Sozinha no silêncio da escuridão
Data 22/10/2010 18:45:54 | Tópico: Poemas
| Sozinha. Num quarto vazio. Cama desfeita, lençóis amachucados, enrolados, lençóis brancos mas que não anunciam a paz. Anunciam apenas o desejo da luz, anunciam apenas que são neles que os sonhos são sonhados, mas nunca destinados à concretização. A porta está encostada, será que os pesadelos continuarão a entrar? Ou será que é apenas um aviso de que eu estou á espera, á espera de que me levem daqui, deste escuro? Mas ninguém vê. Nem mesmo quem eu quero que veja. As sombras rodeiam-me, são os vultos dos desejos perdidos pela noite. O vento sussurra o meu nome em nome dos segredos perseguidores.
Grito para afastar o silêncio, mas ele volta sempre, ele está cá sempre no fim da noite. Eu tento rir para afastar o desespero, mas ele invade-me em nome das trevas. Eu estou presa dentro de um mundo que odeio, eu odeio a esperança que ora vem ora fica, eu odeio estes desejos indesejáveis, estes sonhos que eu sei que nunca passarão disto, estes fragmentos de felicidade espalhados pelo o chão frio, as memórias esquecidas, as desilusões vivas, o escuro silencioso, a dor invasora. Eu nunca disse a ninguém os meus mais profundos desejos, nunca os escrevi sequer no papel, nunca os deixei escapar por palavras, nunca sairão dentro de mim. E então percebo que ninguém realmente me conhece, nem mesmo quem me conhece melhor, o melhor não chega. Nunca me dei totalmente a alguém, não depois das primeiras desilusões. E nunca deixarei que me conheçam melhor. Não é uma escolha, é intuitivo. Eu queria poder escolher, mas não posso.
Há alguém lá em cima a zelar por mim? Não.
Em tempos fui ingénua o suficiente para a acreditar nisso, pensar que as minhas preces um dia poderiam ser ouvidas ou respondidas. E contudo, sabendo que isso é ingenuidade, eu, por vezes, ainda acredito nisso. Mas essa crença rapidamente vai, como levemente fica.
Laura Justino
|
|