Antónia

Data 22/08/2010 18:36:04 | Tópico: Textos

Seria mais fácil odiá-lo. Reduzi-lo à insignificância de quem partiu por iniciativa própria sem deixar grande marca.
Talvez se se esforçasse um pouco conseguiria até rever mentalmente todos os seus defeitos, manias e vícios irritantes que davam com ela em doida.
Seria mais fácil esquecê-lo. Isso sim! Mandar para o diabo as recordações mornas ainda tão presentes. Desapertar os laços, os atavios, os nós que lhe castravam os modos. Obliterar de vez a dor excruciante que a falta dele lhe infligia sempre que ela caía em si.
Mas não. A cada gesto, a cada palavra, a cada pestanejar, era o azul-estrela do seu olhar que lhe banhava o pensamento e lhe compunha os dias. E ela, acomodada, não sabia viver de outro modo. Sequer tencionava mover um grão de areia que fosse para que as coisas ganhassem nova forma. Só assim sabia ser.


Nota: Este texto foi postado inicialmente com título "Habitude"


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=147463