maravilha onde se aponte Desejos entre tantos descobertos. Outrora com terror vira desertos E agora novo encanto ora desponte Tramando num momento a rara fonte Traçando estes caminhos ora abertos Viceja em raros tons, num manso albor Esta ânsia delicada a nos propor Um dia incomparável entre tantos. E os passos doravante mais seguros, Tramando com ternura tais futuros Vencendo os mais sofríveis desencantos. 38 Tocando o pensamento branda brisa Imagem delicada e mansa aonde O amor quando demais já corresponde E neste caminhar mal nos avisa Do quanto pode em paz e assim matiza O tempo neste vão e corresponde À resistente e nobre, rara fronde Que a natureza em paz ora utiliza Mantendo como base para um sonho E nele cada canto onde proponho A paz entre delírios de um anseio E neste caminhar incomparável O verso desenhado em tom afável Traduz o meu desejo e ao que ora veio. 39 Escuma sobre a praia uma ola imensa Transforma a paisagem antes quieta E quanto mais audaz além repleta, Maior a sensação e a recompensa A cada novo instante mais convença Da rara fantasia onde completa O desenhar de um sonho, rara meta E nela a cada instante esta alma pensa. Vagando pelos mares e oceanos Vencendo os turbilhões em desenganos Aporto nos teus braços e me douro Descubro no infinito, na amplidão A mais sublime e nobre direção Ousando ter em ti o ancoradouro... 40 Quebrando sobre a areia esta procela Traduz ferocidade em tal beleza Levado pela forte correnteza Minha alma neste instante se revela Rompendo a qualquer preço alguma cela Refém da liberdade se faz presa E neste desenhar rara surpresa Traduz o porto aonde ora se atrela. Vencida e vencedora num momento, Transcende ao que deveras teimo e tento Gerando a fortaleza aonde um dia Apenas frágeis passos sobre a areia E agora num lampejo se incendeia; Apaixonadamente não sacia... 41 O pensamento voa e volta à terra Depois de tantos anos, sem saudade O olhar que ainda toca, e mesmo invade Traduz outra verdade e se descerra. Vagando sem destino, sonhando erra E tenta desvendar o quanto agrade Ou mesmo se negar à tempestade, No zênite, porém o tempo cerra. E o vândalo sonhar não mais desnuda A dor outrora amarga e agora aguda Traçando da lembrança este demônio. Cerzira com olhar vão, tresloucado Bebendo cada gota de um passado Marcado por terror, num pandemônio. 42 Ainda desvendar meus ermos, venho Tentando alhures sorte que não vejo E quanto mais audaz o meu desejo, O medo se tornando mais ferrenho. Arcando com meu frágil desempenho A vida traça um ar não mais sobejo E aonde poderia um azulejo O tempo fecha logo todo o cenho. Resvalo nas estranhas corredeiras E nelas também foges, quando esgueiras Deixando para trás meros sinais. E o canto aonde um dia quis a paz Somente a virulência hoje me traz, O brilho em meu olhar? Pois, nunca mais... 43 Aonde se pudesse ter um filho E nele acreditar noutro futuro, O porto mais audaz, porém seguro Transforma-se decerto onde eu palmilho. E sei dos meus anseios. Compartilho O passo noutro errático e tão duro Desenho feito aquém do que procuro, Marcando com terror, ledo estribilho. E resolutamente tento ainda Vencer este terror; mas já se finda O tempo em outonais quando eu a vejo. E quase no final da própria vida A sorte imaginada, dividida Traduz bem mais que um mero e vão desejo. 44 O canto que se ouvia desde outrora Falando dos meus erros contumazes, E quando novo passo ainda fazes Comprazes com ternura aonde ancora. E assim tanta beleza se demora E neste caminhar diversas fases Vencidas pelos passos mais tenazes Gerando a solução a qualquer hora. Não posso me calar perante o fato Do amor encantador onde eu resgato Meus ermos e delírios, vagas luzes. E agora em resplendores sustentáveis Os dias muito tantas vezes tão mutáveis Traduzem fortalezas que produzes. 