Vozes (Versão YouTube)

Data 19/08/2010 21:04:23 | Tópico: Poemas



Vozes

Já me deixei de ser, partilho-me, dou-me,
deixo que no meu corpo nasçam prazeres ocultos.
Inocência do infante recém-nascido, trazido pelas marés,
filho do vento e da tempestade, mago por nascimento.
Atormentam-me as ausências em conflito, as marcas e cicatrizes,
na pele amarga, amenizada pelo tempo, confusa nos ecos calmos.
Ouço-me para me voltar a calar,
falo de sementes de nascimentos já abandonados,
sentimentos de fúria leve, que renascem em cada memória.
Garras de animal selvagem, plumas de aves santificadas,
santuários ao relento, sem tectos para a lua cheia.
Vozes límpidas, quebradas nas nascentes, libertas pela corrente,
vozes abafadas, queimadas nos braseiros, acesas pela chama,
vozes de requinte, petrificadas nos tempos idos, inertes.
Roda o movimento interno, revolvem-se-me as águas dentro.
Hipócrita movimento, certo do momento fugaz.
Eternizo-me, exorcizo meus fantasmas. Não me pertencem.



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