
Tédio
Data 31/08/2010 11:04:25 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Tenho sono Não sono de dormir Sono de tédio Mas ao mesmo tempo não desejo sair deste confortável estado de solidão Uma inércia tão grande toma conta de mim Não desejo ninguém Não quero ver ninguém Nem meu rosto ao espelho que mostra a barba que deixei dias e dias por fazer Olho a minha volta sabendo que não verei nada do que não vi a pouco quando fiz o mesmo movimento O dia é claro Dia de sol, é verão Na praia alguém se diverte Alguém ri Brinca Mas eu prefiro estar aqui na sombra da minha casa empoeirada Aborrece-me tirar o pó sendo que eu sinto-me cheio de pó Não vesti-me Permaneço com a roupa com que dormi Não liguei o rádio Para quê? Sai da cama em direcção a cozinha para comer algo mas perdi-me pela sala Fiquei no sofá a encher meu cinzeiro Não abri janelas Mesmo não estando morto sinto que morri Mas tanto, tanto, tanto que vivi Que apetecia-me ter morrido num desses dias cheios e felizes da minha vida Qual cheios e felizes? Sempre carreguei uma enorme tristeza dentro de mim Desisti de livrar-me dela Entreguei-me a ela Porquê não Ninguém consegue ser quem não é E se eu sempre fui triste Porquê hoje e daqui por diante deixarei de ser Não será a felicidade o reconhecermos o que somos e gostarmos do que somos Pois eu gosto de ser triste Gosto do tédio e da solidão Não me venham dizer estas com má cara Roubar-me o prazer de não fazer nada Privar-me da minha solidão
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