45 O amor não se fazendo mera chama Transcende à própria vida e se eterniza, Enquanto num momento fora brisa Agora com fulgor já se derrama, E sinto esta ternura de quem ama E sabe quando em luzes se matiza Traçando outro caminho; a voz concisa Ao mais superno espaço nos reclama. Vencer os meus antigos dissabores Seguindo cada passo e quando fores Também irei contigo: eternidade. Dessedentando a sorte mais audaz O sonho noutro sonho logo traz A força que arrebenta qualquer grade. 46 O quanto desta sanha ora assistida Traduz felicidade ou mesmo messe. Meu rumo noutro passo se entorpece Gerando dentro em nós sobeja vida. O corte noutra face presumida E o risco que também o sonho tece Presume além da vida e recomece A cada passo audaz; mesma avenida Traçada pelo gozo ensandecido Tocando com firmeza esta libido A força geratriz quase uterina E tanto quero além deste momento Vivendo a cada passo aonde tento Saber ao quanto a vida determina. 47 O sonho e o pesadelo se alternando Assim nós caminhamos e sei bem O quanto deste nada nos contém Aonde quis um dia bem mais brando. Vencer a cada instante outro desmando Mantendo a sensação de ser refém Do amor quando demais e não mais tem Qualquer juízo e segue sem comando. Insaciavelmente nada posso Senão ressuscitar cada destroço Jogado pelo chão da nossa casa, A vida noutra face se desnuda Minha alma se aquietando, quase muda Em movediças teias já se embasa. 48 Estando tantas vezes à feição De quem já não me quer; mal me suporta, Fechando com os pés a rara porta Aberta com as chaves da afeição, E agora novos dias mostrarão O quanto na verdade ainda importa E o sonho quando a vida vem e aborta Traduz a cada instante a negação. Jogado nalgum canto, nada faço, Apenas do que eu fora, ledo traço Uma esperança morta e nada mais. Resumo de uma vida entre ilusões E quando a realidade agora expões Revejo sonhos frágeis e banais... 49 De todos os meus sonhos, a nascente Transcende ao próprio mar e me permite Viver além do fato e sem limite Ao traduzir o quanto esta alma sente. Sem nada que deveras apascente O risco noutro caos não delimite E nem sequer no engodo se acredite Aonde uma esperança, amor freqüente. Expresso com ternura ou mesmo horror Mosaico e nele posso me compor Em variada forma, este mutante. E quando me imagino bem mais firme, Sem nada na verdade que confirme A queda se aproxima num instante. 50 O amor ao se entornar em tal jazigo Levando em suas mãos esta esperança Enquanto no vazio, o sonho lança Condena o dia a dia e não consigo. Vencido pelas ânsias, desobrigo Meu canto onde o passo não avança E morto sem sequer qualquer pujança Cenário se repete; é tão antigo... Amar e ser feliz. Ah! Quem me dera. Assim ao renovar a primavera Depois deste outonal caminho em medo. Mas quando acordo e vejo solitário O rumo aonde o sonho é necessário Ficando mais ausente. Morto. Ledo... 51 A tarde incrivelmente mansa e fresca, Percebo no horizonte esta formosa Beleza de sol-pôr num tom de rosa Invés da costumeira em tez dantesca. A sorte tantas vezes caprichosa Permite cena rara ou pitoresca E às vezes se permite em gigantesca Insânia a turbulência pavorosa. Sentir que vosso aroma se aproxima Compõe inesperado e manso clima Transcende à realidade e leva além Dos meus próprios anseios e permite Bem mais do quanto houvera em vão limite E uma esperança superna, também vem... 52 Ao fim deste horizonte a imensa serra Impede esta visão tão ansiada Do vale após montanha desenhada E toda a fantasia ali se encerra. Durante tanto tempo essa alma que erra Acreditando além não haver nada Imagem pela vida deturpada Transcende ao quanto posso e se descerra. Porém a vida traça outro caminho E zênites diversos onde aninho O pensamento em frágil esperança, E mesmo além de toda esta muralha, O olhar com tal ternura hoje se espalha E o vale em mansidão, enfim alcança. 