
PORQUE FALEI DE AMOR
Data 28/10/2010 02:28:38 | Tópico: Poemas -> Amor
| Por mais distante que um fio de cabelo Esteja de uma nesga de luz solar À porta de um bar vazio A silhueta translúcida de um ausente Arranca a cordéis de linho a solidão
Troça o olhar que se torce com veemência De um estender de mão Quando as unhas são apenas garras visíveis Para arranharem de saudades as costas ao passado
Até os rios suados e ocos presos à garganta Latem nos penhascos da nossa foz Como uivos lambuzados de lua e de alma Porque a alma é o abstracto indefinido De tantas experiências sem sentido Que a haver um nós Haveria um cobertor de dores rarefeito Pelas meticulosas mãos da ignorância
E porque falei de amor Muito antes de saber o que ele representava Nos claustros embriagados do meu sentir Um odor inodoro esbate-se em forma de trovão Sobre a derme mergulhada num cacto erecto Em busca de um plácido jardim infernal
Se falei de amor foi porque nada mais tinha para dizer Nem quando sorvia o teu corpo moribundo de desejo Aberto à passagem metropolitana da minha ansiedade Que se manifesta na eloquência de um beijo
Se me disseram que Adamastor ainda navegava nos meus mares Pronto para dissecar a nau onde me encontrava Também inventaram o prelúdio triste para um fado de Coimbra Trinado por corvos à minha inquietante passagem
Passei... Sentado no beiral de uma nuvem trovejante Aguardo a chuva ácida de um retorno impossível Sobre um miradouro de fantasmas e desejos
antóniocasado
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