
ACORDE
Data 21/10/2010 21:10:52 | Tópico: Poemas
| ACORDE
Acordou no antro do sonho Espantado do encanto Do espantalho que o acalentava, Roto, de braços abertos e finos Jorrou seu próprio espanto por dormir
Delirou de dedo em riste Que uma vigília o consagra, Um sol anárquico o ilumina Mas o destino errático que assina Elimina-o da fala livre, retarda E o descontrole o assiste E a utopia escrava o assalta
Pois ele sempre dormiu E as vozes ensonadas que ouve São da bronca tópica que o azucrina A mesma que o faz iludir-se De olhos abertos e cegos Pelos pregos que bate A arregaçar-lhe, à força, As pálpebras do próprio ego
Pergunta-se - Por que insisto? Porque nasci ativo, altivo Mas deliro prostrado na cama dos dias Como um morto-vivo? Ilude-se de que algo nele muda Deitado em lençóis limpos e frescos, Em quarto pintados de arabescos... Pois sua mudança é delírio seco Entornado dos inúteis recomeços
Mas ele, sempre, dormiu... Que acorde, de vez! Que assuma O que é, de pé, diante à realidade Que assista a vida que lá fora existe Além de um pássaro grave Que insiste em pairar cortês No seu espaçoso mundo burguês...
O passarinho, coitado, refém, Mais parece uma mosca De padaria a circundar Um pão fresco e doce... Mas ele sempre dormiu. Dorme farinha, sonha-se rosca Neste delírio adocicado Do inseto que lhe assiste
|
|