visão

Data 29/08/2010 17:01:17 | Tópico: Poemas

sereno o meu estado.

sereno como um adro
de uma igreja
onde cabeças decapitam
mãos dextras
como esta.

sereno o alçapão
por onde escorrego no sangue
e onde depositam depois
o corpo exangue.

sereno
o meu coração .

praticam
o arrancar das línguas
o esticar dos ossos
o queimar das peles

sem remorsos

e no furar dos olhos
caiem as almas aos molhos
dá-lhes o assassino
a vida eterna

a absolvição.

por deus
por amor aos teus
pelas ideias justas
do teu ódio

ou por prazer

santifica-se
um carrasco
e acendem-se candeias
tão depressa
como se condena
um cristo nunca visto
e se carregam cruzes
num misto de luzes
e hinos de salvação

assim segue pela sombra
que se tomba
pelo caminho que adivinho
a medieva procissão.

enrosco-me na serpente divina
encorporo o mal da vida
a minha e a tua sina
levo asas sobre as casas
e subo ao céu

intoxico o corpo
no cheiro a incenso
enquanto penso na morte
no senso,no juízo
na humana sorte

no paraíso do amor
nos espinhos que piso

todas as feridas abertas
ao calor do mundo

joelhos rastejantes
bocas em credo
bocas em medo
o desespero
nas últimas rezas
de um moribundo

não há qualquer resto de luz
no olhar que te seduz

só a velha cegueira das formas
e um sonho, uma ânsia de paz
que jaz em não ser
humano jamais
em suas leis e suas normas.

cada prego em cada mão
e um terceiro unindo os pés

e uma maré a dizer-se
perdão
e uma onda enrolada
em união

que te pensa

real engano:

ser quem és.



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