Arcos (Octávio Paz)
Data 25/09/2010 16:27:06 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Quem canta nas ourelas do papel? De bruços, inclinado sobre o rio de imagens, me vejo, lento e só, ao longe de mim mesmo: 6 letras puras, constelação de signos, incisões. na carne do tempo, ó escritura, risca na água!
Vou entre verdores enlaçados, adentro transparências, entre ilhas avanço pelo rio, pelo rio feliz que se desliza e não transcorre, liso pensamento. Me afasto de mim mesmo, me detenho sem deter-me nessa margem, sigo rio abaixo, entre arcos de enlaçadas imagens, o rio pensativo.
Sigo, me espero além, vou-me ao encontro, rio feliz que enlaça e desenlaça um momento de sol entre dois olmos, sobre a polida pedra se demora e se desprende de si mesmo e segue, rio abaixo, ao encontro de si mesmo. Octávio Paz, poeta humanista mexicano, poema escrito em 1947, dedicado a Silvana Ocampo, Tradução de Haroldo de Campos.
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