VERTIGEM ANÓNIMA

Data 03/09/2010 20:16:19 | Tópico: Poemas

Sigo o rumor cego dos dias curtos
que se esfarelam nos dedos enrugados
de um demónio que habita um saguão de sombras,
por detrás da porta onde pulsa o cabide
em que penduro, ao fim do dia, o rosto que não rima.

Às voltas ainda com a inércia das palavras,
tropeço na abstracta caligrafia da névoa
e na paisagem abandonada dos meus passos,
quando o vento se levanta, sonâmbulo,
nos patamares gastos dos parágrafos cinzentos,
e um coro de vogais soletra na encruzilhada
a derradeira luz do dia.

Nenhuma palavra me diz quem sou,
nenhum verso sabe o que faço aqui,
nesta folha suja onde nada escrevi;
tinta seca que o vento corrói
no empedrado dos fonemas onde me perco.

Persigo uma estrofe de incertezas,
através da maré de pontos de interrogação,
e me afundo num labirinto de sílabas,
sem atinar com o caminho
que me leve ao final do poema
ou me faça regressar à luz do primeiro verso.



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