individualidades de uma senhora loura.

Data 18/08/2010 22:10:59 | Tópico: Textos






o homem, de óculos redondos, sorri do outro lado da mesa, com artefactos difíceis de nomear e algumas deixas, ou queixas. a senhora loura, sentada na sua frente, tem três quadros à cabeça, simplistas, minimalistas diria, se isso fizesse alguma diferença na descrição. no primeiro encontra-se uma bela dama, no segundo a mesma bela dama, no terceiro, espante-se, a mesma bela dama. de olhar fixo a senhora loura pousa as mãos nos joelhos, esquece os quadros. a um canto da mesa dorme uma engrenagem de intenções, dizem-me que mede os sentimentos. não acredito. para meu espanto o homem de óculos redondos levanta-se, chega-se a mim em passo lento, fala do tempo. pior que o sol só a água, quando é fria. respiro. respiro de novo. diz-me que o peito é grande, digo-lhe que sim, que assim me protege melhor o coração. o homem ri. a senhora loura ou não ouviu a piada ou está alheia, os olhos postos nos móveis, sossegada. inclina um pouco a cabeça para a direita, de onde vem a luz. os contornos da face similares a uma sombra parada. dessas sombras que nos perseguem. estáticas. memórias. e o homem de óculos redondos indiferente fala, de outras coisas mais reais, como dormir. esqueço-me dele, preciso. sou de outro lugar, onde se cruzam dois barcos num horizonte muito azul. onde há a senhora loura que me chama. subitamente deitada, corpo virado ao contrário, tudo muito branco, tudo muito branco e o olhar deserto. uma voz irrompe os meus pensamentos. que pior que o sol só a água, fria. vou outra vez para o lugar exacto onde dois barcos cruzam um horizonte muito azul. respiro. respiro de novo.







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