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 A canção das conchas IIData 10/10/2010 01:53:20 | Tópico: Poemas
 
 |  | II – 
 Segui a senda da verdade proscrita
 Agarrado à casa mítica, aracnídea.
 Frágil lar de regenerências mil,
 Insistente orgânico, porém fatal.
 
 Rompi o hímen da mentira infinita,
 Estiquei o cordão tênue até o início – Encontrei,
 Neste orifício que sucede ao corte – a mancha escarlate
 Da mansão sem quartos
 No abismo de uma premonição.
 
 No berço abracei ursos de pelúcia, seres imaginários.
 Do sonho infantil criei heróis de um mundo extático.
 A criança paralisou-se no interior deste crescimento.
 Abriu-se ao choro do Nascimento sem colo placentário.
 
 Ser-és edênico, ser-és de Marte.
 
 Na música de tempo infinito, um coração bate e luta.
 Contra corpos estroboscópicos, um desejo superior reluta –
 Amarei as sombras desta passagem?
 Em ritos curandeiros, adentro a gruta caliginosa. Assisto:
 
 O nascer em fogo da cura de Asclépio, ou
 O abraço venenoso da serpente arguta?
 Uma imagem de carne feita carne, estigma de barro e lama somente.
 
 Das estrelas vieram às letras do alfabeto,
 De sombras foram feitas as primeiras imagens.
 No limite carnal de nossa fome amante
 Abraçamos a atmosfera do delírio no luto – Noite arrasta drogada
 
 Zumbis olham insones.
 A profundeza alcança Pele,
 O toque abismal do profano.
 Do penhasco despeço, ao infinito
 Um passo sutil, rumo marítimo.
 
 E contra a memória construída na caverna,
 Fiz casa da negação – ponte – atravesso ancestral.
 Rugido pré-histórico acorda gutural. Grito!
 Amedrontada por fissuras, estalactites.
 Esta simples Voz de potência angelical
 
 Observo o teto de todas ausências enquanto giro.
 Ouço o chocalho de conchas que continua lá.
 Perco a serpente do caminho,
 Peço ao prazer que me perca.
 Na turbulencia do coração deste ser-sem-corpo,
 Alma de papel colorido, máscara vitral do descontentamento.
 
 Bebo o Letes das distâncias intransponíveis,
 Anterior que fui ao rosto rasgado por lágrimas...
 
 Busquei na boca escancarada da noite bêbada,
 O alívio oral da criança derradeira:
 
 UM GRITO DE FOGO!
 
 Minhocas cavam veias no interior do colchão,
 A nudez amarrada pelos braços firmes da verdade, grita:
 
 “Já não amo, Sou."
 
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