53 À sombra dos meus dias mais felizes Procuro algum alento em temporais; Porém a vida esgarça e nunca mais Os céus, pois deixarão de serem grises. E quando uma esperança; contradizes Deixando muito além os meus cristais Envolto nos tormentos usuais Enfrento novamente medos, crises. E assim nesta avalanche costumeira A vida, mesmo quando a paz se queira Nos gládios e nas liças mais insanas Adentra o meu outono, bebe o inverno, Porém constante em mim o mesmo inferno E nele em ironia inda me danas. 54 Apenas procurara um dia manso Em meios mais comuns, tempestuosos, Os sonhos são deveras caprichosos E neles o infinito; em mim alcanço. É quando no horizonte e em paz me lanço Tentando vencer dias tortuosos E crendo noutros vários e formosos Às vezes nesta luta em vão eu canso. Já não mais alimento a mesma idéia Reinando sobre mim a tez atéia E dela ressurgindo a etérea face Da espúria invalidez da vida em vão E enquanto bebo o imenso turbilhão É como se de Deus, eu me afastasse. 55 Aonde um dia pude caminhar Além dos meus anseios e temores, Seguindo cada passo aonde pores Os teus olhares; volto ao velho mar. Sentindo esta esperança a se negar Os sonhos se esvaindo quais vapores E nesta procissão de vis horrores O pouco e quando resta nega o altar. Alados pensamentos: liberdade Enquanto a solidão ainda invade E nada do que eu possa alcanço em vida. A cada ausência vejo retratado O mesmo olhar vazio do passado, A morte; em solução, percebo urdida. 56 O meu passado esconde estes ribeiros Com águas cristalinas; peixes. Sonho. E agora a tela inteira que componho Traduz os dias turvos, corriqueiros. Os passos pelas ruas mais ligeiros O dia se transforma em enfadonho Caminho aonde o nada sempre ponho À frente da beleza dos canteiros. A vida não permite novos rumos, As esperanças são quais meros fumos E nada me detém, a pressa rege Cenário noutras eras cristalino Enquanto em vã fumaça eu determino O dia a dia turvo e tosco. Herege. 57 Pudesse inda esconder tanta tristeza Da solidão que a cada dia vejo Roçando a minha pele e de um lampejo Agora noutra face, correnteza. Das tramas do vazio, mera presa Vivendo muito aquém do quanto almejo, Riscando o meu caminho em medo e pejo, A vida se desnuda sem surpresa. À mesa de jantar, o mesmo rito, O quanto posso ou tento e necessito Silenciado, mata uma esperança. E novo dia traz a turva face Por onde o meu destino avance e grasse Sem ter nem perceber qualquer mudança. 58 A vida se desterra aonde um dia Tentara acreditar noutro cenário. O passo, muitas vezes solitário Apenas a esperança já se adia. Olhando para trás, leda utopia; Eu sei quanto o sonhar é necessário, Mas guardo os sonhos dentro deste armário Aonde nada mais se percebia. Somente a mesma face deformada Nesta alma quando em lutas já se enfada E tenta alguma luz e além navega. Mas quando se percebe em claridade O todo em vão transforma: iniqüidade. Já tanto que não vê, agora é cega. 59 Marulhos dentro da alma repetindo Os vórtices que enfrento e não consigo Saber nem vislumbrar algum amigo Ao menos com sinais me conduzindo. O tempo se transforma e outrora lindo Traduz somente o medo e se eu persigo A paz há tanto enfrento o desabrigo E sinto alma aos poucos se esvaindo. Nos corrimões da sorte algum amparo, Mas quando a cada passo me deparo Com tantos sortilégios, vãos, degraus. Aonde imaginar bons, os maus Prenúncios de tempestas tombam naus Salgando um sonho há tanto escuso e amaro. 60 A terra onde pisaste; estranhamente Entregue aos mais profanos dissabores Traduz os teus caminhos e se fores Além do quanto pode ou mais pressente. Futuro repetindo este presente Negando a primavera, mortas flores E quando imaginara multicores Cenários o vazio enfim se sente. Escusos dias mortas esperanças E quanto mais tu lutas, mais te cansas E vês apenas trevas, nada mais. O céu que um dia creste em azulejo A cada dia sinto, bebo e vejo Exposto aos costumeiros vendavais. 