Bebo de ti, pedra negra ...

Data 24/08/2007 22:05:39 | Tópico: Poemas -> Amor

É constante e rápida a pedra que se eleva
no bico laranja daquela garça que passa
sobre o oiro descendido na planície.

Atenta,
vislumbro sensibilidades coordenadas,
bebo do cálice anil de purpúreas águas,
e amanheço dúbia nas alvoradas do teu gosto,
de fonte pura e convincente.

Bebo de ti, pedra negra, salobra, obscura,
lenta,
lentamente …
No pérfido requinte da lonjura,
filão marmóreo (in) conveniente.

E sobre a esteva magoada,
mordisco, uma a uma, a luz estulta e imatura
dos vulgos caniços de tenras madrugadas.
Enceto comportamentos
em rituais cada vez mais lentos,
cada vez mais largos,
quiçá esclarecidos,
quase diáfanos,
quase sacros,
decantados em arrojos estranhos
de milénios de cuidados paliativos…

E da campina enfastiada,
no tardio de um vento infame e correntio,
no atropelo com que se me esvoaçam os cabelos
e se embaraçam em matagais de silvas,
lobrigam-se por fim os gestos cândidos,
de arrancar à vida, em pinças de caranguejos,
milenares urtigas apensas nos teus beijos.



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