Cartas para ti (II)

Data 03/09/2010 11:56:33 | Tópico: Poemas

Cartas para ti

II

Mesurado tempo. Embutido na palavra e na viagem que no papel se desenha. Haverá alguma forma arcaica, violeta ou tenaz de pintar as letras da saudade? Se a saudade tivesse cor, o uivo seria ácido como a laranja caída nas margens do sonho.

Mesurado sonho. Embutido no inconsciente da mente e na ternura do silêncio da voz opaca que rendilha a noite. Haverá alguma configuração tenebrosa, saliente e crente para avivar as letras da noite? Se a noite fosse um caminho de aventuras esventradas, já perdidas como um limão pálido e doente que morre lentamente no chão do nosso quintal. São tantos, os que morrem lentamente, como os quintais incoerentes que plantam ansiedades desfiguradas, preenchidas de dor, que na noite escondem o sofrimento.

Não há tempo. Não há sonho. Nem tão-pouco palavras!

(Já te disse inúmeras vezes)

Se ousares responder-me, envia pelo mensageiro um pouco de sorte, um tanto de fragmentos de histórias e muitos ventos, quero sentir a tua força e o teu amor.

Não te esqueças do beijo que roubei da boca da última laranja que morreu no sonho do tempo mesurado e afaga-o com esse olhar que a distância carpiu.

Ainda estou perdido no mesmo templo das palavras e sinto o marasmo meio cálido, quase doente, desse limão amargo que roça o trilho. Oiço esperanças. Oiço os movimentos do meu corpo que cavam um estado de ansiedades. Ainda abraço o tempo!

Eduardo Montepuez


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