Orfismo

Data 22/08/2010 19:54:52 | Tópico: Poemas

Tão imponderável o destino,
quando damos a mão a este menino

travesso...

Vira-nos a vida do avesso
vai e vem sem avisar
tropeçamos neste solo fino
que quebra-se ao pisar.

Este doce desatino
este verbo que não mais rimo
e nem ouso mais conjugar.

verbo viperino
este verbo amar.

Mas é um doce vício
sempre um fim e um iníco
aqui, ali, acolá,
sim, sempre agora, para já.

verbo, filho de cérbero
até o Hades há de me acompanhar.

Morro que nem Orfheu
chorando porque enfim conseguiu
encontrar seu amor que partiu
que no Hades duas vezes faleceu.


E viverei tal qual Orfheu no orfismo
ajudando com o que não preciso
precisando do que ninguém me deu
morrendo cantando a morte do narciso
este amor indeciso, que louco se perdeu.

E então, recolhe-me a minha canção
e rio do velho carvalho
que não calou-me a voz
preso a mim qual o rio à foz.

Escutando-me com atenção

Triste Nêmade sem coração
que tenta matar-me
por não poder amar-me.

Ou apenas por não ter sabido dizer não.

Que seja, pois é em vão
minha lira canta e viceja
enquanto pulsa meu coração
A vida vem e me beija
ensina-me a nunca dizer não.



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