POIS NÃO...

Data 28/09/2010 00:11:42 | Tópico: Poemas

POIS NÃO...


Andei meio sumido. Admito
E tudo se escafedeu à minha volta
Mudou cidade, casa, amigos,
Inimigos, abrigos ilusórios, compulsórios...

Resolvi reler velhos livros, novos castigos...
Revi Drummond, Leminsky, Gullar
Eles me bateram, macetaram-me a nuca
Doeu, foi ruim, foi bom, foi humano, foi é pouco...

Mudou um destino, um olhar ao mudar o chão
O mesmo encarar que não reagia por cegueira
Mas era meu, era da situação. Não. Era eu sem visão...
Não havia fatalidade, só um menino numa estrada...

Aos fundilhos dos ouvidos, um grito, uma evocação
Canção do exílio, Sabiá, do Chico, “vou voltar, voltar...”
E o querer era um ostracismo, um retroceder
A autofagia de mastigar os próprios pés

Hoje me redescubro, me decifro, me delato
Um medo claro abscôndito no novo início
Um outro ser que implora por um precipício raso
O mesmo ser que riu num final e não olhou para trás...

“O coração na curva de um rio”, agora canta Milton
E escrevi com ele na curva da minha mão
Um vermelho esquisito escorreu num semitom
Achei algo perdido, agora... Fique esperança... Pois não...



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