61 A vida em avidez; palcos cenários Diversos entre os atos, quadros, faces E quando em bastidores sonhos grasses Os personagens; egos temerários. Ao esboçares outros, necessários Ou mesmo desprezíveis tais enlaces Refletem nos instantes e onde passes São teus estes mosaicos tortos, vários. E assim ao perfazer novos desenhos Por vezes mais alegres ou ferrenhos, A história pela história a contradiz, Minha alma nas coxias, camarim Não traça o que deveras vive em mim, Confunde o personagem com a atriz. 62 A vida quando em tons diversos grava As marcações e cenas, entre os cacos, Expressa enquanto arranca vários nacos Da sorte muitas vezes sendo escrava. Num ato em inconstância gera a trava, Os personagens frágeis, tolos, fracos Imersos nos meus vícios; gins, tabacos E o corte a cada não se aprofundava. Esboço reações: nada adianta O corpo se acostuma a vária manta Minha alma este mosaico em mutação Transcende à própria vida ou se escasseia, Porém já não consegue estar alheia Aos sonhos e tormentas que virão. 63 A imagem que hoje vi, recuperada Do arquivo aonde guardo cada fase Da vida enquanto o tempo se defase E deixa após o tanto, o mesmo nada, Reflete a velha peça mal traçada E nela personagens mais mordazes, Fracasso após fracasso, sem as bases Carreira em desalentos; encerrada. Porém ao ver de perto quem eu fora Imagem distorcida e sonhadora Em preto e branco; um tanto esvaecida Transcende ao próprio tempo e inda persiste No olhar longínquo, tênue e sempre triste Representa e sem palco, a minha vida. 64 A sorte se repete nesta quarta Após uma semana, um mês, um ano. E a cada nova ausência, o desengano Dos olhos não se afasta e nem se aparta. Há quanto uma esperança já descarta E desce dos meus sonhos logo o pano, E neste tragicômico eu me dano Marcada sobre a mesa cada carta. Espúrios dias; vejo e não me oponho Porquanto este cenário é tão bisonho No fundo refletindo o dia a dia De quem se fez audaz e mal vislumbra Imerso totalmente na penumbra Aonde um sol maior já renascia. 65 Preciso a todo instante atualizado Vencer os meus tormentos ancestrais O mundo se renova; e vejo mais: Já não me caberia o meu passado. Refaço cada traço e tento ao lado Dos dias tão modernos e atuais Viver os meus caminhos naturais Deixando além o antigo e degradado. Baladas, noites, festas, riscos, risos, Infernos entranhando em Paraísos Mosaico de ilusões, palavras novas. O tempo se transforma, mas de perto Ao ver mantendo o olhar atento e aberto Alegorias velhas que renovas. 66 A sorte desenhando cada cena Em atos tão diversos. Coerência? O palco traduzindo esta existência Aonde apenas ermo e vão, serena. Minha alma a cada dia se apequena E disto me apercebo. E ter ciência Do quanto posso mesmo em inclemência Ou crer na fantasia mais amena. Um personagem torpe este mutante, Que muda a cada quadro e doravante Numa explosão vazia chega ao fim. Olhando das coxias, bastidores, Insólitas, confusas, multicores... Melhor se me aquietasse em camarim... 67 Repito estes capítulos em dias Diversos, mas idênticos no fundo E quando no cenário eu me aprofundo Seria bem melhor ver das coxias. Assim enquanto em vão teimas, porfias Do nada insustentável já me inundo E quando percebendo num segundo Imagens se repetem: ironias... Abaixam-se deveras as cortinas, Mas mesmo assim ainda determinas Qual fosse insuperável este obstáculo Sem diferenciar o personagem Reflete dentro em mim tal paisagem Enredo sem final, torpe espetáculo! 68 Quem dera se pudesse um artesão Traçar em barro, mármore ou madeira A imagem mais tranquila e derradeira E dela com firmeza e precisão Num ato de total transformação Tramando o que deveras mais se queira Numa beleza eterna ou passageira, Mas viva e até palpável. Porém, não. Ousando do teclado algum cinzel Invés deste alabastro; uso o papel Nesta diversidade da palavra. Do quanto imaginara ser artista Em verbos, frases, letras, pois se avista O que alma ensandecida teima e lavra. 