ÔNIX/Dakini/Epifania, em trio - Revelações íntimas

Data 25/09/2010 19:29:45 | Tópico: Textos

ONIX - Escrevo-vos porque assim é melhor para mim. Expressar o que sinto e sem interrupções de qualquer espécie, é uma vantagem atingindo os limites impostos por um outro olhar, enquanto se renovem novas espécies a quebrar as regras do inconstante movimento, sempre que nos voltamos para o exterior. Sempre que vos olho na vossa nova vida, fico com a certeza cada vez mais acentuada, de que dúvidas não tenho, quanto à nossa permanência no sentido evolutivo. Sei que são sempre as aproximações de outros, que nos farão enxergar o além que está tão próximo, quanto o clímax de dois corpos a expurgar todos os credos em cruz, enquanto o além se divide em pontos equidistantes. Sei, e sei que sabem também, que sem essas pessoas, não seríamos mais do que esboços levemente traçados num conjunto abstracto, a tentar atingir o concreto e o definível, sem nunca chegarmos ao ponto de encontro que nos mereça. Digo-vos isto, porque agora que estou além dos limites do eu, dá para fazer viagens, traçando novos limites consoante os movimentos que dou aos olhos, acentuando espaços fechados e concentrando-os num único e novo olhar.

Dakini - Concordo. No entanto, há aquele ditado que diz: “Figura caída, pétala amarelecida”. Há quedas que são uma fonte de vida - Aquele que a leva o vento, e a transforma, é digna de um bom momento. Esquecer a Primavera que lhe deu vida, é ir ao fundo de um abismo e ficar lá esquecida, de que há novos tempos e novas estações a desenterrar, do mundo que as pariu. Breve, muito breve, terei muitas folhas caídas nesta cidade que meus pés pisam, num piso ressequido pelo verão. Terá uma nova cor. São estas cores diversas que me levam a acreditar que os olhos da Epifania, serão sempre o inicio de tudo, conduzindo-nos para outras cores. Consoante os momentos que nos trazem bons momentos, outros nos levam para lá de uma qualquer figura abstracta. Figuras que se juntam a outras que deixaram de ser mera figuras, para passarem a ser um conjunto de imagens dispostas a deitar por terra, todas as figuras criadas à imagem de um só momento. Lembro ainda que a Epifania, ficou lá atrás na cor verde.

Epifania - Tens razão. A cor verde, está para mim, muito próxima do amarelo, que é uma cor de eleição aos meus olhos. O branco que lhe deu origem, está perto de se alterar para o que a natureza tem para lhe dar. Mas essa, precisa sempre de novos tons, para que atinja a maturidade suficiente, e saiba que as cores são um reflexo da sua visão. Há as noites que se abrem para que saiba onde ficou o dia, e há o dia que lhe fornece todos os ingredientes, para que brilhe no escuro. Por isso, a noite é o meu refúgio. É lá que me renovo transmutando as cores. Vou entrar agora no amarelo e através desta cor, pensar no sol como uma fonte de vida, fazer do passado, um passado a perder de vista, e construir o presente com novos momentos.

Ainafipe - Se pensarmos, no que os vossos olhos se limitam a observar, sem no entanto conseguirem ver nada do que observam…Sei da vossa insistência em permanecerem num plano desintegrado, mas olhem bem para mim e sintam, se o que vos tenho dito não é a mais real imagem que poderiam ver. Aqui não há cores, odores, sons, ou espécies a renovar a minha visão, mas sim figuras a cair no vazio. Entram no limbo dos sonhos e já nada resta, a não ser esperar pela constatação de que já foram imagens duplas, num tempo marcado pelos meus olhos, após o que, serão uma só, à espera de uma nova espécie até à próxima Primavera, onde as cores serão um simples manifesto dos seus sonhos.




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