SEM PALAVRAS

Data 17/09/2010 19:17:13 | Tópico: Poemas

Sinto demais a ausência de minha mãe, que partiu recentemente, numa tarde de domingo, após termos nos divertido juntas, ido às compras, cinema e casa de amigos, no dia anterior.
Éramos essencialmente uma na vida da outra e, de repente, assim, meio que me pregando uma peça ou me passando uma rasteira, ela se foi.
Um amigo muito especial, meu mais querido poeta, ontem me disse, em nossas reconfortantes e deliciosas conversas diárias, para que escrevesse sobre a saudade, sobre o que me faz senti-la viva ainda em mim, afim de que eu me liberasse um pouco desse luto.
Só faço chorar ao relembrar os momentos alegres e também as brigas que tivemos. Sou ariana, ela leonina. Dà pra imaginar que às vezes botávamos fogo em gelo.
Quem sabe, ainda um dia, eu consiga, em versos, registrar o que vai agora em meu coração.
A poeta queda-se silente, respeitando a dor, digerindo a ausência e amando, calada, para sempre, sua querida mãe.
Enquanto isso, sirvo-me das palavras divinas e mágicas de Carlos Drummond de Andrade:

Para Sempre (Drummond)

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

São Paulo, 17 de setembro de 2010.



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