69 A vida se repete em desenganos, Mas esperança alenta quem porfia E mesmo que demore qualquer dia Semas, meses, vidas, horas, anos Apenas imutáveis são meus planos E neste desenhar, farta ironia Transcende ao quanto pude e não teria Senão após a luta, velhos danos. Esgarço-me decerto na procura E quando alguma luz inda assegura É fátua realidade em tom fugaz. A vida, ilusionária por si só Ao fim de tudo leva ao mesmo pó Cada ilusão que o tempo ilude e traz. 70 A queda produzindo esta fratura Jamais consolidada pela vida, A sorte desenhada e desmentida Apenas do vazio me assegura. Seara imaginária, leda e escura Não deixa que se veja uma saída E a porta; há tanto tempo, empedernida Impede qualquer messe em vã procura. Condena-se ao torpor e nada faço, Seguindo paciente e num compasso Monótono; aguardo o fim da peça. Sem medo, sem tormentas, sem surpresa. Levado pela imensa correnteza Inerme desenhar já se professa. 71 Nos shoppings nos teatros e cinemas A vida ultrapassando os seus anseios, E as noite embaladas, devaneios Nas libertárias faces tu me algemas Eternos são decerto os meus dilemas E não encontro além dos sonhos, meios Apresentando passos sempre alheios Refaço e não resolvo estes problemas. Fugaz, a vida em tons de mocidade Num átimo mergulha em grises faces E mesmo que talvez novéis tu grasses. O tempo incontrolável nos degrade. Refaço dentro em mim tabacaria Imagem renovada a cada dia. 72 A mesma estupidez já se reforça Nos atos repetidos pela raça Que há tanto sobre a Terra quer a Graça E crê-se muito além de qualquer morsa. A vida com seus erros quando se orça Presume a realidade em tosca traça Enquanto o tempo avança e; ledo passa Deixando o grácil passo de uma corsa. Esboça a fera insana e racional, Por isto mesmo e até; a mais venal De tantas criaturas. Torpe e espúria. A cada geração, pois se repete Do jato mais veloz até o ginete Constante se afigura a farta incúria. 73 Quisera pelo menos segurança Ou mesmo alguma luz neste horizonte. Aonde o nada toma e não desponte Senão a mesma treva que ora alcança. O passo, noutro instante já se cansa E; seca, dentro em mim a velha fonte Impede que se crie alguma ponte Destarte nada segue em paz e avança. Repito os meus erros ancestrais Voltando aos tempos duros e venais, Cruzada que inicio a todo instante. Se um dia quis edênico; egoísta Desenho desolado agora assista Ao meu futuro espúrio e degradante. 74 Os passos pela noite quando incautos Entranham por vielas, ruas, trevas. E nestes desenhares tu me levas Prenunciando ao fim; raptos e assaltos Enfrento noutra esquina sobressaltos Bem mais do quanto eu pude; ainda cevas Diversas ilusões; porém em levas Tormentas invadindo estes ressaltos. E o cadafalso em tons bem mais modernos Traduz da mesma forma os tais infernos Gerados pela estupidez humana Renova-se a mortalha e a mesma face Retrata o quanto somos. Nisto trace A face mais atroz, tosca e profana. 75 Sob as marquises dormem tantos párias Defronte às magistrais joalherias E assim se repetindo vários dias Imagens contrastantes, temerárias. Talvez regendo as vidas, procelárias Oráculos diversos tu dirias Envoltos nas banais astrologias Ou mesmo algumas ditas necessárias Resgates de outras tantas do passado. Mas vejo neste fato constatado A própria natureza atroz e nata De um ser que só por ser já se deforma E toma a rapineira e turva forma E nada; infelizmente inda o resgata. 76 A face que julgara ser local Ou mesmo momentânea em tom diverso, Agora quanto mais em mim eu verso Percebo não ser nada pontual. E neste vão desenho atemporal Navega em insolência este universo Per si e sem saída, mais perverso Satânica figura original. A imagem desolada de um mendigo Enquanto outro cenário; além persigo Não deixa qualquer dúvida e me vejo Também da mesma forma um ser inerme, E quando atuo sinto em mim o verme Que crê; mesmo vazio, ser sobejo. 