RECEITAS RÁPIDAS - Poema light
Data 16/08/2010 14:33:23 | Tópico: Textos -> Surrealistas
| Hoje apeteceu-me um poema. Bem fresquinho, que o calor empapa-me os sentidos e bem desenjoativo, daqueles que se tomam com gosto e nos caem como luva de segunda pele.
Procurei na dispensa e no frigorífico, mas nada, todos os que tinha já estavam, ou fora de prazo, ou de papo já seco e empedernido. Decidi: "o melhor é fazer um a queimar de fresco".
Voltei à dispensa, espantei o traçar das borboletas pachorrentas, e salvei uns quantos ingredientes, a saber:
.uns gramas de pensamento light .meia dúzia de palavras básicas, sem fermento .uma pitada de humor .uma pitada de sal .uma pitada de açúcar (ou, em alternativa, pimenta da república) .um qualquer líquido q.b. (serve até água da torneira, mas pode caprichar, usando desde Xerês a um bom verde jovem) para ligar e dar elasticidade .figuras (com algum estilo), para enfeitar
Confecção:
Inspire.
Tome uma ideia qualquer, que lhe passe ao alcance da rotina, do tédio ou da imaginação. Amanhe-a muito bem, limpando-a de lugares comuns, excessos de verbosidade e excrescências adiposas. Peneire-a, juntamente com as palavras (que devem ser o mais frescas possível) sobre um papel branco (serve papel de rascunho).
Junte o humor, ao de leve, e, em seguida o açúcar ou a pimenta, dependente do gosto, da freguesia ou da veneta.
Agora dê-lhe forma, usando o líquido que estiver mais à mão, ao copo, ou ao desejo. Mas, atenção! Se o poema se quer light, convém não abusar das doses, principalmente espirituosas!
Arrime a gosto, ou reserve, simples e natural. Pronto, está pronto a servir.
Bon appetit! Ah, a mim, seguindo esta receita, saíu-me este:
Guardei estrelas cadentes da chuva que o céu me deu, certa noite aqui há dias
Ontem pus-me a brincar com elas, atirando-as às mãos cheias nas águas do rio Douro
Por cada uma, um desejo e o sonho sempre criança de que o rio fique d'ouro...
...para lá da meia noite.
(pronto, eu usei um pouco de arraial do rio, das festas do Socorro, na Régua...)
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