Balada de um homem acompanhado

Data 05/09/2010 22:11:56 | Tópico: Poemas

Que triste é a alegria
Que lhe enche o âmago
E açoita o estômago
Com as farpas que digeria
À sucapa dos olhos gerais.

Envinagrado, o cheiro,
Cresce sempre mais
E envolve-o por inteiro
Bordando-o em ferida.

Nunca se sentiu sozinho,
Era dos que vivia a vida
Comendo-a bocadinho a bocadinho
Sem que olhasse a avisos,
Sem que se detivesse em cuidados
Que lhe pudessem desviar a liberdade.

Fazia-se alegre, a tristeza,
Sempre fina acompanhante de todos os dias
Que ao livrá-lo de mais companhias
Lhe cozia a crueza,
Tão natural à sua raça de rua.

Sem medida, limitava-se a imprecisão
Em passos de alma nua
A colar-se-lhe pela mão,
Amparando as quedas desamparadas
Sobre o alcatrão negro e molhado.

Entre o nascer e o viver
Nunca ninguém o tinha ensinado
Sobre a necessidade de se merecer,
De querer mais do que o que se quer,
De ser mais livre do que se é.

Valdevinoxis

(reescrito)


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