77 O passo quando em sonhos contratou Alguma luz ao fim do velho ocaso Enquanto noutro instante até aprazo Mortalha dentro em mim se desenhou. E sei do quanto posso e mesmo vou Vencer a solidão. Mas já me atraso E entregue às ilusões de algum acaso Bem pouco do que eu sonho inda restou. Alhures vejo a cena aonde eu quis Ao menos dirimir a cicatriz Há tanto; desenhada em minha pele. E quando busco paz, tranqüilidade, A tormenta inerente toma e invade E ao fim do meu caminho enfim compele. 78 O quanto necessito de guarita Após as velhas torpes turbulências E tendo de tais fatos as ciências Das quais uma razão já necessita. Seara imaginável, mas finita Aonde se percebem ingerências Das tétricas loucuras e inclemências Tornando quase inútil tal pepita. Quando avassaladora a vida entranha E deixa para trás sonhada sanha, Mergulho nos meus ermos, mas desvendo Realidade tosca e nada além Do quanto sem defesas me contém Desenho caricato e até horrendo. 79 Minha alma se percebe ora brindada Após os costumeiros vendavais E tenta imaginar novos cristais Aonde, no final, não resta nada. A sorte se mostrara desenhada Em ritos tantas vezes magistrais, Mas vejo quão são frágeis meus vitrais A face há tanto tempo mutilada. Não posso acreditar nalguma luz Se ao vago cada passo reconduz Quem tanto acreditara em redenção. Deidades descartáveis, milagreiras E mesmo quando além ainda queiras, Rapinas com banquetes; brindarão. 80 Enquanto além dos sonhos não atuas E bebes as searas sem tocá-las As ânsias onde nunca me avassalas Derramam faces duras, ledas, nuas. Respostas que eu conheço? Apenas duas; E nestas turbulências vejo as salas Enquanto tão somente imaginá-las Falsário paraíso ora cultuas. Não crer ou mesmo até se resguardar Da vida é como fosse o navegar Sem mares, calmarias e procelas, No ancoradouro vejo em lenço branco Olhares tão sofridos; alavanco Meu rumo; aonde apenas mal revelas. 81 O quanto vejo inútil teu orgulho E sei quando se mostra a nu quem és A sociedade traça estas galés Gerando do brilhante escasso entulho. Negar do imenso mar o seu marulho, Tentando ver a vida de viés Cortando as asas segues com teus pés Aonde noutro instante eu já mergulho. A vida não se poupa e quem o faz Não sendo sequer franca nem audaz Permite no final o alheamento Percebo em teu olhar o medo expresso E quando algum desejo a ti confesso Palavra sem guarida, solta ao vento... 82 O quanto da esperança agora desce E morre em tal inútil e temerosa Faceta aonde a vida por si glosa E aos poucos nos vazios se esvaece. Negar a dor também mata a benesse O espinho justifica a bela rosa E quando se pudesse majestosa À torpe sensatez a alma obedece. Não temo o tempo e nem outro cenário Da vida qual pudesse algum corsário Sem medos nem pudores, sigo além. Mas quando vejo em ti tanto temor, Inércia aonde havia um grande amor, Percebo este vazio que a detém. 83 Vagasse o pensamento pelos céus Sem ter qualquer suave ancoradouro, E quando prenuncia algum tesouro Espessos e diversos, turvos véus. Ateio em esperança fogaréus E neste desenhar logo me douro Reverto o meu caminho ao nascedouro E singro mesmo em dias mais incréus. Resumos de outros tempos; pois carrego A sorte prenuncia num nó cego Emaranhados tantos; vida afora. Mas quando se negando ao próprio vento Ao fim apenas o ermo em passo lento E a própria sensatez a ti, devora. 84 O manto desenhado sobre ti Presume alguma luz neste horizonte, Mas quando bem mais forte ela se aponte Ao fim de tudo apenas percebi O medo persistindo lá e aqui Negando a maravilha desta ponte. Secando o sonho após a rara fonte Aonde um mundo imenso eu percebi. A vida se prepara em tais surpresas E quando se percebem sobre as mesas As cartas de um futuro embaralhadas Das intempéries, sonhos, pesadelos Momentos tão diversos. Mas ao vê-los Os olhos renegando as alvoradas. 