
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO
Data 11/09/2010 21:58:18 | Tópico: Poemas
| Soa-me a pérolas falsas a cantiga matinal dos búzios anunciando num sopro de vento o retorno miraculoso dos navios. Olho em redor e apenas vejo a inquietação salgada das marés a devolver às areias da praia os vómitos contaminados da ondulação e um rasto de conchas amputadas.
Numa vertigem de águas estagnadas, o êxtase demagógico dos caranguejos no lodo da praia-mar, anuncia um principio de nada, uma cacofonia de algas mortas; promessa sempre adiada de um sol que nunca chega.
Sobre as tábuas velhas do pontão, o temporal iminente ergueu uma muralha de nuvens fechando a cancela do horizonte. As gaivotas, incapazes de alçar voo, aninham-se no escuro à volta de uma réstia de despojos e a luz baça do farol afunda-se numa noite de espuma, junto às quilhas desmanteladas dos barcos que enferrujam no cais, sem sombra alguma de esplendor.
Mesmo que diga o contrário a cantiga matinal dos búzios.
|
|