.Obtuso.

Data 18/10/2010 12:52:17 | Tópico: Poemas


.Obtuso.

Desfila sonante (milhares de decibéis acima do razoável).
A “lei do silêncio” modestamente o ignora.
Surda-muda só a regra (apenas gesticula inconvenientes realidades)
e os oportunos estrondos ajudam a acobertar...

Daltônico, atravessa o enésimo farol vermelho.
Disléxico, vira à esquerda quando era à direita.
Apoplético, atropela um sagaz cachorro mouco
(A vida nunca lhe caça a carteira).

Tagarela imprecisões com aguda convicção.
Fanfarreia com as pobres vítimas persuadidas.
Ateia fogo fátuo no palheiro, localizando agulhas
que espetam essa bêbeda certeza de ignorância...

Serve olorosas mágoas em avantajadas gamelas.
Nutre almas cegas com temperadas imagens.
Abstrai a percepção de fel que abarca a língua.
Em troca engambelam-no turbilhões de falsos beijos

Assovia frases em galantes sortilégios.
Encanta pedras lânguidas que lhe sorriem.
Mulheres amadas sempre olham para trás:
transfazem-se em sedutoras estátuas de sal...

Aglutina-se em esponjosa poeira estelar.
A lua presenteia-se como madrinha...
Um moscardo-quasar volteia o disco do zodíaco
(mexerica sobre sua bastarda genealogia):

"Irradiou-se que de avô centurião e avó pitonisa
cortaram-se órbitas de mãe hipotenusa e pai cateto
aos celestes trinta graus de um ângulo agudo
(só poderia vir à luz um meteoro que progrediu obtuso)"



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=156009