RECEITAS RÁPIDAS - Poema brejeiro

Data 20/08/2010 19:10:09 | Tópico: Textos -> Outros

Hoje vamos confeccionar um poema brejeiro. Vá, não comecem já a pensar "ai, estou a dieta", "ai, que falta de requinte!", a modos que a desdenhar do humor vernáculo e simples cozinhado em forno de lenha. Confiem em mim, esta receita é saudável, gostosa e de belo efeito em qualquer mesa... heeee, livro.

Ingredientes;

.uma taleiga de humor integral, directamente do moinho lá da terrinha
.bastante fermento fresco de espírito crítico
.palavras da horta (também frescas, claro)
.água da fonte ou uma boa pinga, conforme o gosto, para ligar
.um pedaço de imaginação ao natural
.piri-piri q.b. (opcional)
.sal marado (ai, marinho!), para temperar. Há quem prefira a versão doce, neste caso junte um pouco de açúcar mascarado (ai, mascavado, poça!), mas não exagere, pode enjoar.

Confecção:

Inspire(-se).

Amasse o humor com o fermento de espírito crítico (não maligno!). Molhe o bico, para melhor eloquência, na água ou no vinho, e deixe a repousar.

Amanhe as palavras, cortando-as em pedaços idênticos.

Junte a imaginação, o toque picante e o sal, que convém não ficar ensosso, o nosso acepipe. Mesmo que opte pela versão doce, um pouco de sal só lhe acentua a doçura...

Agora tenda pequenos versos, arranjando-os em rimas graciosas e leve ao papel.

Logo que saia do forno, sirva com uma boa gargalhada (ou, pelo menos, um sorriso...).


Bon appetit!!


Como sempre, aqui deixo a "fotografia" da minha receita, acabadinha de fazer. É claro que às vezes me sai melhor. Isto da culinária, é como um laboratório de ensaios: há misturas e há reacções... imprevisíveis.

Poema em três tempos e meio

I
Os teus olhos, de tão meigos,
Adoçam os meus sem querer,
E dos olhos para os beijos
É só mel a escorrer...

II
Os teus lábios são tão doces,
Sabem a licor de mel,
Donzela, se minha fosses
Ofer'cia-te um anel!

III
Ai, o teu corpo é tão quente,
Incendeia-me os sentidos,
Meu amor, de tão ardente,
Queimei-te xaile e vestidos!

...

I/IV
Ó mulher, já m'enjoei,
Tanto açúcar fez-me mal,
Vende o anel que te dei,
Compra uma rasa de sal!

I/II
E j'agora um abanico,
Que tão perto m'afogueias,
Partilharmos o penico
Fez-me sofrer de apneias...


T.T



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