
A Doçura da Vida Sem Rumo
Data 29/10/2010 23:51:17 | Tópico: Poemas
| Passa o cão. É um cão assim, forte, destemido, Está sempre pronto ao sexo ou à luta, Não demonstra nenhum traço de carência, Tem a sadia massa corporal bem distribuída, Não é um belo animal, mas tampouco é feio.
Não escapa a um olhar arguto Que se trata de um cão sem rumo - Vive muito bem sem Deus, Não sabe de onde veio, Não sabe para onde vai, Não sabe por que aqui e não ali, Não sabe por que neste tempo e não em outro; E mais: dá ares de não se importar com a metafísica, Ou com o absurdo de sua própria existência - Vive, nutre-se da própria falta de rumo!
Tem os olhos atentos aos detalhes da rua, Mas, como é próprio de um cão, Não se comove com tristezas, Desgraças não lhe ferem a sensibilidade, Endureceu-se na defesa contra os semelhantes; Alguns temem a vagueza do seu olhar - por que será?
E passa o cão. Vai-se, imbuído em seus passos, Curte a desimportância dos olhares, Curte a doçura da vida sem rumo. Vai-se, apenas vai-se. [Um alívio para aqueles a quem sua presença incomoda]
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