Em dedos de sangue e lava

Data 11/08/2007 14:50:55 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Tacteio o improvável, a incompletude do incerto,
filtro a luz do gesto absurdo,
em volúpias de desalento.

Em dedos de sangue e lava, rasgo a saliva
em bocas envelhecidas, sem dentes.

“Fiandeira das palavras”,
no ventre acetinado das folhas virgens
com agulhas de farpas, cozo um a um,
os sons sálmicos das sombras.
Silhuetas disformes provindas dum chão
onde rebrilham a tua, na minha mão,
e logo, no vitral baço da tarde,
no varal de um tempo esquerdo
se erguem e se amotinam cortinas de lousas
em coisas mortas,
tempestades ecoadas de ventos.

Na mendicidade da água doce, escorrem-se ritmos,
batuques lentos, nas nuvens rosadas dos meus seios.
Lá, no abismo dorme a hidra estropiada
ao caldeio dos meus e teus anseios.

Em pântanos sem margens, tacteio os limites,
abismando o fim.




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