Porque escreves?

Data 01/11/2010 17:21:21 | Tópico: Textos

1.

Estávamos numa roda de amigos, em plena rua junto ao café do bairro, quando um deles pediu a nossa atenção:
- Desculpem-me, façam silêncio, por favor… disse o António
E todos fizemos uma pausa, na palavra, no olhar e na atenção, para que o momento seguisse ao sabor de quem o queria fazer.
- Quero fazer-vos uma pergunta. Pensem na minha pergunta em silêncio, se fazem o favor, e respondam ponderadamente. A pergunta é a seguinte: Porque escreves? – Dirigindo, de seguida, o olhar a cada um da roda em jeito de desafio.
Continuou:
Eu já publiquei um livro. O Eduardo outro. A Ana já vai no terceiro. O Jeremias vai lançar o seu sexto livro. A Manuela acabou de apresentar o seu segundo e ao que parece continua com vontade de publicar mais e o Afonso têm cinco livros e diz-nos que acabou!
Mais silêncio… agora com os olhares a trocarem missivas por descodificar…
- Eu escrevo por amor, amor a cada gesto e a cada palavra! – disse Ana. – É uma boa razão, não é?
Fez-se de novo um silêncio apenas atrapalhado pelos poucos carros que passavam.
Escrevo porque preciso de encontrar leitores! – disse eu. – Também é uma outra boa razão.
Isso é uma boa treta, Eduardo, uma enormíssima treta. – Replicou o António. – Sabes bem que quando começaste a tua escrita não sabias da possibilidade de eles existirem.
Treta é o que vocês dizem! – Oiçam bem, se assim fosse já teria parado de escrever – disse o velho Jeremias. E aumentou o sorriso da sua cara. Com isto, captou as atenções de todos no mesmo momento e num compasso de silêncio disparou de novo:
- Escrevo porque sou vaidoso e quero que me conheçam, que falem de mim e que me considerem, de preferência, como um excelente escritor!
Seguiu-se uma cruzada de palavras.
- Calma! – berrou. – Um de cada vez. Bem sei que a verdade é sempre difícil de ouvir, e que alguns, embora se revejam nas minhas palavras têm medo de o assumir. Mas eu não! E digo-o com a frontalidade que me reconhecem.
Depois sentou-se no muro. Enquanto os outros o olhavam de pé.
- Onde diabo foste buscar essas ideias? – perguntou o Afonso.
A Manuela abanava a cabeça em negação assumida. Começava a dar sinais de impaciência.
Jeremias agora com um semblante mais sério avançou com o olhar para o grupo e de indicador em riste, mas sem nervosismo aparente, disse:
- Se não quiserem fazer uma reflexão sobre a vossa condição, sobre a vossa escrita e sobre a verdadeira razão que vos impulsiona para escreverem, nunca estarão completos e nunca saberão o que vos domina.
- Quem te disse que nunca o fizemos? – perguntou a Manuela.
- O que eu gostava, se fosse possível, era dar essa oportunidade a cada leitor. – disse eu.
- Como assim, Eduardo? – perguntou o António.
Comecei a explorar umas quantas vontades…
- E se o leitor tivesse a possibilidade, em qualquer parte do livro, de questionar o autor? Não seria de todo interessante? Ou mesmo, depois de ler cada livro, não seria oportuno criarem oportunidades de vários leitores interagirem com o escritor?
António fez um sinal com a mão e de seguida disparou:
- Meus amigos, já estamos a fugir ao desafio que aqui deixei, que relembro, consistia numa simples pergunta: Porque escreves?

Intervalo

Esta história está a ser escrita. Está, portanto, em aberto e irá continuar, mas agora é a vez de quem lê ter a palavra… por favor, escrevam o que entenderem partilhar.

Obrigado.
Até já!



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