
Sem saber a razão.
Data 24/08/2007 13:52:29 | Tópico: Poemas -> Humor
| Vou contar-vos uma agora, Que uma vez me aconteceu. Foi numa triste hora, Em que isto ocorreu.
Uma vez fui visitado, Por uma patrulha da Guarda. Parecia estar a ser assaltado, Por bandidos vestidos de farda.
Por a casa dentro entraram, Sem baterem ao portão. A casa toda revistaram, Atirando tudo ao chão.
Eu, na cama estava deitado. E deitado eu fiquei. Estava tão admirado, Que nem um gesto esbocei.
Da cama eu fui tirado, E por os cabelos trazido. Por os pés fui arrastado, Ficando com o corpo ferido.
Por o pescoço amarrado. E com as mãos algemadas. Por os pés acorrentado, E as costas magoadas.
Fui atirado ao chão, E por botas fui pisado. Deram-me com um bastão, Até ficar desmaiado.
Mais tarde fui interrogado. Muitas perguntas fizeram. Eu já estava todo inchado, Com a porrada que me deram.
Para um calabouço fui atirado. Tive que dormir no chão. Eu ainda estava atordoado, Com toda esta confusão.
A meio da noite voltaram. E repetiram a lição. Só no fim, é que pararam. Quando eu caí no chão.
Eu estava todo amassado, Empenado e todo torto. O meu sangue tinha gelado, Eu pensava que estava morto.
Passou a noite e a escuridão. Eu nem sequer tinha dormido. Não percebia a razão, Disto ter acontecido.
De manhã, fui levado ao comandante. Era imponente e autoritário. Mas não passava de um tratante, Que logo me chamou de ordinário.
Recebeu um telefonema, E olhou-me admirado. Desvendara-se o problema, Eu era o homem errado.
Nem desculpas me pediram, Por terem feito confusão. Não era a mim que queriam, Procuravam um ladrão.
Para a rua fui jogado, Num estado lastimoso. Estava todo esfarrapado, Mais parecia um leproso.
Fui queixar-me ao tribunal. E qual foi o meu espanto. Isso é coisa banal, Disseram-me entretanto.
Sem querer acreditar, Naquilo que eu ouvia. Comecei eu a gritar, Mas ninguém me acudia.
Continuei a insistir. Porque eu tinha razão. A polícia mandaram vir, E fui levado á prisão.
E mais pancada levei, Para ver se me acalmava. Mas eu sempre cumpri a lei, Era o que eu reclamava.
Brutalmente massacrado, Por coisas que já lá vão. Muitas vezes maltratado, E condenado á solidão.
Estive três anos detido, Á espera de julgamento. Sentia-me já perdido, Ao passar tanto tormento.
Leveram-me a tribunal, Para me lerem a sentença. O juiz, parecia um chacal, Mas fui levado á sua presença.
Perguntei-lhe eu então, De que era eu acusado. Ele deu-me um sermão, E chamou-me mal educado
Desordem no tribunal, Atentado á sociedade. Por coisa assim tão banal, Eu perdia a liberdade.
Foi então dada a sentença, Naquele momento preciso. Era uma pena suspensa, Para que eu tivesse juizo.
A desgraça tinha acabado, Nesta mesma ocasião. Eu que sempre fora honrado, Tornei-me depois ladrão.
zeninumi 24/8/2007
|
|