E amar-te em búzios, conchas e desertos ...

Data 23/08/2007 14:19:15 | Tópico: Poemas -> Amor

Das papoilas rubras e dos milhos roxos
busco o substantivo, o sentido
de um Sol cauto em néctares de vinho,
de um passado longínquo e sensual
que adivinho, amado, marcado no teu dorso.

Busco das campinas o som enxuto do restolho,
dos trigos dobrados de joelhos nas várzeas,
em rostos, em gestos, em escombros,
ora dulcíssimos ora arrojados de bruscos,
expressos em marcas acrimoniosas
nas sementes, nas bagas e nas gavinhas…

Das uvas nos lagares o ópio brota,
no sangue negro, a bica aberta, no cálice
do tempo repartido em que me ofereço
em átomos eternos de segundo.

Não sei da fome permanente desta terra,
do cheiro a musgo a escorrer-se lá da serra;
Sei da sombra da resteva na penumbra,
sei do rio incontido em rugas de certeza,
sei das palavras dispostas sobre a mesa,
teia finíssima de linho e seda.

E amar-te assim, a toda a hora;
E amar-te em búzios, conchas e desertos;
E dar-te de mim, baloiço, colo, afecto,
num corpo já por si amadurecido…

E esgotar-me em cada letra do alfabeto …
e desfolhar-te em multipétalas de rosas…





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