85 Apenas o que ainda o sonho vê Não mais traduziria algum desejo, E quanto maior canto enfim almejo O sortilégio teima e em nada crê. A vida se transforma e sem por que Reflete outro caminho feito em pejo, E quando em suicídio eu me dardejo Negando o que deveras a alma lê. Assim ao não ter mais qualquer coragem, Aonde há tanto quis uma ancoragem O barco se perdendo noutro cais. O tempo me apascenta? Nada disto. Amar é conceber se ainda existo Embora os ventos sejam desiguais. 86 Trazendo na memória vários nomes E cenas muitas vezes repetidas Ou noutras mais diversas, refletidas Enquanto aos poucos foges, longe somes... E quando novamente tu me tomes Nos braços e refaça nossas vidas Das velhas armadilhas bem urdidas Aos novos caminhares; não assomes. Mutáveis pensamentos, sendo assim Princípio se desfaz em ledo fim E o quanto desta imagem se perdeu Já não permite mais outra viagem, Assim até na mesma clara imagem, Tu não és mais quem é, nem tampouco eu. 87 Mais fortes e decerto poderosos Sentidos dominando uma razão Tramando novos tempos que virão Deixando para trás os caprichosos, Anseios entre tantos majestosos A vida numa eterna procissão Renega cada passo e noutro então Desenha dias fartos, melindrosos. Dicotomia eu vejo a cada instante E o quanto neste agora se garante Deveras amanhã de nada vale. Mutante ser apenas; já retrato As corredeiras várias de um regato Relevo se moldando em monte e vale. 88 Aonde quis talvez refugiar Os sonhos mais atrozes e felizes No quanto ao mesmo instante me desdizes Em fases tão diversas qual luar. Eu tento até quem sabe acreditar Após as tempestades destas crises Nos vários tons diversos de matizes Iridescente mundo a se traçar. Mas tudo se transforma e também eu, Olhar em tolo espelho se esqueceu Da imagem vislumbrada há um minuto. E quando até pensara em coerência A vida sem saber qualquer clemência Invade e ao mesmo tempo eu me permuto. 89 Pudesse traduzir numa canção Os ermos de minha alma em vários tons, Momentos num instante claros, bons Ao mesmo tempo negam floração. O sim anunciando a negação Diversos os matizes dos neons São desarmônicos deveras os meus sons E os dias, novos dias moldarão. Quem dera se eu soubesse quem sou eu O norte em tantos rumos se perdeu E o quanto inda resiste do passado Talvez como um refúgio ou mesmo um cais Permite novos sonhos magistrais, Até que esteja tudo terminado. 90 Ouvindo alguém batendo nesta porta Há tanto já fechada pelo medo, Enquanto um novo sonho eu me concedo, A própria sanidade logo aborta. O quanto do presente já reporta Ao caminhar decrépito e tão ledo Traçando um variável, tosco enredo A vida se renova sobre a morta. Mas quando se percebe algum alento, Eu sei e já concebo ser o vento Trazendo o meu passado. Novamente... O caos que tu deixaste, na verdade É tudo o quanto assola quando invade Profunda tatuagem não se ausente... 91 A noite mais sombria toma a cena E vejo apenas medo e nada mais, Aonde poderia em divinais Desenhos nem o sonho me serena. A sorte a cada instante se apequena A ausência de quem quis em desiguais Caminhos presumindo outros venais Somático delírio ora condena E o cântico que outrora acalentara Num átimo adentrando esta seara Transcende ao quanto sinto e quando invade Invés de apascentar a alma mordaz, Somente neste instante ainda traz A vida sensação de vã saudade... 92 Enquanto quis a brisa, num tufão A vida se transforma inconseqüente E quando neste vórtice apresente Mudando num instante a direção Traduz os dias tensos que virão E neles outros tantos; inclemente Olhar se transformando plenamente Negando o quanto eu quis: atracação. Resumos de outros erros num só fato, E quando alguma imagem eu resgato Não é já mais a mesma que antes vira. A cena refletida noutro instante Apenas do vazio me garante, O quanto desejei? Tola mentira... 