NOITE DA NOITE

Data 08/10/2010 23:17:11 | Tópico: Poemas

A NOITE DA MINHA NOITE

A noite irrompeu na janela.
Aconchegou-se ao sofá.
Queria me beber,
Queria me ceiar.

Estendeu seu olhar amalgamado
A piscar um enluarar ávido.
Passou a língua suada de orvalho
Sobre o cerne de meu peito pálido,
Esquálido, cansado, pendido ao fado.

Deitei-me, tomado, à sesta baldia
Da madrugada feita aos passos
De raios de dentes reluzentes
De intermitentes celestes esguias.
Sem desfeita, fui mastigado...

Primeiro fendi-me em planeta,
Depois fraturei-me em cometa.
Enfim consumei-me em estilhaços
D'um violeta meteoro grávido
Povoado de cristais baços...

Plácido, deixei-me trombar de frente
Com minha estrela-guia
Astro frágil de lastro indulgente
Que, em mim, se esbatia
Pelo céu ruço que se insistia
A banhar-me o dossel vago da mente

Riscado ao espaço em hipérbole cadente...
A treva, carente, nutria
Com as fibras do ser que esgotou-se
A boca-da-noite esfomeada
Que, ardente, desavisada,
Sem suplício ou açoite,
Devorava minh’alma que dormia.


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