Princípio Inteligente?

Data 27/08/2010 12:29:25 | Tópico: Poemas

Mais um dia chega ao fim.
Porque respirar as vezes cansa?
Porque sentimos saudade do que não temos?
Porque vivemos em tantas metades e não nos vemos nos excessos que assumimos naturais?
Porque? Porque roda a cabeça que nem moenda e repete o mesmo gemido
enquanto o boi que a movimenta vocifera sempre o mesmo mugido
e a alma não acredita na verdade dos grãos esmagados que fazem a farinha que a alimenta.
Porque simplesmente não ver o sol se por em silêncio?
e gritar palavras para si mesmo na imensidão da casa vazia?
Para não sentir-se só?
Para saber-se vida? E quando sente-se vida, ela sangra por tantos poros alheios
que dói passar no corredor da desolação,
mesmo sabendo que sua cadeira lhe aguarda em outro cômodo
mas nem por isso menos incômodo,
Mas a dor de doze horas sobre os pés embalando a morte não é o suficiente?
Escorre pelas mãos a necessidade urgente de vida.
Hoje foram tantos esquifes pesados à carregar esperanças perdidas.

Encolho-me em minha manta, saio ao vento para ver o sol se por em um céu cinzento.
Queria tanto uma mão para segurar-me no ar...
Mas apenas a minha mão me acena.

Lembro as veias da américa latina sangrando nos braços daquele pequeno sem escolha
secas, tortuosas, de difícil punção, desidratadas.
Porque não podemos engarrafar a vida, lacra-la com uma rolha?
Basta encher pacotes de algodão de farinha de oportunidade e distribuir no Natal?
Talvez a páscoa resolva com ovos de chocolate e laços coloridos
os furúnculos doídos de uma vida sem calma
que luta pelo sustento sobre mais uma agonia, ao vento...
Segurando esquifes ansiosos por mais um dia.

E tudo é tão imenso e tudo é tão intenso
e ao mesmo tempo frágil e inconstante...

Afinal? Qual o princípio inteligente nisso tudo?



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