Kafka Comigo

Data 22/09/2010 23:47:24 | Tópico: Poemas

Defronte a um lago gigante e límpido,
Detonando mais um maço de cigarros,
Sem me deter com os ruídos dos carros
Que vão levando, lentamente, meu juízo,

Vejo, na grama, uma manada de formigas
Numa labuta danada sob o sol escaldante
Com uma força relativa de um elefante
Numa laboriosa, agigantada e fina fila,

Cegas sem saberem o que querem
E onde vai dar toda aquela labuta.
Eu, que sou mais um filho da puta,
Não quereria ser uma formiga saúva.

Eu não.
Eu preferia ser uma barata bem graúda
Com as pernas peludas, porém compridas,
Vestida com bombachas a moda gaúcha
A vadiar por aí, pelos tantos palcos da vida.

Levaria minha guitarra argentina (antiga)
Meu bumbo feroz e mui gigante
Gritaria para os mil um alto-falantes
Que trabalhar noite e dia não é minha sina.

Que chegue o inverno rigoroso em minha casa.
Que minhas cômodas estejam todas vazias.
A poesia me serve como poderosa fornalha
O meu alimento serão essas maus traçadas linhas.

Kafka que o diga.




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