
Virar a Página (Mário Benedetti)
Data 11/09/2010 11:10:52 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| 
É meu lugar meu céu meu travesseiro meus insultos
sou quem sou porque os outros são há uma história em cada amanhecer e em cada transparência do crepúsculo
estive doze anos sem virar esta página esperando sua letra suas estampas imaginando coisas que não diz mas que eram igualmente certas
sem virar esta página ninguém pode ser alguém
pode somar paisagens espigões torrentes multidões fronteiras pode colecionar amores e sabores aplausos e vaias manjares e esmolas os rumos os atalhos as diferenças as indiferenças a solidariedade e o exorcismo as ofertas saborosas os escândalos os dedos que assinalam e os braços abertos as decepções e as recompensas as recusas e as convocatórias e no entanto é verdade sem virar esta página, ninguém pode ser alguém. Mario Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio, profundo conhecedor da América Latina e de sua literatura. Dramaturgo, poeta, ensaista e novelista, Mario Benedetti logrou boa parte de sua popularidade com seus contos: Esta manhã (1949), A última viagem (1951), Montevideanos (1959), A morte e suas surpresas (1968), Geografias (1984), e outros - nos quais captou aguda e sutilmente os pequenos fatos da vida cotidiana do homem comum de seu pais.
Este poema faz parte Do livro "Perguntas ao acaso", com tradução de Julio Luís Gehlen.
|
|