
literatura
Data 20/10/2010 17:13:19 | Tópico: Poemas
| O Medo segundo Alexandre O'Neill Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 - 21 de Agosto de 1986) Perfilados de medo Perfilados de medo, agradecemos o medo que nos salva da loucura. Decisão e coragem valem menos e a vida sem viver é mais segura. Aventureiros já sem aventura, perfilados de medo combatemos irónicos fantasmas à procura do que não fomos, do que não seremos. Perfilados de medo, sem mais voz, o coração nos dentes oprimido, os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido, já vivemos tão juntos e tão sós que da vida perdemos o sentido... O Poema Pouco Original do Medo O medo vai ter tudo pernas ambulâncias e o luxo blindado de alguns automóveis Vai ter olhos onde ninguém os veja mãozinhas cautelosas enredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no tecto no murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidos O medo vai ter tudo fantasmas na ópera sessões contínuas de espiritismo milagres cortejos frases corajosas meninas exemplares seguras casas de penhor maliciosas casas de passe conferências várias congressos muitos óptimos empregos poemas originais e poemas como este projectos altamente porcos heróis (o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários (assim assim) escriturários (muitos) intelectuais (o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com certeza a deles Vai ter capitais países suspeitas como toda a gente muitíssimos amigos beijos namorados esverdeados amantes silenciosos ardentes e angustiados Ah o medo vai ter tudo tudo (Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer) * O medo vai ter tudo quase tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar quase todos a ratos Sim a ratos in "Alexandre O'Neill - Poesias Completas 1951/1983”
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