Criança: Porque não posso sorrir?

Data 18/09/2006 01:46:59 | Tópico: Mensagens -> Amor


I
Criança que faz arte, levanta e parte – vai para marte.

É seu estandarte; a flecha e o bacamarte – um peixinho espadarte.

Alegria reparte e coleciona no encarte – me livra do enfarte.

A felicidade comparte; não quando a tocaste – chora porque a ansiaste.



II

No mundo tem a missão, muita ilusão – um grande coração.

Sofre aflição; foge da agressão – detesta injeção.

Criança alta ou não; no desenho o cascão – sofre o anão.

Sofre opressão; dói o pai na prisão – trilhou a perdição.



III

Muda e sem audição tem aptidão – será um artesão.

Criança com intuição, sofre a intimidação – sangra no arpão.

Dói a luxação, se tomam seu pão – já tem marcas da mutilação.

Sente a judiação; o professor mandão - o pai patrão.



IV

Criança inteligente; sempre comovente – sabedoria de descendente.

Mesmo doente, sempre contente – é sempre onipotente.

Na vida crescente; não tem contingente é crente – mesmo carente.

De todos confidente; da sabedoria expoente – sua voz é fluente.



V

Criança valente, sentinela vigilante – vidente e saliente.

Pura e inocente, brinca com o pente - gosta de refrigerante.

Na ajuda é assistente; sempre conseqüente - não foge do batente.

Estuda bastante; limpa e escova o dente – com o banho exigente.



VI

Criança que ama o pai, chama quando diz ai – anda e também cai.

No colo sempre vai, pede carinho papai! – também o distrai.

Diz o pai: com anjos sonhai; a benção alcançai! – Oh! anjos cantai!

Mãos; aos céus levantai, olhos; para o alto olhai! - nas nuvens navegai!



VII

Criança desaparecida de todos esquecida – mal vestida.

Diferente e parecida, com saúde e ferida – oh! senhora Aparecida!

Clara e enegrecida, alegre e aborrecida – a queixa é quando ferida.

Entristecida, sem alimento abastecida – com fome dói a barriga.

Feliz pela vida, mas triste por ter nascida – chora sem saída.



VII

Que levanta de madrugada, trabalha algemada – fica aleijada.

Do pai a chinelada; do padrasto apalpada – a inocência ultrajada.

Criança acoitada, judiada – pela mãe desrespeitada.

Pela madrasta abusada ou no mundo largada – pelo mau é puxada.



VIII

Infância mal passada, por muitos pisada – no escuro é tragada.

Criança da pesada, molhada, mal olhada – de lado é deixada.

Do lar arrancada, pé na estrada – é longa a caminhada.

Com isca cevada; com droga viciada – na vida tatuada.



IX

Criança feliz; brinca no chafariz – outras com o giz.

Vou ser atriz, arrumar o nariz – olha os quadris.

Vou ser um Juiz; no sapato verniz – serei bom aprendiz.

Ou embaixatriz; vai! Deus te quis – fica longe dos imbecis.



X

Criança linda, seja bem-vinda – outras, não ainda.

Fique na berlinda; o espelho te blinda – mas não finda.

Os olhos do mundo brinda, mas é cedo ainda – vem minha linda.

Sua infância intervinda; do amor não cinda – mas é cedo ainda.



XI

Criança! seja forte, te desejo sorte – homem deporte.

Pratique esporte; vá até o norte – use o transporte.

Não se importe, as dificuldades recorte – de frente aporte.

Tire o passaporte, nas dores suporte – ferramentas importe.



XII

Criança! virão as dores; mas também as flores – mais tarde amores.

Vem os caçadores, os roedores – cuidado nos bastidores.

Verão os ditadores, fuja dos raptores – a escada dos horrores.

Tem os palpa dores, sobem os elevadores – finalmente os matadores.



XIII

Criança adotada, bem dotada – a mal tratada.

Criança achada, aleijada – pelo mundo abalada.

Criança inventada, pelo frio gelada – sem roupa desnudada.

Expatriada, bombardeada, sem lar pisada – pela dor picada.



XIV

Criança salgada, pela ignorância tapada – na tristeza selada.

Criança violada, do lar tirada – por ser pobre zombada.

Criança da calçada, sem esperança sentada – a zombam de safada.

Criança da beleza cegada, a vida a ela foi negada – pobre desgraçada.



XV

Criança querida, para ela sorri a vida – do conforto embebida.

Nunca teve lombriga, no berço de ouro foi trazida – no conforto parida.

Sem dores acolhida, seus desejos sem medida – seu pai tem uma jazida.

No conforto desmedida, desconhece a dor da vida – cuidado! tem descida.



Epílogo:

Desculpe; também não era o que eu queria.

Pensei fazer um poema feliz para quem lia.

Que tivesse motivo para que ao ler você sorria.

Sobre criança só tem temas que me angustia.

O mundo tem sido muito mau com suas criança.

E em muito poucos rostinhos pode se ver alegria.

Precisamos gritar hoje; para no futuro ver esperança.




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