Mercado d`almas

Data 15/08/2007 10:53:45 | Tópico: Poemas

Saí da barca, estava só
Atravessei a cidade, estava vazia
Calor intenso, tudo derretia - até o sol
Nada se ouvi, somente o assombro do silêncio
Nada se movia, nem os passos da minha sombra
(acreditar na existência cuja sombra não se vê?)

Ecoa um pensamento:
"ninguém..ninguém..."
Mas era falso, completamente falso
Um chamamento confirma a minha existência
Eis que surge do vazio
um cenário terrivelmente envolvente
sem noção de espaço, sem noção de tempo

Um vasto balcão corrido
com todas as iguarias que se possa imaginar
Peguei num cálice de sangue - o calor e a viagem fizera-me sede
Só aquele licor poderia apaziguar o interior da chama que trazia

"Couverts" de nomes caóticos
bolinhos de cinzas d´ossos
serpentes "au veneno fresh"
almas penadas, laminadas, salgadas
corações mordidos à dentada - ainda a pulsar
cheiro a bolores, senti-me a extasiar

Ofereci o pulso, pactuei com o demónio
música, risos, gargalhadas - que festim infernal
suguei sexo oferecido como prato principal

Fui percorrendo o balcão corrido
parecia não mais acabar
Tantas iguarias "pronto a comer"
comprar, vender, trocar
em frenesim de dança louca
até à sobremesa chegar
e, corpo de cristo comungar.


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