FELIZ

Data 17/10/2010 00:31:39 | Tópico: Poemas -> Reflexão

Fechei a porta da rua
Fechei as janelas urbanas
Instalei o caos dentro da minha alma
Acendi um cigarro porque em mim nada mais há para acender
Prostrei-me diante do papel
Alguns poemas exigiram a digitalização no disco
O romance gritava afónico por mim
A lua dançava e tentava chamar a atenção

Apenas eu e o meu cigarro

Decidi escrever qualquer coisa
O quê?
Não tenho nada para escrever!
O mais que posso redigir são as dores da minha alma…
Tenho lá alma, por acaso?!
Nem me interessa saber neste momento
Porque raio haveria de ter uma quando todos a têm?
Recuso ter alma!
Assim, depois disto, limito-me às dores…
Mas dores do quê já que fisicamente nada me dói?
Todas as dores são obrigatoriamente físicas ou deveriam
As minhas dores têm a obrigatoriedade de serem físicas
Porque não são?
Porque terão as minhas dores que ser diferentes das dores de toda a gente
Que tem dores reais, físicas e grita de dores?

Aceso o cigarro
Porque nada mais havia para acender
Via o fumo passar por mim
Errante
Perdido em tanto oxigénio
Tanto espaço
Que senti ciúmes de tudo isso não ser um extenso pulmão…

Olhei para a esquerda
A cama
A cama vazia de tudo e de mim
Um leito frio, impessoal, distante
Convidativo a nada!
Apeteceu-me olhá-lo com o desprezo típico de quem por nada se interessa
Fitei-o incólume

Não tinha sono
Porque nunca deverei ter sono
Se trabalhasse?
Não me apetecia trabalhar…

À minha frente a sombra sorridente de uma esquálida solidão
- Ah… Ah! Chegou
Porque não haveria de chegar?
Senti-me bem e feliz
Tinha companhia

antóniocasado


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