93 Ouvindo apenas leda ventania Invés da voz de quem tanto imagino Mudando as diretrizes do destino A sorte além da vida o tempo adia. E quanto mais exposto eu me veria Maior o meu delírio. Em desatino Mergulho no passado e determino O quanto na verdade não teria. Somente este caminho em senda espúria Restando invés de canto, uma lamúria Na velha ladainha desfilada Carpindo uma esperança inútil tento Vencer a imensa força deste vento, Porém minha queda ensimesmada. 94 Ladrando como um cão; vislumbro a lua E tento neste canto algum resgate De um sonho onde deveras me arrebate A morte noutra face, bem mais crua. E quando além do sonho perpetua E nada mais decerto inda retrate A vida num terrível, tolo embate Noctâmbulo fantoche desce à rua. Cerzindo em bares, louco pária eu sigo Vacantes esperanças, meu abrigo Encontro sob estrelas e ao relento. Matilhas de tormentas; a alma carrega E a cada nova esquina outra bodega Adentro e alguma luz em vão eu tento... 95 Já não mais importa mais nem nome ou crença Arrasto-me entre trevas e mergulho Sabendo que talvez do ledo entulho Alguma nova luz inda o convença Depois de tanta queda em desavença Numa alma entorpecida ora vasculho E além do costumeiro pedregulho Apenas a mortalha me compensa. O sórdido canalha vivo em mim, Escondo a cada instante, mas enfim Apresentando a face inconfundível Dos esgotos e fétidos bueiros Aonde fiz em paz os meus canteiros Florada em podridão? Imperecível... 96 A dor já não me importa, é companheira De tantos dissabores vida afora. E quando uma esperança tola aflora Ao mesmo tempo aquém decerto esgueira. Ousando na mortalha qual bandeira A porta se fechando desde agora O canto em frenesi não me apavora Sabendo ser a sorte traiçoeira. Esgares costumeiros onde a vida Desnuda a sua imagem construída Em meio aos mais sofridos, vis cenários. Os sonhos quando os vejo além do fato Apenas num momento em vão constato Os mesmo ermos torpes, solitários... 97 Buscasse algum abrigo neste inverno E nada mais teria senão isto E quando à derrocada enfim, assisto As ânsias mais audazes; não interno. Esgoto o meu caminho em torpe inferno E a cada nova queda mais desisto Traçando dentro da alma este Mefisto Que aos poucos, em defesa própria externo. Aonde me fiz terno e sonhador, Apenas recolhendo o dissabor Jamais imaginei outro caminho. E tendo em horizontes mais sombrios Os olhos concatenam desvarios E sigo o meu delírio mais mesquinho... 98 Caquética figura em fome e tédio Aspiro alguma messe, mas sei bem Que o nada após o nada sempre vem Embora este esperança gere o assédio. Esgoto o meu caminho a cada instante E bebo desta amarga realidade Inebriante luz enquanto invade Apenas do vazio me garante. Quem sabe noutra vida outra seara O mundo se desenhe em nova forma, Mas quando a fantasia se deforma E a face desdenhosa ora escancara O quanto ainda trago e enfim desvendo Não passa na verdade de um remendo... 99 As flóreas persistências da ilusão Eclodem borboletas de crisálidas, E quando em noites frias, vãs e esquálidas Sonega-se esperança em provisão Eu sinto que outros tempos mostrarão Além destas imagens meras, pálidas Talvez algumas cenas bem mais cálidas Traçando em mim ao menos um verão. E trago a cada passo outro momento Diverso do que tanto em dor alento Gerando em tons suaves; novo trilho E quanto mais audaz o sonho eu vejo Um temerário encanto benfazejo Ensimesmando a vida e em paz palmilho... 100 Sonhar é necessário, sei-o bem. Mas quando a vida traça em discordância Um rumo aonde eu quis suave estância E nada após decerto ainda vem. Deserto o meu caminho e sem desdém Apenas sorvo a mansa militância Gerada a cada passo noutra instância, Mas não serei somente algum refém. Meu passo é libertário mesmo quando O mundo noutro esgar; vejo-o nublando E aproximando além outra procela Porquanto sou tenaz e em vão persisto Da liça que é diuturna não me disto Minha alma outro corcel além já sela… MARCOS LOURES FILHO
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